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MERCADO EDITORIAL
Redes de livrarias cobram para exposição de títulos em seus sites; Fnac e Cultura admitem prática
Compra de "vitrine" ocorre também na web
RAFAEL CARIELLO
ISABELLE MOREIRA LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
Não são só as vitrines e espaços
nobres "reais" que as grandes redes de livrarias vendem para as
editoras, como maneira de dar
maior visibilidade a seus produtos -os livros- e assim aumentar as vendas. O espaço "virtual",
muitas vezes, também é tabelado.
Cadeias como Saraiva, Fnac e
Livraria Cultura cobram pela exposição de obras em seus sites, em
ações que podem ou não ser casadas com a venda de pontos nobres nas livrarias.
Segundo tabela de preços da Livraria Cultura a que a Folha teve
acesso, 15 dias de exposição de
uma obra no site da rede custam
R$ 300. Na Fnac, a reportagem tomou conhecimento de operações
casadas de venda de local nobre
nas lojas, as "pontas de gôndola",
com dez dias de exposição no site
por R$ 2.000.
A cobrança é uma extensão da
prática revelada ontem pela Folha
de venda da visibilidade de obras
nas grandes redes de livrarias do
país. As redes estabelecem preços
para colocar livros em destaque,
sem que os clientes tenham conhecimento do que é indicação
dos livreiros e do que é espaço
comprado pelas editoras.
Embora os preços sejam tabelados em reais, o pagamento, de
forma geral, é feito em mercadoria pelas editoras. Isso significa
maior volume de livros por preço
mais baixo para as livrarias, ou seja, um desconto no preço de venda acordado com as editoras.
Questionadas pela Folha, Fnac e
Cultura reafirmaram, para a venda de espaço e destaque nos sites,
o que haviam dito sobre a mesma
prática nas lojas "reais".
Sergio Herz, diretor da Cultura,
afirmou na semana passada que
apenas uma parte minoritária das
vitrines e indicações no interior
das lojas da rede eram comercializáveis e que, mesmo nesses casos,
era a qualidade do livro que contava em última instância -do
contrário, disse, não haveria nem
possibilidade de negociação.
Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa da Livraria Cultura afirmou que valia o mesmo
para os sites. Apenas uma pequena fatia, "inferior a 15%" dos casos de livros com destaque no site,
seria resultante de vendas.
Também a Fnac, que igualmente havia declarado que a lógica comercial era a que menos contava
na escolha de indicações de livros
em sua loja, embora não negassem a venda de espaços de destaque, disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que os mesmos princípios valiam para o site:
apenas uma pequena fração das
obras expostas é resultado da venda de espaço e, em todo caso, é a
qualidade do livro que conta.
Questionado sobre a prática,
Ivo Camargo, diretor de vendas
da Ediouro, uma das principais
editoras do país, disse que ela é
comum a todas as grandes redes.
"Tem também o problema do site. As livrarias usam, têm que sobreviver, elas não estão erradas.
Que liste a livraria que não faz.
São todas. O que você está me falando é verdade, mas isso faz parte, é o comércio, tem que existir",
disse Camargo.
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