São Paulo, segunda-feira, 12 de novembro de 2001

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Sob efeito de jet lag


DJ Marky, o grande nome do drum'n'bass nacional, lança dois discos ao mesmo tempo: um no Brasil e outro na Inglaterra


CLAUDIA ASSEF
DA REPORTAGEM LOCAL

Marky não pára. O DJ paulistano, nome mais conhecido da música eletrônica brasileira, se desdobra para promover seus dois novos CDs: o EP "Brazilian Job", que saiu em outubro, só na Inglaterra, e "Audio Architecture 2", compilação que chega esta semana às lojas do Brasil.
Com 1h30 de atraso, Marky chegou ao clube Lov.e, em São Paulo, onde falou com a Folha momentos antes de tocar.

Folha - Você anda mais cansado do que feliz?
Marky -
Ah, não é bem isso. Tipo já estou trabalhando há mais de 15 anos. Minha carreira teve altos e baixos. E agora está muito boa. Mas às vezes eu sinto que preciso descansar. Meu corpo está cansado. No fim do ano eu vou ficar um bom tempo no Brasil, vou tirar umas férias. Vou dar uma desligada de uns 15, 20 dias dos toca-discos. E aí vou entrar no estúdio. Mas não tenho do que reclamar. Tudo que está acontecendo na minha vida é tudo o que eu sempre sonhei. Mas às vezes a gente não se dá conta de umas coisas que acontecem. Às vezes o corpo cansa, coisas que acontecem com qualquer pessoa. Dá estafa.

Folha - O que você acha do assédio em torno do seu nome, principalmente na Europa?
Marky -
Eu não tenho tempo de parar para pensar: "Poxa, o Marky saiu na "DJ Magazine'". Era um sonho meu sair nessa revista. Ou na "Muzik" ou na "Knowledge" ou ganhar prêmios de melhor DJ. Ainda não...

Folha - Não caiu a ficha?
Marky -
Não caiu a ficha porque é tanta correria. Toco aqui e lá.

Folha - E o jet leg lesa muito?
Marky -
Às vezes lesa. Por exemplo, a gente fez uma tour na Europa viajando de ônibus. Tocava numa cidade, entrava no ônibus e já ia para outra cidade. Foi a tour de lançamento dos CDs da [festa" Movement. Então, saía de Londres para Paris, de Paris para Bruxelas, de lá para o País de Gales, depois Escócia. Quer dizer, apesar de o ônibus ter cama, banheiro, isso cansa. Esta semana mesmo, estava na casa da minha namorada, ela mora em Curitiba. Fiz Curitiba-São Paulo. Daí, São Paulo-Dallas. Dallas-Vancouver. Quer dizer, lá se vão 18 horas de vôo. De Vancouver fui tocar em Seattle. No outro dia, às 11h da manhã, fui para Minneapolis. De lá, fomos para Los Angeles. Daí San Francisco. E Dallas de novo. De lá para São Paulo, Rio e Curitiba...

Folha - Por que você lançou dois CDs quase ao mesmo tempo?
Marky -
O "Brazilian Job" saiu só na Inglaterra. As revistas lá falaram muito bem.

Folha - Você saiu pela primeira vez no [semanário inglês" "NME", não?
Marky -
Foi uma matéria muito legal. É tudo muito novo para mim. Mas confesso que tenho saudades de tocar no Brasil, de ficar em casa. Quero fazer música. Tenho um projeto com o Xerxes [de Oliveira", que se chama SP Kollective. O mix que fizemos do Ben Jor está estourado lá fora. Parece que entrou no top 50 da "Billboard". Tirando Goldie, Roni Size, só a gente conseguiu isso.

Folha - E o "Audio Architecture 2", que está saindo no Brasil. Por que não há produções suas?
Marky -
Quando o Patife lançou o CD dele, o "Cool Steps", ele colocou muitos remixes que ele fez. E eu já tinha um projeto de lançar o meu álbum, com produção minha e do Xerxes. Vai sair esse disco lá fora.

Folha - Por que "Tudo", sua primeira produção, não entrou no CD?
Marky -
Sei lá, não sei. Eu não quis.

Folha - Era para ser um disco só de remixes?
Marky -
Não, era para ser uma compilação mesmo. Da outra vez, muita gente me cobrou que não tinha música minha. Como essa música ["Carolina Carol Bela"" está estourada, coloquei no CD como uma amostra do que vai ser o meu novo CD, que deve sair em junho, julho, no verão europeu.

Folha - Não vai sair no Brasil?
Marky -
Aí não sei porque a minha intenção é que o CD saia primeiro lá fora. Infelizmente, no Brasil a coisa tem que acontecer lá fora antes. O CD não é tão abrasileirado quanto o CD do Patife. É um CD meu, Marky, minhas influências. Vai ter sons nacionais dos anos 60 e 70 e internacionais. Coisas como Marcos Valle, Joyce, Tamba Trio. Que é a música que eu acho autenticamente brasileira. É a coisa mais bonita do mundo. Daí coisas de funk, soul. O disco não vai ser só drum'n'bass, vai ter downtempo, house.

Folha - Você gosta da mistura de música eletrônica e ritmos brasileiros, como o Patife faz?
Marky -
Vou ser bem sincero. A primeira vez que ouvi "Sambassim", do Patife, a única coisa que eu não gostei foi o sample de samba. Achava muito "cheesy". Fui lá e fiz outro remix. As duas versões pegaram muito lá fora. Mas ele acredita nesse estilo e ele deve investir. Talento ele tem de sobra.


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