|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Errol Morris enfoca tortura de Abu Ghraib
DA ENVIADA A BERLIM
Depois que as fotos dos abusos cometidos pelo Exército
americano com os prisioneiros
de Abu Ghraib (Iraque) se tornaram um escândalo internacional, uma investigação determinada pelo governo dos EUA
separou-as em dois grupos.
De um lado, ficaram as que
configuravam inegavelmente
um ato criminoso, caso das
imagens de abuso sexual.
Na outra parcela foram parar
as fotos com práticas consideradas aceitáveis nos padrões de
interrogatórios. Eram as cenas
de operação padrão ("Standard
Operating Procedure"), expressão que o cineasta Errol
Morris tomou como título de
seu novo documentário, sobre
os eventos de Abu Ghraib.
O filme foi exibido ontem em
competição no Festival de Berlim e é provavelmente o mais
impactante título da disputa.
Morris entrevista alguns dos
principais personagens (abusadores) das fotos, que foram julgados, condenados, cumpriram
sentença por seus crimes e hoje
estão livres.
Eles comentam suas vidas
antes, durante e depois de Abu
Ghraib. A soldado Lynndie England, célebre pela pose em que
subjuga um prisioneiro nu, atado a uma coleira, diz que tomou
parte nos abusos porque estava
cega de amor.
England namorava o soldado
Charles Garner, apontado como mentor dos abusos. Condenado a dez anos de prisão, Garner é proibido pelo governo dos
EUA de dar entrevistas, conforme informa o filme.
"Garner sabia falar o que você queria ouvir. Eu tinha 20
anos, e ele, 39. Ou seja, 19 anos
de experiência a mais do que
eu", afirma England no filme.
A soldado Sabrina Harman
comenta uma "operação padrão" que ela conduziu e registrou em foto. Ela coloca o preso
encapuzado de pé sobre um
caixote de madeira e ata fios às
suas mãos. Avisa que, se ele
descer do caixote, será automaticamente eletrocutado.
"É garantido que ele continuaria ali, de pé. Mas os fios não
estavam ligados à energia.
Eram só palavras", diz.
Trechos do diário que Harman mantinha em Abu Ghraib
e seguiu escrevendo durante
seu processo pontuam o filme,
lidos por ela, que não se arrepende, mas desabafa: "O foda
disso tudo é que todo mundo
[no Exército] sabia de tudo".
Morris fez um documentário
em que os abusos de Abu
Ghraib são narrados em primeira pessoa. E fez também
um filme sobre como os sujeitos mais graduados dessa história mantiveram-se ocultos.
Texto Anterior: "Tropa" gera mais ódios que amores em Berlim Próximo Texto: Cinebios marcam o É Tudo Verdade Índice
|