São Paulo, quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

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Comentário

Ninguém dormiu naqueles dez dias de 1985

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

Parecia mentira. Quando a imprensa anunciou que Queen, AC/DC, Yes, Ozzy Osbourne, B-52's, Scorpions e Rod Stewart vinham ao Brasil, muita gente achou que se tratava de uma pegadinha de 1º de abril.
O Rock in Rio mudou tudo.
Antes do festival, a secura por shows era tanta que a molecada pagava para ver vídeos de Iron Maiden e Ozzy num telão no Circo Voador. Os metaleiros davam pulos do palco e gritavam, como se estivessem num show de verdade. Ninguém sonhava em ver Ozzy em carne e osso. Até que veio o Rock in Rio.
Foram dez dias em que ninguém dormiu. Eu morava na Ilha do Governador, zona norte do Rio. No primeiro dia, levei quase cinco horas para chegar ao festival. Saindo do show do Queen, na manhã do dia 12, demorei tanto para chegar em casa que, quando cheguei, já estava na hora de voltar.
O "point" dos roqueiros era a praia de Copacabana, onde a maioria das bandas estava hospedada. Qualquer estrangeiro cabeludo era logo cercado: "Mister, autógrafo, please?".
Amigos deram de cara com John Sykes, guitarrista do Whitesnake e "muso" do festival, comendo um Big Bob.
Ao meio-dia, quando os portões eram abertos, já havia muita gente esperando. O lance era chegar cedo e colar na grade, para ver os equipamentos importados e trocar ideia com os colegas sobre assuntos em voga: "Será que o Ozzy vai comer morcego?". Com sorte, dava para vislumbrar alguns amplificadores Marshall. Ninguém se importava que os banheiros tinham meio metro de lama ou que a cerveja fosse a célebre Malt 90, carinhosamente chamada de "Malt nojenta". Tudo era novidade.
Eventos desse tamanho não acontecem mais. Hoje, seria impossível colocar Iron Maiden e Queen tocando na sequência. A estrutura das bandas inchou, cachês se multiplicaram. E nenhuma escalação de bandas seria capaz de repetir a euforia que se viu nos fãs em 1985. Medina pode fazer quantos Rock in Rio quiser, mas aquele primeiro foi realmente "o" festival.


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