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POPLOAD
Tudo ou Nada Surf
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Muita gente (nova, principalmente) deve saber bem
quais são as cores dos discos do
Weezer ou com quantas músicas
os Strokes sacudiram o rock, mas
devem rebolar na hora de mostrar
conhecimentos pop sobre a banda Nada Surf, que se apresenta
amanhã no bar Urbano, dentro
do festival Resfest.
O Nada Surf, cujo maior feito
dos últimos tempos foi cravar
uma musiquinha (cover, ainda
por cima) na segunda trilha sonora do descolado seriado "O.C.",
era para ser tão popular quanto o
Weezer ou tão referência nova-iorquina quanto os Strokes, não
tivesse sofrido um acidente temporal e geográfico.
Em meados dos 90, enquanto o
rock ianque superava a ressaca
grunge e tirava o luto de Cobain, o
Nada Surf surgia à cena como a
parte nova-iorquina de uma certa
renascença indie americana, que
passava a dar atenção maior a
grupos como Weezer, Pavement e
Flaming Lips.
"Eu não sei como aconteceu.
Éramos uma banda bem subterrânea e de repente estávamos em
primeiro lugar nas college radios,
nas capas de revistas e até na televisão", disse a este colunista, em
entrevista de Nova York, o guitarrista e vocalista do Nada Surf,
Matthews Caws.
Caws sabe, sim, o que aconteceu. Foi quando eles lançaram o
álbum "High/Low", que continha
a faixa três, "Popular", a canção
que transformou a bandinha obscura em... popular (ai!).
O disco inteiro era bom, mas
"Popular" fez do Nada Surf um
grupo-de-um-hit-só, diferentemente e igualmente como aconteceu com os Strokes e "Last Nite",
alguns anos depois, no mesmo lugar, do mesmo jeito, mas não na
mesma hora.
"Popular" chapou a geração
geek americana pré-Napster. A
música era um manual de sobrevivência teen dentro do infernal,
terrível, impiedoso, cruel universo do mundo escolar. Procure namorar o brotinho do colégio. Na
universidade, faça uma brodagem com os caras do futebol. Pareça interessado diante dos professores. E não chegue às rodinhas com os cabelos oleosos, por
falta de água. Pega bem mal.
A música era manjadaça. Agridoce, lentinha e de refrão barulhento, seguia a fórmula Weezer.
"Eu sou o líder da classe. Sou o
quarterback. Sou a estrela das festas. Tenho o meu próprio carro.
Sou o queridinho dos professores.
Eu sou popular."
Mas o guia do cara popular, irônico, falou direto aos corações sofridos da geração de óculos e caseira que estava moldando a internet. Segundo Caws, a música
nem é tão pedida assim mais, hoje
em dia, quando o Nada Surf se
apresenta ao vivo.
"Ela foi um fenômeno geográfico. Virou um hino que abriu portas para nós, mas foi muito mais
importante fora do que dentro do
rock americano. Bem, claro, ainda temos que tocá-la", diz.
O Nada Surf, por algum fenômeno que não consumiu bandas
como Weezer e Strokes, definhou
depois de "Popular". Voltou para
o underground do underground,
ainda que, de acordo com Caws,
tem suas músicas executadas
mais nas college radios hoje do
que na época da fama rápida.
O Nada Surf a ser visto, este da
época impopular, é a grande faceta paralela do rock americano da
era pós-Nirvana. Num mundo espelhado e torto, se você é ligado
tanto em história da música tanto
como na música em si, conferir
um show do Nada Surf agora é tão
importante quanto presenciar
um show dos Strokes. Pelo menos
no aspecto bizarro.
lucio@uol.com.br
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