São Paulo, segunda-feira, 12 de outubro de 2009

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Lulilândia


Com canções irônicas e surreais, pernambucana Lulina lança 1º CD de estúdio após 9 discos caseiros; folk, MPB e indie são referências

Fotos Leonardo Wen/Folha Imagem
A cantora e compositora Lulina no quintal de seu apartamento em SP, na região da Consolação

BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

A Lulilândia é um reino (des)encantado de solo bom para a criação de minhocas. Por ali caminha um príncipe pobretão que não tem cavalo branco. A população local comemora o Réveillon várias vezes ao ano, para esquecer as mágoas. E, enquanto olham para o céu, todos se embriagam com uma bebida chamada sangue de ET.
Lulilândia é também a mente frenética da publicitária Luciana Lins, 30 ("nascida em Recife, mas olindense de formação"), que, nas horas vagas, se transforma na cantora Lulina e cria músicas para os personagens desse peculiar universo. Tão peculiar que ela estreia por uma gravadora com "Cristalina", uma espécie de coletânea. Nos últimos oito anos, ela gravou nove discos caseiros. E como ela criou esse mundo? "Eu era muito inocente quando cheguei em São Paulo. Achava todo mundo legal, fofo.
E também tem essa coisa de que gosto de ETs. Não que acredite em ETs. Quando falo que queria ser abduzida, quero, na verdade, transcender, conhecer outras coisas, abrir o cabeção. Daí começaram a falar: "Essa menina vive na Lulilândia"."
Nos primeiros registros caseiros, Lulina botava o computador entre as pernas, já que a base estava quebrada, tocava violão e cantava em microfone de computador. O esquema surgiu num domingo chuvoso em que estava na casa de um antigo namorado, "sem nada para fazer". Distribuídos para amigos ou disponíveis em sites como o lulilandia.wordpress .com, discos como "Abduzida" (2003) ou "Nublada em Surto" (2004) já continham, em estado bruto, as faixas que foram polidas em "Cristalina".
Se na voz remete ao jeito de cantar baixinho de Fernanda Takai e Nara Leão, nas letras surreais e cheias de ironia lembra a Rita Lee moleca dos tempos de Mutantes. Em cada música está registrado um momento específico da vida de Lulina. É um diário aberto. "Tem música melancólica (que fiz quando minha avó morreu), escrachada, romântica, outras que falam de infância, de doença, de morte. É um sarapatéu."
Quem olhar rapidamente o encarte de "Cristalina", pode achar tudo um tanto infantil. "Tem umas partes mais bonitinhas, outras mais escrotinhas. É uma mistura. Não venha me dizer que sou fofa. Tenho também a parte safada e brava, como qualquer pessoa normal. Não dá para rotular."
"Bosta Nova", sobre o Réveillon, é exemplar dessa verve afiada. Ela canta: "O ano acabou/ Mas eu não acabei/ Quem sabe na contagem regressiva/ Eu exploda também/..../ Na ilusão de que dias melhores virão/ Vou explodir de tanta alegria/ Vou explodir de tanta hipocrisia/ .../ Vou usar calcinha rosa pra encontrar um amor". "A ironia é uma forma inteligente de aceitar as desgraças.
Rir e fazer ironias é um jeito de encarar as coisas de maneira não pessimista", diz a cantora, que veio a São Paulo pela primeira vez em 2001, quando a banda escocesa Belle & Sebastian tocou na cidade. "Quando pintou essa oportunidade de gravar em estúdio, pensei se não seria legal seguir o modelo clássico das cantoras. Mas resolvi me assumir. Tô longe de ser diva. Só se for diva dos ETs (risos)."


CRISTALINA

Artista: Lulina
Lançamento: YB Music (R$ 25, em média)




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