São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2007

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"Foi das decisões mais pensadas"

Academia diz que escolha de Lessing estava "em discussão havia um tempo" e veio "no momento certo"

Opção foi considerada surpresa por causa de leitorado pequeno da escritora, que disse ter esquecido o anúncio ontem

DO ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

Escritora de leitorado pequeno em relação ao sucesso de crítica e grande número de obras publicadas (cerca de 50 títulos), Doris Lessing alcançou notoriedade sobretudo em sua abordagem da emancipação da mulher, viés de sua obra intimamente ligado à sua vida. Aos sete anos, foi enviada para um internato feminino. Antes dos 14, ela interrompeu sua educação formal, trabalhando em seguida como babá, telefonista, estenógrafa e jornalista.
Teve uma formação intelectual autodidata, a exemplo da sul-africana Nadine Gordimer, agora sua colega de Nobel. Também como Gordimer, Lessing voltou-se para questões como o racismo, sem falar na sua militância comunista e antinuclear. No entanto, acabou mais associada ao ideário do movimento feminista. O que não é surpresa. Mãe de dois filhos, certa vez declarou que as mulheres da geração de sua mãe viram suas vidas parar após a maternidade. "Algumas delas ficaram bem neuróticas."
A primeira aproximação com o tema foi na semi-autobiográfica série "Children of Violence" (filhos da violência), publicada entre 1952 e 1969, em que criou o que a Academia Sueca chamou de "versão moderna dos romances de formação das escritoras do século 19". Com "O Carnê Dourado", de 1962, ela alcançou a fama criando uma espécie de alter-ego.

Esquecimento
Horace Engdahl, da Academia, disse que o nome de Lessing "já estava em discussão havia algum tempo, e agora era o momento [de premiá-la]". "Podemos dizer que foi uma das decisões mais pensadas na história do Nobel", afirmou.
Mesmo tendo sido considerada um azarão, a autora disse não ter se surpreendido. "Isso [estar entre os cotados] era falado fazia 40 anos. Não se pode ficar na expectativa todo ano", comentou, sobre ter "esquecido" o anúncio e saído para ir ao mercado -ela recebeu a notícia, de compras na mão, pela imprensa, na porta de sua casa.
O italiano Umberto Eco, autor de "O Nome da Rosa", elogiou a escolha em Frankfurt: "É uma ótima pessoa, certamente merece o Nobel". Nicholas Pearson, seu editor na Fourth State, festejou o prêmio dizendo que seus livros "mudaram a face da literatura pela descrição da vida interior das mulheres".
Nem todos celebraram. Em declaração ao jornal alemão "Frankfurter Allgemeine", Marcel Reich-Ranicki, importante crítico literário do país, disse que a escolha foi "decepcionante". Para ele, que diz ter lido "talvez três" livros de Lessing, sem ter se impressionado com nenhum deles, o mundo literário anglo-saxônico tem escritores mais significativos.


Leia trecho de "O Sonho Mais Doce"

O jornalista EDUARDO SIMÕES viajou a convite do Instituto Goethe de São Paulo.

Colaborou SYLVIA COLOMBO, da Reportagem Local


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