São Paulo, quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

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Errol Morris enfoca tortura de Abu Ghraib

DA ENVIADA A BERLIM

Depois que as fotos dos abusos cometidos pelo Exército americano com os prisioneiros de Abu Ghraib (Iraque) se tornaram um escândalo internacional, uma investigação determinada pelo governo dos EUA separou-as em dois grupos.
De um lado, ficaram as que configuravam inegavelmente um ato criminoso, caso das imagens de abuso sexual.
Na outra parcela foram parar as fotos com práticas consideradas aceitáveis nos padrões de interrogatórios. Eram as cenas de operação padrão ("Standard Operating Procedure"), expressão que o cineasta Errol Morris tomou como título de seu novo documentário, sobre os eventos de Abu Ghraib.
O filme foi exibido ontem em competição no Festival de Berlim e é provavelmente o mais impactante título da disputa.
Morris entrevista alguns dos principais personagens (abusadores) das fotos, que foram julgados, condenados, cumpriram sentença por seus crimes e hoje estão livres.
Eles comentam suas vidas antes, durante e depois de Abu Ghraib. A soldado Lynndie England, célebre pela pose em que subjuga um prisioneiro nu, atado a uma coleira, diz que tomou parte nos abusos porque estava cega de amor.
England namorava o soldado Charles Garner, apontado como mentor dos abusos. Condenado a dez anos de prisão, Garner é proibido pelo governo dos EUA de dar entrevistas, conforme informa o filme.
"Garner sabia falar o que você queria ouvir. Eu tinha 20 anos, e ele, 39. Ou seja, 19 anos de experiência a mais do que eu", afirma England no filme.
A soldado Sabrina Harman comenta uma "operação padrão" que ela conduziu e registrou em foto. Ela coloca o preso encapuzado de pé sobre um caixote de madeira e ata fios às suas mãos. Avisa que, se ele descer do caixote, será automaticamente eletrocutado.
"É garantido que ele continuaria ali, de pé. Mas os fios não estavam ligados à energia. Eram só palavras", diz.
Trechos do diário que Harman mantinha em Abu Ghraib e seguiu escrevendo durante seu processo pontuam o filme, lidos por ela, que não se arrepende, mas desabafa: "O foda disso tudo é que todo mundo [no Exército] sabia de tudo".
Morris fez um documentário em que os abusos de Abu Ghraib são narrados em primeira pessoa. E fez também um filme sobre como os sujeitos mais graduados dessa história mantiveram-se ocultos.


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