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Pop de Elis volta em versão remasterizada
Lançamento destaca DVD com polêmica entrevista da cantora, na TV Cultura, dias antes de sua morte
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ela não tem medo de dizer o
que pensa. Acusa as gravadoras
de serem gananciosas. Diz que
os músicos brasileiros não recebem direitos autorais por falta de empenho. E afirma que a
produção musical de sua geração não foi superada em qualidade. A sinceridade de Elis Regina ainda surpreende quase 25
anos após sua morte.
Essas declarações fazem parte da última entrevista da cantora, veiculada pela TV Cultura,
em 10 de janeiro de 1982. Com
49 minutos de duração, o programa "Jogo da Verdade" ressurge em DVD incluído na nova
edição do álbum "Elis", que volta às lojas em versão remixada e
remasterizada.
"Esse é o álbum da Elis que
pode ser mais compreendido
pelas novas gerações. Ele tem
um som muito contemporâneo, não parece ter sido feito 26
anos atrás", diz João Marcello
Bôscoli, produtor da Trama e
responsável pelo projeto de recuperação da obra de sua mãe,
iniciado em 2004 com a remixagem do álbum "Elis e Tom".
Lançado em novembro de
1980, pela EMI-Odeon, "Elis" é
o álbum da cantora mais ligado
à estética sonora do funk e do
r&b e foi dedicado por ela à
"amiga e colega de internato
Rita Lee". A direção musical e
os arranjos têm a assinatura de
César Camargo Mariano.
Como de costume, Elis exibiu nesse trabalho canções de
compositores jovens. Além de
lançar a dupla Jean e Paulo
Garfunkel, no divertido samba
"Calcanhar de Aquiles", gravou
"Nova Estação" (Thomas Roth
e Luiz Guedes), "Vento de
Maio" (Telo e Marcio Borges) e
"Aprendendo a Jogar" (Guilherme Arantes).
Para Bôscoli, o álbum "Elis"
tem um clima festivo de reveillon. "Para ela, significava o final de uma década de muita luta, de shows falando de tortura,
de censura, de explicações em
delegacias. Era um bálsamo
após uma década tão difícil."
Na entrevista, com participações dos jornalistas Zuza Homem de Mello e Maurício Kubrusly, Elis refere-se à luta pela
volta da democracia e à censura
que enfrentou nos anos 70.
"Isso fez que a gente se afastasse de uma linguagem mais
clara, até porque ela não podia,
de forma alguma, ser usada.
Então a gente ficou usando
meias-palavras, ficou andando
por cima de "bêbado e equilibrista'", disse, referindo-se a
um de seus sucessos.
Demonstrando estar conectada com a cena musical da
época, Elis elogia Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé, expoentes do grupo que veio a ser
conhecido mais tarde como
"vanguarda paulista".
Lucidez
Questionada se gravaria canções desse grupo, a cantora revelou sua lucidez artística.
"Não quero, de maneira alguma, ser tachada como uma integrante da chamada cultura
oficial que vai cantar essas coisas para diminuir seu peso."
Os 25 anos da morte de Elis,
que se completam no próximo
dia 19 de janeiro, serão lembrados por outros lançamentos.
Além da versão remixada do álbum "Falso Brilhante" (1976), a
Trama anuncia para janeiro
uma caixa especial, em formato
de vinil, que inclui o CD "Elis",
o DVD com a entrevista, fotos,
cartaz, programa e outros materiais do show "Trem Azul".
ELIS
Artista: Elis Regina
Lançamento: Trama/Cultura Marcas
Quanto: R$ 55, em média
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