São Paulo, quarta-feira, 13 de março de 2002

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MODA

Estilista americano agrada fashionistas em Paris

Caprichos de Tom Ford para a YSL são exercício de luxúria e desejo

ERIKA PALOMINO
ENVIADA ESPECIAL A PARIS

Quatro temporadas depois de sua estréia à frente da linha Rive Gauche, o prêt-à-porter de Yves Saint Laurent, o estilista texano Tom Ford parece não ter mais deixado nenhuma dúvida de que está no lugar certo. O mais suntuoso desfile de toda a temporada internacional aconteceu na noite de segunda-feira, no museu Rodin, em Paris.
Esse desfile de inverno estava sendo considerado uma prova de fogo. Ford tem precisado matar um touro a cada coleção (quem na moda não?), mas o fato de o próprio Yves Saint Laurent ter decidido abandonar a moda em março deste ano trouxe o foco ainda mais para a figura do criador norte-americano.
Ford havia virado uma espécie de símbolo de um estilo de fazer moda que havia destronado e desenganado seu mestre supremo, o maior estilista vivo, Saint Laurent.
Neste inverno, entretanto, Ford se desprende de vez das amarras e começa a escrever sua própria história. Nos bastidores da empresa, promove profundas reestruturações -das lojas ao pessoal, das fragrâncias às campanhas. No desfile, realiza à moda das grandes encenações da corte francesa um grande espetáculo -por si um acontecimento.
Cerca de uma hora antes do horário marcado no convite (preto), começa a movimentação na pequena rue de Varennes, área dos ministérios em Paris. Os convidados chegam, com suas melhores roupas (pretas). Quem tem, não hesita em vestir Saint Laurent, e são muitas as sandálias pesadas de tiras cruzadas, as bolsas mombasa, as animal prints da última coleção.
Atravessar os portões e passar pelo carpete roxo, entre as sensuais estátuas de Rodin, dá um frio na barriga adolescente, mas o frisson lá dentro é coisa de gente grande.
Champagne, aroma de perfumes, espelhos, acrílico (preto) e árvores secas. É o chic contemporâneo, o novo estilo Saint Laurent by Tom Ford.
Vagarosamente, os convidados se sentam, a mágica vai começar. Ao som de Janis Joplin, os olhares mais curiosos do mundo dissecam, finalmente, o primeiro look. É a exótica adolescente Natalia, com um coque meio despenteado, salto alto e... preto.

Nova opulência
Ford faz desfilar uma elegância exclusiva, assinada, ainda que simples e, num certo sentido, discreta. Longe da ostentação, faz dos detalhes sua riqueza, tendo em mangas superbufantes, vindas do século 18, seu maior excesso. No reinado da nova opulência, Ford traz cetins, veludos, lãs e, principalmente, muita transparência, rendas e laços (trés YSL).
Os decotes sugerem; os grandes volumes nos mantôs escondem, o azul tão profundo do veludo cinco estrelas (se) confunde com o preto, quase changeant. É o máximo de cor, com um vinho forte e com o bege do mantô com a cintura marcada em Maria Carla.
O olhar para o passado e a escuridão profunda (alegadamente inspirada em Goya) fazem dos caprichos de Tom Ford na Yves Saint Laurent um exercício do desejo e da luxúria da moda.

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