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TEATRO
Penúltimo dos cinco textos da autora britânica, montado em 98, usa monólogos e tem direção de Rubens Rusche
Sarah Kane evoca arquétipos em "Ânsia"
PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO
Sarah Kane (1971-99) está, de
novo, entre nós. Duas semanas
após aportarem por aqui Isabelle
Huppert e Claude Régy com "4.48
Psychose", chega ao público brasileiro mais uma fração, um quinto da dramaturgia da autora.
Penúltimo dos cinco textos da
curta e intensa obra da moça inglesa que se matou aos 28 anos, o
inédito no Brasil "Ânsia" ("Crave", de 98) estréia amanhã no
Centro Cultural São Paulo em direção e tradução final de Rubens
Rusche, com a 3 de Sangue Cia. de
Teatro. No elenco, Laerte Mello
("Shopping & Fucking"), Nádia
de Lion ("Bilhete"), Bruno Costa
("Gilgamesh") e Solânia Queiroz
("Pobre Super-Homem").
Imediatamente anterior a "4.48
Psychosis" (título original), a peça
mostra quatro personagens, ou
vozes, sem nomes -A, B, C e
M-, que jorram desejos e evocam lembranças em monólogos
justapostos de nexos sugestivos,
sem indicações de rubrica ou desenhos definidos de sentido.
"Essas vozes também têm uma
sexualidade específica, perceptível na própria escrita. Além disso,
parecem representar também arquétipos determinados: A é o homem de meia-idade, mas também Autor, Abusador, Anticristo;
M é a mulher de meia-idade, a
Mãe; B é um jovem e C, uma jovem (boy e child, o rapaz e a
criança, respectivamente)", cita
Rusche no programa da peça.
Mello, de quem partiu a idéia da
montagem, assistiu à estréia
mundial de "Crave" cinco anos
atrás, em Edimburgo, na Escócia.
"Saí do teatro perplexo e com a
certeza de que faria a peça. Comprei o texto de "Ânsia" na saída do
teatro e os outros de Sarah publicados até ali. Mas iria estrear
"Shopping & Fucking", de Mark
Ravenhill. "Ânsia" teria de esperar", recorda o ator.
Rubens Rusche ("Fim de Jogo"), encenador, tradutor e estudioso da obra do irlandês Samuel
Beckett (1906-89), uma das influências preponderantes de Kane, conta que a possibilidade de
dirigi-la, pelo parentesco com "o
território estético da escuridão"
beckettiano, deixou-o relutante a
princípio, pois buscava plagas
mais "solares". Até a solicitação
de Laerte Mello.
Após ler as cinco criações da
dramaturga e ver ecos de "Play",
de Beckett, e de "A Terra Devastada", poema de T.S. Eliot (1888-1965), em "Crave", o diretor buscou atingir um contraponto de silêncio à musicalidade nascida da
"paisagem de palavras".
"Sarah Kane nos dá fôlego, uma
nova luz de resistência contra a
barbárie e a mediocridade. Propõe uma maneira de tentar sempre ressuscitar o teatro, torná-lo
vivo", acrescenta. Quanto à tradução, diz que se valeu da experiência com o escritor da Irlanda.
"Ambos são simples, Sarah e ele
não complicam. Procurei tomar
cuidado com o ritmo, com a métrica. "Crave" não tem tanta gíria,
apesar de a linguagem ser cotidiana. Tende mais ao poético."
Único da 3 de Sangue a estar
presente no palco (a atriz Paula
Lopes faz a assistência de direção), Mello convidou De Lion e
Queiroz para a encenação; o trio,
depois, tratou de convocar Rusche, que trouxe Costa.
O projeto, acalentado há algum
tempo, chegou a ter concretização
noticiada para agosto de 2002. O
grupo prevê ainda executar a primeira criação de Kane, "Blasted",
com direção de Marco Antonio
Rodrigues. Cenários e figurinos
de "Crave" são de Sylvia Moreira
("Almoço na Casa do Sr. Ludwig"). A cenografia, segundo Rusche, cria nichos que recordam o
cimento pelo qual os habitantes
das cidades estão rodeados.
Nem Laerte Mello nem Rubens
Rusche viram a montagem de
Claude Régy. Os ensaios, segundo
ator e diretor, atrapalharam a escapada até o Sesc Consolação.
ÂNSIA. Texto: Sarah Kane. Direção:
Rubens Rusche. Com: 3 de Sangue Cia. de
Teatro. Onde: Centro Cultural São Paulo
-0sala Jardel Filho (r. Vergueiro, 1.000,
SP, tel 0/xx/11/3277-3611, r. 271).
Quando: estréia amanhã, às 21h; sex. e
sáb., às 21h; dom., às 20h; até 20/4. 60
min. 12 anos. Quanto: R$ 10.
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