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OUTROS LANÇAMENTOS
Os alquimistas estão chegando
Chelpa Ferro II
As batidas eletrônicas que introduzem o
segundo CD lançado pelo grupo de
artistas cariocas do Chelpa Ferro podem
enganar ouvintes incautos: opa, dá até
para dançar! Mas a verdade é que as
camadas de ruídos que vão sendo
acrescentadas aos poucos levam a
experiência para algo bem mais próximo
da IDM (música para os neurônios) de
Aphex Twin e Squarepusher que para as
pistas de eletrônica. Às batidas gordas
vão se sobrepondo marteladas
metálicas, como as gravadas pelo grupo
durante a performance "Autobang", na
Bienal de SP de 2002, sons de grilos e
porcos captados desde 1998 em suas
andaças pelo Brasil, como arqueólogos e
alquimistas do som. E não é que uma
bolinha de pebolim -como as de ping-pong que o grupo já havia aproveitado
em trabalhos anteriores- também tem
lá o seu ritmo? Tratar de uma ou outra
faixa do álbum, sabiamente batizadas de
"I", "II", "III" etc., é bobagem. "Chelpa
Ferro II" precisa ser ouvido/entendido
como uma peça só, como parte da atual
proposta de indissociação entre som e
imagem, ruído e melodia, orgânico e
mecânico. Vale notar que, ao contrário
de suas instalações e apresentações ao
vivo, enriquecidas pelas projeções e
vistosas gerinçonças sonoras, em disco, a
visão não faz falta. Numa espécie de
"cinema para cego", como bem definiu o
grupo, ela surge quando estamos de
olhos fechados, ouvidos atentos e
imaginação aguçada para compreender
que tipo de seres/instrumentos são
capazes de produzir música tão nova e
fascinante.
(DIEGO ASSIS)
GRUPO: CHELPA FERRO; GRAVADORA: PING
PONG; QUANTO: R$ 20, EM MÉDIA
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