São Paulo, sábado, 12 de dezembro de 2009

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Crítica/ "CQC Especial África do Sul"

Programa esquece que humor favorável deixa de ter graça

Matérias no país da Copa não escapam ao apelo fácil do exotismo, e confronto com técnicos e jogadores é reverente

TONY GOES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O humor pode ser racista, homofóbico e ignorante. Só não pode ser a favor, porque aí deixa de ser engraçado. Mas essa regrinha óbvia foi esquecida várias vezes pelo "CQC" especial de quinta passada, dedicado ao futebol e à África do Sul.
Felipe Andreoli e Rafael Cortez foram à Cidade do Cabo acompanhar o sorteio das chaves para a Copa de 2010, depois deram um rolé por Johannesburgo e arredores. Matérias de evidente interesse, como uma visita furtiva ao estádio onde será jogada a grande final, renderam pouco mais que sorrisinhos. Outras não escaparam do apelo fácil do exotismo: "Olha só como eles falam gozado, olha que dancinha irada, ô loco".
Ao vivo em São Paulo, Marcelo Tas, Rafinha Bastos e Marco Luque apresentavam o material gravado pelos colegas na semana passada, e seus comentários soavam como vuvuzelas: um zumbido constante, meio confuso, sem altos e baixos. Como a maioria dos brasileiros, os apresentadores do programa também são loucos por uma bola. Pena que tamanha paixão se traduziu em reverência no confronto com técnicos e jogadores.
No quadro "CQTeste", Cortez chegou a dar razão a Zagallo quando este errou uma pergunta. Afinal, como pode o homem que mais participou de Copas não estar certo? Além do mais, é dificílimo deixar um boleiro sem graça diante das câmeras: são todos escaldados por anos de exposição pública. Bem diferentes dos políticos a quem o "CQC" costuma aterrorizar, acostumados a ter o saco puxado até mesmo pela imprensa.
Acabaram sobrando farpas para as vítimas de sempre: Joel Santana, Maradona, Fernando Vanucci. Dunga mereceu passe livre, bem como quase todos os entrevistados.
É bom o "CQC" ficar esperto, porque a concorrência vai se acirrar no ano que vem. Seus antepassados do "Casseta & Planeta" também devem ir à Copa, assim como seus primos com segundo grau incompleto, o pessoal do "Pânico".
Para continuar sendo a coisa mais interessante do humor na TV brasileira, o programa da Band deve voltar à África em clima de safári: com sede de sangue.


CQC ESPECIAL ÁFRICA DO SUL

Avaliação: regular




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