São Paulo, sexta-feira, 12 de novembro de 2004

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OUTROS LANÇAMENTOS

Os alquimistas estão chegando

Chelpa Ferro II
   

As batidas eletrônicas que introduzem o segundo CD lançado pelo grupo de artistas cariocas do Chelpa Ferro podem enganar ouvintes incautos: opa, dá até para dançar! Mas a verdade é que as camadas de ruídos que vão sendo acrescentadas aos poucos levam a experiência para algo bem mais próximo da IDM (música para os neurônios) de Aphex Twin e Squarepusher que para as pistas de eletrônica. Às batidas gordas vão se sobrepondo marteladas metálicas, como as gravadas pelo grupo durante a performance "Autobang", na Bienal de SP de 2002, sons de grilos e porcos captados desde 1998 em suas andaças pelo Brasil, como arqueólogos e alquimistas do som. E não é que uma bolinha de pebolim -como as de ping-pong que o grupo já havia aproveitado em trabalhos anteriores- também tem lá o seu ritmo? Tratar de uma ou outra faixa do álbum, sabiamente batizadas de "I", "II", "III" etc., é bobagem. "Chelpa Ferro II" precisa ser ouvido/entendido como uma peça só, como parte da atual proposta de indissociação entre som e imagem, ruído e melodia, orgânico e mecânico. Vale notar que, ao contrário de suas instalações e apresentações ao vivo, enriquecidas pelas projeções e vistosas gerinçonças sonoras, em disco, a visão não faz falta. Numa espécie de "cinema para cego", como bem definiu o grupo, ela surge quando estamos de olhos fechados, ouvidos atentos e imaginação aguçada para compreender que tipo de seres/instrumentos são capazes de produzir música tão nova e fascinante. (DIEGO ASSIS)

GRUPO: CHELPA FERRO; GRAVADORA: PING PONG; QUANTO: R$ 20, EM MÉDIA


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