São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 2006

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MERCADO EDITORIAL

Redes de livrarias cobram para exposição de títulos em seus sites; Fnac e Cultura admitem prática

Compra de "vitrine" ocorre também na web

RAFAEL CARIELLO
ISABELLE MOREIRA LIMA

DA REPORTAGEM LOCAL

Não são só as vitrines e espaços nobres "reais" que as grandes redes de livrarias vendem para as editoras, como maneira de dar maior visibilidade a seus produtos -os livros- e assim aumentar as vendas. O espaço "virtual", muitas vezes, também é tabelado.
Cadeias como Saraiva, Fnac e Livraria Cultura cobram pela exposição de obras em seus sites, em ações que podem ou não ser casadas com a venda de pontos nobres nas livrarias.
Segundo tabela de preços da Livraria Cultura a que a Folha teve acesso, 15 dias de exposição de uma obra no site da rede custam R$ 300. Na Fnac, a reportagem tomou conhecimento de operações casadas de venda de local nobre nas lojas, as "pontas de gôndola", com dez dias de exposição no site por R$ 2.000.
A cobrança é uma extensão da prática revelada ontem pela Folha de venda da visibilidade de obras nas grandes redes de livrarias do país. As redes estabelecem preços para colocar livros em destaque, sem que os clientes tenham conhecimento do que é indicação dos livreiros e do que é espaço comprado pelas editoras.
Embora os preços sejam tabelados em reais, o pagamento, de forma geral, é feito em mercadoria pelas editoras. Isso significa maior volume de livros por preço mais baixo para as livrarias, ou seja, um desconto no preço de venda acordado com as editoras.
Questionadas pela Folha, Fnac e Cultura reafirmaram, para a venda de espaço e destaque nos sites, o que haviam dito sobre a mesma prática nas lojas "reais".
Sergio Herz, diretor da Cultura, afirmou na semana passada que apenas uma parte minoritária das vitrines e indicações no interior das lojas da rede eram comercializáveis e que, mesmo nesses casos, era a qualidade do livro que contava em última instância -do contrário, disse, não haveria nem possibilidade de negociação.
Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa da Livraria Cultura afirmou que valia o mesmo para os sites. Apenas uma pequena fatia, "inferior a 15%" dos casos de livros com destaque no site, seria resultante de vendas.
Também a Fnac, que igualmente havia declarado que a lógica comercial era a que menos contava na escolha de indicações de livros em sua loja, embora não negassem a venda de espaços de destaque, disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que os mesmos princípios valiam para o site: apenas uma pequena fração das obras expostas é resultado da venda de espaço e, em todo caso, é a qualidade do livro que conta.
Questionado sobre a prática, Ivo Camargo, diretor de vendas da Ediouro, uma das principais editoras do país, disse que ela é comum a todas as grandes redes. "Tem também o problema do site. As livrarias usam, têm que sobreviver, elas não estão erradas. Que liste a livraria que não faz. São todas. O que você está me falando é verdade, mas isso faz parte, é o comércio, tem que existir", disse Camargo.


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