São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2007

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Cinema - Crítica/"Piaf - Um Hino ao Amor"

Jovem atriz faz solo impressionante

Na cinebiografia "Piaf - Um Hino ao Amor", Marion Cotillard, 32, se destaca ao interpretar a famosa cantora francesa

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Cinebiografias costumam ser patrulhadas com rigor, sobretudo pelas tropas de especialistas no personagem verídico em questão. Pairam sempre suspeitas, por exemplo, sobre o acobertamento de características negativas e informações desabonadoras. Mesmo filmes como "Ray" (2004) e "Johnny e June" (2005), que expõem traços pouco nobres de ídolos da música popular, são acusados de suavizar certas passagens para evitar que os protagonistas se tornem antipáticos. Diante de "Piaf - Um Hino ao Amor", no entanto, é o caso de perguntar: haveria ainda mais degradação a mostrar, além daquela com que o filme se ocupa durante boa parte de suas duas horas e vinte minutos? A Edith Piaf recriada pelo diretor Olivier Dahan e pela atriz Marion Cotillard tem devassados, com riqueza de detalhes, diversos de seus quartos escuros: como filha abandonada, amante, mulher, amiga e cantora.

Infortúnios
Esse tratamento franco dos infortúnios que a vida lhe preparou e de sua tendência à autodestruição nem de longe se aproxima da composição de um retrato negativo, ao contrário. A recriação das dificuldades, internas e externas, obedece ao propósito maior de sublinhar a fragilidade física e psicológica da personagem, bem como o contraste extraordinário que se expressava em sua arte: como aquela voz, apesar de tudo, saía dali para encantar?
Uma coisa tem a ver diretamente com a outra, sustenta o filme, de acordo com a lógica habitual dos superespetáculos biográficos: a grandeza de Piaf como artista se deveu, em boa parte, à natureza tormentosa de sua vida pessoal. A partir do momento em que ela é descoberta nas ruas de Paris, as esferas pública e privada se confundem irremediavelmente, sem que o sucesso em uma consiga evitar o naufrágio da outra.
O vaivém no tempo usado por Dahan ("Rios Vermelhos 2") reforça essa idéia, além de tornar menos esquemática a progressão dramática, alternando subitamente momentos de infelicidade profunda com outros de conexão mágica com a vida. E, assim como Jamie Foxx e Joaquin Phoenix sustentam "Ray" e "Johnny e June", respectivamente, a pequena Cotillard ("Um Bom Ano"), meros 32, faz de "Piaf" um solo impressionante que acentua o caráter humano de sua Edith sem comprometer o entendimento de sua trajetória como uma espécie de graça divina.


PIAF - UM HINO AO AMOR
Direção:
Olivier Dahan
Produção: França/Inglaterra/República Tcheca, 2007
Com: Marion Cotillard, Marc Barbé
Quando: em cartaz nos cines Reserva Cultural, Belas Artes e circuito
Avaliação: bom


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