São Paulo, terça-feira, 12 de outubro de 2010

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Para Costa-Gavras, Padilha expõe culpa do Estado sobre violência

Diretor, que premiou longa em Berlim, se diz ansioso por sequência

SILVANA ARANTES
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA

Foi o cineasta francês de origem grega Constantin Costa-Gavras que, em 2008, anunciou o Urso de Ouro do Festival de Berlim para "Tropa de Elite", de José Padilha.
Costa-Gavras presidia o júri da competição e decidiu "defender profundamente" a premiação do longa brasileiro depois de vê-lo duas vezes.
Na primeira, teve "um choque". Na segunda, ratificou a impressão de que ""Tropa de Elite" é sinal de um fenômeno da nossa sociedade [a falência do Estado]", conforme afirma nesta entrevista à Folha, por telefone, de Paris.

Folha - O que lhe agrada em "Tropa de Elite"? Costa-Gavras - O que me pareceu muito importante nesse filme é que o Estado delega suas prerrogativas e suas responsabilidades à polícia. Ao deixar a polícia agir segundo sua própria vontade, o Estado, pouco a pouco, perde o sentido.
Não há Justiça, não há processo jurídico em que a polícia não executa, mas sim investiga e deixa aos juízes a decisão. É um tipo de relação como a da guerra.
Acho que "Tropa de Elite" é um sinal muito particular de um fenômeno da nossa sociedade que se expande cada vez mais.

Muitos críticos acusaram "Tropa de Elite" de ser reacionário por exaltar a violência e transformar um policial cruel em herói. Como avalia esse ponto de vista?
Quando se diz isso, não se diz tudo sobre o filme. Acima de tudo, há o poder público. É o poder público que se abstém de sua responsabilidade, e esse é o problema.
O filme deixa, nas filigranas, supor que é o poder público que deixa os policiais irem tão longe e se tornarem tão violentos. Isso é que é inaceitável. Às vezes, os críticos se atêm ao primeiro nível, às aparências de um filme. Não tentam ir mais fundo.

Como imagina a continuação de "Tropa de Elite"?
Estou curioso para vê-la. Caso se trate do mesmo filme com outros ingredientes, como fazem os americanos, será uma pena. Mas, se José Padilha tiver feito um filme para analisar essa situação e mostrar como um governo eleito democraticamente pode chegar a ter uma polícia fascista, será interessante.

Qual é sua opinião a respeito da pirataria audiovisual?
É uma ameaça ao cinema. Infelizmente, é preciso muito dinheiro para fazer um filme. E esse investimento precisa ter retorno. Há políticos na França que defendem a pirataria. Ora, não se pode imaginar produtos gratuitos numa sociedade capitalista.
Pode haver produtos baratos e subsidiados, mas a ideia da gratuidade, na nossa sociedade, é falsa, porque tudo tem um custo.


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