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Crítica/ "CQC Especial África do Sul"
Programa esquece que humor favorável deixa de ter graça
Matérias no país da Copa não escapam ao apelo fácil do exotismo, e confronto com técnicos e jogadores é reverente
TONY GOES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O humor pode ser racista, homofóbico e ignorante. Só não pode ser
a favor, porque aí deixa de ser
engraçado. Mas essa regrinha
óbvia foi esquecida várias vezes
pelo "CQC" especial de quinta
passada, dedicado ao futebol e à
África do Sul.
Felipe Andreoli e Rafael Cortez foram à Cidade do Cabo
acompanhar o sorteio das chaves para a Copa de 2010, depois
deram um rolé por Johannesburgo e arredores. Matérias de
evidente interesse, como uma
visita furtiva ao estádio onde
será jogada a grande final, renderam pouco mais que sorrisinhos. Outras não escaparam do
apelo fácil do exotismo: "Olha
só como eles falam gozado, olha
que dancinha irada, ô loco".
Ao vivo em São Paulo, Marcelo Tas, Rafinha Bastos e Marco Luque apresentavam o material gravado pelos colegas na
semana passada, e seus comentários soavam como vuvuzelas:
um zumbido constante, meio
confuso, sem altos e baixos.
Como a maioria dos brasileiros, os apresentadores do programa também são loucos por
uma bola. Pena que tamanha
paixão se traduziu em reverência no confronto com técnicos e
jogadores.
No quadro "CQTeste", Cortez chegou a dar razão a
Zagallo quando este errou uma
pergunta. Afinal, como pode o
homem que mais participou de
Copas não estar certo?
Além do mais, é dificílimo
deixar um boleiro sem graça
diante das câmeras: são todos
escaldados por anos de exposição pública. Bem diferentes dos
políticos a quem o "CQC" costuma aterrorizar, acostumados
a ter o saco puxado até mesmo
pela imprensa.
Acabaram sobrando farpas
para as vítimas de sempre: Joel
Santana, Maradona, Fernando
Vanucci. Dunga mereceu passe
livre, bem como quase todos os
entrevistados.
É bom o "CQC" ficar esperto,
porque a concorrência vai se
acirrar no ano que vem. Seus
antepassados do "Casseta &
Planeta" também devem ir à
Copa, assim como seus primos
com segundo grau incompleto,
o pessoal do "Pânico".
Para
continuar sendo a coisa mais
interessante do humor na TV
brasileira, o programa da Band
deve voltar à África em clima de
safári: com sede de sangue.
CQC ESPECIAL ÁFRICA DO SUL
Avaliação: regular
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