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Para Costa-Gavras, Padilha expõe culpa do Estado sobre violência
Diretor, que premiou longa em Berlim, se diz ansioso por sequência
SILVANA ARANTES
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA
Foi o cineasta francês de
origem grega Constantin
Costa-Gavras que, em 2008,
anunciou o Urso de Ouro do
Festival de Berlim para "Tropa de Elite", de José Padilha.
Costa-Gavras presidia o júri da competição e decidiu
"defender profundamente" a
premiação do longa brasileiro depois de vê-lo duas vezes.
Na primeira, teve "um choque". Na segunda, ratificou a
impressão de que ""Tropa de
Elite" é sinal de um fenômeno
da nossa sociedade [a falência do Estado]", conforme
afirma nesta entrevista à Folha, por telefone, de Paris.
Folha - O que lhe agrada em
"Tropa de Elite"?
Costa-Gavras - O que me
pareceu muito importante
nesse filme é que o Estado
delega suas prerrogativas e
suas responsabilidades à polícia. Ao deixar a polícia agir
segundo sua própria vontade, o Estado, pouco a pouco,
perde o sentido.
Não há Justiça, não há processo jurídico em que a polícia não executa, mas sim investiga e deixa aos juízes a
decisão. É um tipo de relação
como a da guerra.
Acho que "Tropa de Elite"
é um sinal muito particular
de um fenômeno da nossa
sociedade que se expande
cada vez mais.
Muitos críticos acusaram
"Tropa de Elite" de ser reacionário por exaltar a violência e
transformar um policial cruel
em herói. Como avalia esse
ponto de vista?
Quando se diz isso, não se
diz tudo sobre o filme. Acima
de tudo, há o poder público.
É o poder público que se abstém de sua responsabilidade,
e esse é o problema.
O filme deixa, nas filigranas, supor que é o poder público que deixa os policiais
irem tão longe e se tornarem
tão violentos. Isso é que é
inaceitável. Às vezes, os críticos se atêm ao primeiro nível,
às aparências de um filme.
Não tentam ir mais fundo.
Como imagina a continuação
de "Tropa de Elite"?
Estou curioso para vê-la.
Caso se trate do mesmo filme
com outros ingredientes, como fazem os americanos, será uma pena. Mas, se José Padilha tiver feito um filme para analisar essa situação e
mostrar como um governo
eleito democraticamente pode chegar a ter uma polícia
fascista, será interessante.
Qual é sua opinião a respeito
da pirataria audiovisual?
É uma ameaça ao cinema.
Infelizmente, é preciso muito
dinheiro para fazer um filme.
E esse investimento precisa
ter retorno. Há políticos na
França que defendem a pirataria. Ora, não se pode imaginar produtos gratuitos numa
sociedade capitalista.
Pode haver produtos baratos e subsidiados, mas a ideia
da gratuidade, na nossa sociedade, é falsa, porque tudo
tem um custo.
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