São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

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Crítica/ "Rebobine, por Favor"

Michel Gondry salta da pretensão para um humor sem brilho

Comédia americana de francês aborda dupla que grava versões caseiras de blockbusters após acidente em locadora

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Começando pelo que Michel Gondry quis dizer, ou pelo que eu entendi de "Rebobine, por Favor": a memória afetiva é mais importante que a memória objetiva e pode se sobrepor a ela.
É uma espécie do "imprima-se a lenda" que celebrizou "O Homem que Matou o Facínora" (1962), de John Ford. Com a diferença, significativa, de que Ford mandava imprimir a lenda, mas mostrava o que de fato aconteceu.
Aqui temos uma modesta locadora de vídeos em uma pequena cidade de Nova Jersey.
Seu dono, Elroy Fletcher (Danny Glover), tem dificuldades com a prefeitura local, que exige enormes mudanças no edifício para não botar tudo abaixo. Ele não tem dinheiro, mas ali, sustenta, nasceu um famoso músico de jazz, já morto.
Elroy tem que viajar e deixa a locadora a cargo de seu empregado, e um pouco mais que isso, Mike (Mos Def), com a instrução específica de não deixar o trapalhão Jerry (Jack Black) se aproximar do local. Inútil dizer, a primeira coisa que Jerry faz é entrar no local. Pior: ele está magnetizado, e seu contato com as fitas de vídeo as desmagnetiza. Ou seja: logo, em vez de vídeos, temos um monte de fitas desgravadas.
Diante disso, Mike e Jerry decidem que a solução é filmar a toque de caixa alguns sucessos da loja, como "Os Caça-Fantasmas". Seria algo capaz de lembrar, ainda que remotamente, os filmes de Edward Wood (1924-78). Muito mais precários, claro.

Comunidade
No entanto, não é à precariedade que atentam seus fregueses. Esses filmes trazem algo de muito familiar, que comoverá as pessoas da comunidade mais imediata, dando uma nova chance à combalida locadora.
O problema do filme é que a idéia geral, enunciada mais acima, é mais interessante do que seu desenvolvimento. Não tanto do que seu argumento. Por um lado, a evolução do roteiro faz pensar se tanta arbitrariedade deve-se ao tom paródico ou se o tom paródico é um álibi para tanta arbitrariedade.
O fato é que ela acontece.
Efeito de humor? Pode ser.
Mas não há mais do que uma meia dúzia de piadas dignas de um cineasta tido como de vanguarda. Saltamos da pretensão de "O Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" (2004) para a modéstia de um humor que, sem muito brilho, mas não sem simpatia, vai constituindo lembranças de algo que nunca existiu.
O que há de simpático, afinal, é a idéia de uma comunidade composta por pessoas insignificantes que, no processo, vai montando idéia de oposição não só aos poderes locais (a prefeitura), como à indústria cultural. Paradoxo: esse é o típico enfoque que parece agradar à indústria cultural.


REBOBINE, POR FAVOR
Direção: Michel Gondry
Produção: EUA, 2008
Com: Jack Black, Mos Def
Onde: em cartaz nos cines HSBC Belas Artes, Reserva Cultural e circuito
Classificação: livre
Avaliação: regular



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