São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 2006

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CINEMA

Jacob do Bandolim faz auto-retrato na tela

DA REPORTAGEM LOCAL

Entre "A Casa Tomada" e "O Choro Dele", dupla de filmes que o Canal Brasil exibe hoje na faixa "Curtas Clássicos", o primeiro não chega a ser propriamente merecedor da designação de clássico.
Realizado em 1972 como alegoria da repressão política que, num crescendo, subtrai a autoconfiança, instaura o medo, invade a privacidade e, por fim, despoja a cidadania de pessoas comuns, "A Casa Tomada", de Paulo Mendonça, baseado em texto de Julio Cortázar (1914-1984), não sobreviveu robusto ao tempo.
Já "O Choro Dele" (1975), de Leilany Fernandes, temperado por flagrantes do cotidiano carioca, está intacto, assim como a figura de seu personagem, o mestre do choro Jacob do Bandolim.
É da hábil mistura de arquivos de som e imagens de Jacob que o filme extrai sua força e seu charme, imune até ao deslize de uma narração em off por vezes excessivamente sentimental .
Pois Jacob pinta seu auto-retrato com humor e graça, voltando ao dia número um de sua vida, na maternidade Laranjeiras.
À moda do escrivão de vara criminal que era, descreve-se como se preenchesse a ficha de um réu. "Vou qualificando-me", diz.
E qualifica a infância vivida "sem companheiros, tinha apenas um velocípede e um cachorro chamado Príncipe", que terminou salva da monotonia por um bandolim ganho de presente.
O arrebatamento proporcionado pela música segue pela vida adulta. "Tem que me botar em prantos, em estado de infarto. Aí funciona", descreve.
A paixão é também o signo de suas comparações entre o choro e o samba ou o iê-iê-iê, nas quais ele toma inarredável partido do primeiro, ainda que com certa inquietação. "Não se compreende um choro sem um quintal. E os quintais estão rareando dia a dia."
Em 1969, aos 51 anos, Jacob sofreu seu terceiro infarto. Dessa vez, de tanto bater seu coração parou. (SILVANA ARANTES)


Curtas Clássicos - "A Casa Tomada" e "O Choro Dele"
Quando:
hoje, às 19h30, no Canal Brasil


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