São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pop de Elis volta em versão remasterizada

Lançamento destaca DVD com polêmica entrevista da cantora, na TV Cultura, dias antes de sua morte

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ela não tem medo de dizer o que pensa. Acusa as gravadoras de serem gananciosas. Diz que os músicos brasileiros não recebem direitos autorais por falta de empenho. E afirma que a produção musical de sua geração não foi superada em qualidade. A sinceridade de Elis Regina ainda surpreende quase 25 anos após sua morte.
Essas declarações fazem parte da última entrevista da cantora, veiculada pela TV Cultura, em 10 de janeiro de 1982. Com 49 minutos de duração, o programa "Jogo da Verdade" ressurge em DVD incluído na nova edição do álbum "Elis", que volta às lojas em versão remixada e remasterizada.
"Esse é o álbum da Elis que pode ser mais compreendido pelas novas gerações. Ele tem um som muito contemporâneo, não parece ter sido feito 26 anos atrás", diz João Marcello Bôscoli, produtor da Trama e responsável pelo projeto de recuperação da obra de sua mãe, iniciado em 2004 com a remixagem do álbum "Elis e Tom".
Lançado em novembro de 1980, pela EMI-Odeon, "Elis" é o álbum da cantora mais ligado à estética sonora do funk e do r&b e foi dedicado por ela à "amiga e colega de internato Rita Lee". A direção musical e os arranjos têm a assinatura de César Camargo Mariano.
Como de costume, Elis exibiu nesse trabalho canções de compositores jovens. Além de lançar a dupla Jean e Paulo Garfunkel, no divertido samba "Calcanhar de Aquiles", gravou "Nova Estação" (Thomas Roth e Luiz Guedes), "Vento de Maio" (Telo e Marcio Borges) e "Aprendendo a Jogar" (Guilherme Arantes).
Para Bôscoli, o álbum "Elis" tem um clima festivo de reveillon. "Para ela, significava o final de uma década de muita luta, de shows falando de tortura, de censura, de explicações em delegacias. Era um bálsamo após uma década tão difícil."
Na entrevista, com participações dos jornalistas Zuza Homem de Mello e Maurício Kubrusly, Elis refere-se à luta pela volta da democracia e à censura que enfrentou nos anos 70. "Isso fez que a gente se afastasse de uma linguagem mais clara, até porque ela não podia, de forma alguma, ser usada.
Então a gente ficou usando meias-palavras, ficou andando por cima de "bêbado e equilibrista'", disse, referindo-se a um de seus sucessos.
Demonstrando estar conectada com a cena musical da época, Elis elogia Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé, expoentes do grupo que veio a ser conhecido mais tarde como "vanguarda paulista".

Lucidez
Questionada se gravaria canções desse grupo, a cantora revelou sua lucidez artística. "Não quero, de maneira alguma, ser tachada como uma integrante da chamada cultura oficial que vai cantar essas coisas para diminuir seu peso." Os 25 anos da morte de Elis, que se completam no próximo dia 19 de janeiro, serão lembrados por outros lançamentos.
Além da versão remixada do álbum "Falso Brilhante" (1976), a Trama anuncia para janeiro uma caixa especial, em formato de vinil, que inclui o CD "Elis", o DVD com a entrevista, fotos, cartaz, programa e outros materiais do show "Trem Azul".


ELIS     
Artista: Elis Regina
Lançamento: Trama/Cultura Marcas
Quanto: R$ 55, em média


Texto Anterior: Fernando Bonassi: Advertências verbais para 2007
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.