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"Material antigo não empolga mais"
Phil Selway diz que cada álbum do Radiohead é uma reação aos anteriores e que havia urgência em mostrar as músicas de "In Rainbows"
Baterista afirma que banda ofereceu faixas por download para falar direto ao público, mas que quer atingir mais gente com o formato de CD
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
O Radiohead de canções pop,
que existia na época de discos
como "The Bends" (1995) e
"OK Computer" (1997), não
volta mais. E, por mais que tentasse, a banda ainda não é capaz
de se libertar das engrenagens
da indústria fonográfica.
De Oxford, em entrevista por
telefone, o baterista do Radiohead, Phil Selway, 40 anos, conversou com a Folha sobre as
mudanças ocorridas no Radiohead e sobre as mudanças proporcionadas pelo Radiohead.
A última delas modificou paradigmas da indústria da música. Em 1º de outubro, o Radiohead anunciou a chegada de
"In Rainbows", o sétimo álbum
de estúdio. No dia 10 de outubro, o álbum era oferecido por
download -pelo preço que o fã
desejasse pagar.
Foi a primeira vez que uma
banda grande (23 milhões de
álbuns vendidos no mundo)
protagonizou uma ação tão fora dos padrões tradicionais.
Mas o passo não significa que
Thom Yorke (39, vocal), Jonny
Greenwood (36, guitarra, efeitos sonoros), Ed O'Brien (39,
guitarra), Colin Greenwood
(38, baixo) e Selway tenham
desistido do formato CD.
"In Rainbows", que segue as
experimentações iniciadas em
"Kid A" (2000) e "Amnesiac"
(2001), será lançado em disquinho no Brasil no início de janeiro. Se lá fora a distribuição
do álbum ficou por conta das
indies XL (Europa) e TBD (Estados Unidos), por aqui o disco
sai pela nova gravadora Flamil.
FOLHA - O Radiohead anunciou o
disco "In Rainbows" em um dia e,
pouco depois, o conteúdo já era colocado para download. Como aconteceu esse processo tão rápido?
PHIL SELWAY - Na verdade, ocorreu um contraste entre o período de gravação, que foi demorado, difícil, e o de divulgação do
disco. Queríamos mostrar o
trabalho ao público o mais rapidamente possível, e de uma
maneira que achávamos que
seria interessante. E o álbum
reflete a situação da banda: estávamos sem contrato, voltamos a ser independentes e conseguimos uma forma de comunicação direta com as pessoas
que estavam interessadas.
Após "Hail to the Thief" [penúltimo disco, de 2003], saímos em turnê e, depois, tiramos um tempo de folga. Voltamos com algumas idéias de
canções, ensaiamos e levamos
algum tempo para encontrar
algo que nos estimulassse novamente, que fosse relevante.
Levou um tempo grande para
acharmos esse caminho. Trabalhamos com algumas pessoas, tocamos ao vivo... Estávamos meio acomodados, e trabalhar novamente com Nigel [Godrich, produtor dos últimos
discos do Radiohead] foi uma
das melhores coisas que fizemos. Ele nos ajudou a ter foco.
FOLHA - Vocês lançaram "In Rainbows" por download, sem intermediação de gravadora. Mas agora vão
lançar o disco no formato tradicional, com o apoio de gravadoras. Não
dava para o Radiohead escapar desse formato tradicional?
SELWAY - Se não lançarmos "In
Rainbows" em CD, muita gente
não conseguirá ouvir o disco. O
processo de lançar primeiramente por download foi uma
surpresa agradável, mas para
esse outro lançamento precisamos de uma gravadora. Lançar
o CD em grande escala não seria possível sem uma gravadora. Para entrar nesse negócio,
teríamos que fazer do Radiohead uma gravadora; e aí não
faríamos mais músicas, desistiríamos das turnês... É uma operação muito maior. Quando
lançamos por download, esse
sistema repercutiu de forma
positiva entre os fãs e a imprensa, e é aquilo que reflete a forma
como trabalhamos.
FOLHA - A iniciativa de deixar para
os fãs decidirem quanto eles queriam pagar pelo disco "In Rainbows"
foi criticada por algumas pessoas,
que dizem que esse sistema seria
prejudicial para bandas que não
possuem tantos fãs. Você concorda
com essa visão?
SELWAY - Chegamos a essa decisão de acordo com as músicas
que tínhamos e com o que a
banda representava naquele
momento. Achamos que seria o
apropriado. Não é que estamos
tentando mudar o mundo da
indústria da música, apenas
lançamos do jeito mais efetivo
e excitante que encontramos.
FOLHA - No futuro, vocês consideram fazer com canções o que fizeram com "In Rainbows": compor
uma música e em seguida colocá-la
na internet?
SELWAY - Sim, com certeza.
Trazer uma espontaneidade
que não teríamos se tivermos
que esperar a criação de um
disco. Será ótimo gravar uma
música e colocá-la para down-load. Provavelmente faremos
isso no futuro.
FOLHA - Você costuma fazer o
download de canções de outros artistas?
SELWAY - Hã... Sim, sim. Faço
muitos downloads pelo iTunes.
Não consigo me entender com
BitTorrent. Então utilizo basicamente o iTunes.
FOLHA - Qual o último álbum que
você fez o download?
SELWAY - O disco de uma banda
chamada Iron & Wine, "The
Shepherd's Dog".
FOLHA - O Radiohead não é mais
considerado uma banda pop ou de
rock tradicional, mas uma banda
"difícil", que faz experimentações. A
decisão de mudar de direção após
"OK Computer" foi consciente?
SELWAY - Vejo nossos álbuns
sempre como uma reação ao
disco anterior. Antes esse contexto era outro, afinal tínhamos contrato com a EMI. Neste
novo disco, muito dele vem de
nossa relação com Nigel. Essas
coisas têm mais a ver com mudanças naturais do que com algo calculado. Não queremos
cortar a forma como trabalhávamos antes apenas por mudar.
FOLHA - O Radiohead ainda tem
muitos fãs que sentem falta de discos mais pop, como "The Bends" e
"OK Computer". Aquele Radiohead
nunca mais voltará?
SELWAY - Bem, não faria sentido ficarmos repetindo aquele
tipo de canções, não é? Não sei
se aquele material ainda pode
nos empolgar como antes. Mas
ainda tocamos algumas canções desses discos nos shows.
Não as abandonamos completamente.
FOLHA - Ed O'Brien [guitarrista da
banda] disse em entrevista à Radio 1
[emissora da rede britânica BBC]
que o Radiohead poderia fazer
shows no Brasil em 2008...
SELWAY - Ainda estamos trabalhando na turnê. Não temos nenhuma data confirmada para a
América do Sul, mas queremos
levar a turnê desse disco ao
Brasil e a outros países daí.
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