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CRÍTICA
Noveleiro bossa nova apela para absurdo
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
E, (quase) no final, mataram
o pobre Fred. O garoto era
um exemplo: sério nos estudos,
bom amigo, amante galante e dedicado. Ainda por cima, foi graciosamente interpretado pelo estreante em TV Pedro Furtado.
Mas acabou morrendo no mesmo acidente que vitimou o espancador e psicopata Marcos
(Dan Stulbach).
Nos últimos capítulos de "Mulheres Apaixonadas", o afã de fazer a audiência atingir alguma espécie de recorde produziu mais
uma solução absurda, numa novela que foi recheada delas.
O incongruente e a incoerência
fazem parte, é claro, dessa ficção
construída aos olhos do público,
testada por especialistas em marketing, regida pelo merchandising.
A telenovela é pródiga em ressuscitar mortos, fazer aparecer
desaparecidos, mostrar caráteres
mudando da água para o vinho
etc. Também estende-se por
muitos meses, e isso acaba por
cansar; é, portanto, necessário
recuperar os espectadores perdidos para outros canais ou atividades recorrendo a recursos os
mais esquisitos.
Em que pese a nota de saudosismo, houve um tempo em que
imperava nas novelas da Rede
Globo o chamado "padrão de
qualidade", e a emissora esforçava-se por levar ao ar roteiros
mais ou menos coesos. Nas últimas novelas, os critérios parecem ter se esfumaçado. É sempre
preciso lembrar que o período do
"padrão Globo de qualidade"
coincidia com o quase monopólio da Globo, ou seja, a pressão
para dominar a audiência era
menor do que é hoje.
A campeã ainda é "O Clone",
de Glória Perez, que, de tão esburacada em termos de coerência
espaço-temporal, fazia parecer
que o Marrocos era logo ali na
Baixada, que uma mulher não
envelhece nada em 25 anos e assim por diante.
Perez manipulou de maneira
tão grosseira as linhas gerais da
história, os personagens, as passagens de tempo, que a novela
parecia ter voltado ao período
pré-Janete Clair, em que Glória
Magadan costurava suas tramas
mirabolantes com xeques e príncipes. A ficção é uma construção,
mas é necessário que o autor firme algum pacto de verossimilhança com o seu leitor/ espectador.
Mesmo numa obra de puro entretenimento como a novela, é
preciso delimitar uma fronteira a
partir da qual a história, no fundo, perde a graça. Quebrar o pacto e inventar para além dos limites pode ser que infle a audiência,
mas corre-se o risco de aborrecer
o espectador.
É um sinal dos tempos que Manoel Carlos também tenha recorrido tanto a esse tipo de solução
barata e perversa. A morte de
Fernanda (Vanessa Gerbelli), as
surras em Dóris (Regiane Alves),
as facadas de Heloísa (Giulia
Gam), as raquetadas em Raquel
(Helena Ranaldi): mais ainda sinal dos tempos, o fato de que todas elas envolveram a exposição
de algum tipo de violência.
@ - biabramo.tv@uol.com.br
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