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LITERATURA
Escritor faz crítica aberta ao fundamentalismo islâmico
Nobel da guerra vai para V.S. Naipaul
DA REPORTAGEM LOCAL
O escritor de ascendência indiana Vidiadhar Surajprasad Naipaul, 69, ganhou ontem o Prêmio
Nobel de Literatura de 2001, concedido em Estocolmo no valor de
US$ 1 milhão. Segundo a declaração da Academia Sueca, o prêmio
foi entregue ao autor por sua obra
ter "unido uma narrativa perceptiva e uma incorruptível busca,
em trabalhos que nos impulsionam a vislumbrar a presença de
histórias ocultas". O escritor foi
descrito pela academia como "um
circunavegador literário, que só
se sente em casa em si mesmo, em
sua inimitável voz".
No ano passado, o Nobel foi
concedido ao chinês exilado Gao
Xingjian, num gesto considerado
como claramente político pelos
críticos no sentido de denunciar o
regime de Pequim. Neste ano, a
academia chegou a considerar o
cancelamento da premiação devido aos ataques norte-americanos
ao Afeganistão.
A obra de V.S. Naipaul faz crítica aberta ao fundamentalismo islâmico em livros como "Entre
Fiéis" (81), um relato colhido no
Irã, Paquistão, Malásia e Indonésia, países que visitou entre 79 e
80, e "Além da Fé" (98). Segundo
o porta-voz da Academia Sueca,
Horace Engdahl, "o que Naipaul
realmente critica na cultura islâmica é o traço comum a todas as
culturas de conquistadores, que
tende a oprimir todas as culturas
precedentes".
"Não creio que teremos protestos no mundo islâmico", disse
Engdahl à Associated Press. "Se
eles se dedicarem a ler esses livros,
verão que se trata de uma visão
bem mais nuançada do Islã."
Tido como um dos maiores
prosadores vivos em língua inglesa e um autor polêmico, Naipaul
recentemente protagonizou mais
uma controvérsia na Inglaterra ao
afirmar que o efeito do islamismo
no mundo era "calamitoso",
comparando a fé muçulmana ao
colonialismo. Durante uma leitura de seus livros em Londres, o
autor disse que o islamismo "escravizou e tentou eliminar outras
culturas". "Para se converter, você tem que destruir seu passado e
sua história", afirmou.
Nascido em Trinidad e Tobago
em 1932, descendente de uma família do norte da Índia, V.S. Naipaul viveu no Caribe até os 18
anos, quando se mudou para a Inglaterra a fim de estudar na Universidade de Oxford. Ao tomar
conhecimento da premiação, ontem, o escritor disse que se trata
de "um elogio inesperado". "É
uma grande homenagem à Inglaterra, o meu país, e à Índia, país de
meus antepassados", declarou
Naipaul, que desde 1990 ostenta o
título de "sir", concedido pela realeza britânica, e que ganhou o
Booker Prize em 1971.
Outros nomes cotados para o
Nobel deste ano eram os do poeta
francês Yves Bonnefoy, dos escritores americanos Norman Mailer
e Joyce Carol Oates e do sul-africano John Michael Coetzee.
Considerado por si mesmo como um autor cosmopolita e sem
raízes, Naipaul é uma espécie de
paradigma do autor pós-colonial
e da escrita no exílio, com identidade mista entre a Europa e as
culturas em desenvolvimento.
"A maioria de nós conhece nossos pais e avós, mas nossas origens são mais distantes, remontamos ao infinito: todos remontamos até a origem da raça em nosso sangue, nossos ossos, nosso cérebro. Arrastamos a memória de
milhares de seres", escreveu Naipaul, em "Um Caminho no Mundo", livro de forte teor autobiográfico.
Com exceção de um curto período em que atuou como correspondente da BBC para o Caribe,
desde os 26 anos Naipaul se dedicou integralmente à literatura,
sempre viajando pelo mundo,
prática que considera primordial
para sua literatura.
Brasil
Naipaul tem oito livros publicados no Brasil, cinco deles esgotados. A Companhia das Letras,
editora responsável pela publicação de sua obra no país, diz que,
após a premiação, pretende relançar os não disponíveis.
Seus títulos atualmente no mercado são "Entre Fiéis" (81), "Além
da Fé" (98) e "Índia" (77). Os títulos esgotados são "O Enigma da
Chegada" (87), "Um Caminho no
Mundo" (94), "Os Mímicos" (67),
"Guerrilheiros" (75) e sua obra
mais conhecida, "Uma Casa para
o Senhor Biswas" (61), com a qual
se tornou conhecido para os leitores de língua inglesa.
Além de ter escrito mais de 25
títulos, entre ficção e não ficção,
V.S. Naipaul foi retratado por
Paul Theroux em "Sir Vidia's Shadow: A Friendship across Five
Continents". O livro, um relato da
amizade entre os dois escritores
que se conheceram na África na
década de 1960, é um acerto de
contas das desavenças entre os
dois.
Com agências internacionais
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