São Paulo, sábado, 13 de março de 2004

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ENTRELINHAS

O livro em curso

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado editorial sempre alardeia que o cenário do livro no país está feio, mas é um quadro-negro nada pessimista o que tem se reproduzido no setor. O quadro-negro das salas de aula. Nunca houve no país tantos cursos voltados para o segmento. Além da veterana Escola do Livro, da CBL, e da Universidade do Livro, da Fundação Editora Unesp, que já ofereciam (e vêm aumentando a oferta de) aulas de curto prazo, o mercado terá neste ano a consolidação dos cursos de longa duração.
O "Publishing Management", que está sendo dado na FGV do Rio, terá sua "dissidência" "Programa de Formação Executiva na Indústria do Livro" começando no dia 6 de abril na ESPM-RJ, ambos com duração de mais de 180 horas de aula e profissionais de primeira linha.
Agora será a vez de São Paulo. O "Publishing Management" deverá ter versão na FGV-SP em junho/julho e a CBL deve inaugurar em 3 de maio o Curso de Aperfeiçoamento para Executivos do Mercado Editorial, na FEA-USP e na sua parceira FIA.
"O mercado editorial está vivendo uma profissionalização espantosa", diz Miriam Goldfeder, da Universidade do Livro.

ATAQUE PIRATA
Os capitães gancho do livro terão de abrir bem seus olhos de vidro. As duas principais entidades que combatem a pirataria no setor, que morde cerca de R$ 350 milhões/ano das editoras, vão anunciar na terça, na CBL, sua fusão. A Abpdea (Associação Brasileira de Proteção de Direitos Editoriais e Autorais) e a ABDR (Associação Brasileira de Direitos Reprográficos) vão se juntar sob o nome de ABDR.

MULHERES DE ATENAS
Miguel Reale Jr., ex-ministro da Justiça, vai estrear na ficção. Ele lança "Dez Mulheres" (ed. Best Seller), contos sobre personagens chamadas Alzira, Cleonice etc., no final do mês.

AUMENTA UM PONTO
A Companhia das Letras vai começar no final do semestre uma coleção caprichada de livros de contos. Os primeiros volumes serão Isaac Bashevis Singer (47 contos do autor ídiche), Scott Fitzgerald (narrativas traduzidas por Ruy Castro) e "Contos Fantásticos", narrativas fantásticas escolhidas e apresentadas por Italo Calvino.

APARECEU A MARGARIDA
Autora de livros que levam a fama de "Bridget Jones à lusitana", a portuguesa Margarida Rebelo Pinto (que vendeu 500 mil "Não Há Coincidências" em Portugal) confirmou presença na Bienal de SP. Ela lança "Sei Lá" pela Record.

GRANDE SERTÃO
O incansável Curt Meyer-Clason, 93 anos, que traduziu as melhores ficções brasileiras ao alemão (como Guimarães Rosa), acaba de assinar mais uma. A editora Calibán está lançando "O Silêncio no Aquário", do poeta Majela Colares, com suas versões em alemão.

VAPT-VUPT
O Fome do Livro, da Biblioteca Nacional, que vai abrir bibliotecas Brasil afora, foi testemunha de uma façanha. A editora Revan se alistou para o programa 30 segundos após a abertura das inscrições (que podem ser feitas até quinta).

@ - elek@folhasp.com.br

FORA DA ESTANTE

Do novo epicentro dos pesadelos terroristas, Madri, veio um dos pessimismos mais bonitos que a história da poesia já registrou, a obra de Antonio Machado (1875-1939). Nascido em Sevilha, mas poeta da capital espanhola, o autor do popularíssimo (e mais otimista) "caminante, no hay camino/ se hace camino al andar" (caminhante, não há caminho/ faz-se caminho ao andar) não atingiu a popularidade de García Lorca, mas o superou, na opinião de muitos críticos (como Otto Maria Carpeaux, que o considerava "o mestre da poesia espanhola moderna"). Machado, que durante a Guerra Civil Espanhola narrou uma Madri "sorrindo com chumbo nas entranhas", faz falta para descrever os horrores de 11 de março. Sua poesia, feita da "gramática lírica do hoje que será amanhã, do ontem que é ainda", também faz falta nas estantes brasileiras, que dela nada têm.


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