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comida
Galã delivery
Da televisão para um teatro perto de você: chef Olivier Anquier faz sua estréia nos palcos com espetáculo em que a platéia escolhe um menu expresso, ajuda a prepará-lo e, ao final, ainda degusta os pratos
Roberto Setton/Folha Imagem
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O chef, padeiro e apresentador de TV ensaia "Olivier, Fusca e Fogão"
JANAINA FIDALGO
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Soa o terceiro sinal no teatro
Aliança Francesa. Na abertura
das cortinas, em vez de um burguês cínico talhado por Molière
ou da dramaturgia experimental do Théâtre du Soleil, surge
um brasileiro "de origine" francesa algo estabanado, o chef,
padeiro e apresentador de televisão Olivier Anquier, 48, que
se naturalizou há oito meses.
"Gente, olha a sujeira que ele
faz... Se fosse na minha cozinha,
eu o mataria!", pensa alto, como se estivesse no sofá de casa,
uma espectadora do ensaio de
"Olivier, Fusca e Fogão", primeira incursão do cozinheiro
nos palcos, que estréia neste
domingo. Não à toa. Em cena, o
protagonista segue à risca a receita teatral de gestos expansivos: joga mais sal no chão do
que na panela, derruba a espátula e esquece a frigideira no fogo até o azeite virar fumaça.
Apesar de o tripé cenário-iluminação-platéia sugerir uma
encenação tradicional, Anquier
tem outra percepção de seu novo projeto. "Teatro não pode
ser. Não tem representação de
personagem. Interpreto o que
eu sou, sem nenhum artifício
ou fantasia. Sou incapaz de inventar um personagem de ficção, não consigo decorar três linhas. Só se for esse personagem
que criei ao longo dos anos."
A constatação de que a cozinha lhe renderia mais louros do
que a carreira de ator veio depois de uma ponta (pouco memorável) no thriller "O Satânico Mister Frost" (1990), com
Jeff Goldblum. "Apesar de ter
sido sondado desde jovem, inclusive para fazer novela no
Brasil, logo entendi que era um
péssimo ator."
Assim, no lugar da dramaturgia, "causos" recolhidos ao longo de uma década de viagens
pelo Brasil e mostrados no programa "Diário do Olivier" temperam uma aula expressa,
cheia de "trucuzinhos" (no português enviesado de Anquier)
para descomplicar a cozinha.
Desdobramento das aulas-show com que o padeiro corre o
Brasil, a idéia foi fermentada
por Pedro Mattar, que assina o
"roteiro". Entre aspas porque,
segundo o chef, "Olivier, Fusca
e Fogão" não segue um texto:
"Tenho só as marcações. A seqüência de temas está definida.
A maneira de contar, o fio que
vai ligar uma coisa à outra é que
é improvisação. É tudo em função da "réceptivité" do público".
E ela, a re-cep-ti-vi-da-de,
não se abala nem diante de seus
tropeços no português. Os neologismos incluem "castéis" de
areia, medidas calculadas
"aproximativamente" e iguarias servidas em "platões".
Self-service
As escorregadas lingüísticas,
não se engane, são só mais um
artifício para laçar a platéia,
que, a certa altura, escolhe o
menu a ser preparado numa cozinha nada cenográfica: jantar
romântico para dois ("Três é
outra coisa"), soluções de frigideira e jantar inesperado. Aos
domingos, a pedida é sempre o
bê-á-bá do preparo de um pão.
Em seguida, Anquier convida
espectadores a subir ao palco e
botar a mão na massa. A recompensa pelo "mico" de brincar de
"assistente de Ofélia" na frente
de 230 pessoas é poder provar
todos os pratos feitos em cena.
"O mais complicado foi construir esses cardápios. Levei em
conta os ingredientes utilizados, a facilidade de execução e
compreensão e o aspecto "espetacular". Desejo que o público
reproduza as receitas em casa."
"Intimidade carinhosa"
É difícil acreditar que um homem bonito como Anquier não
receba cantadas do mulherio.
"Quem criou essa imagem [de
galã] foram vocês [a mídia].
Meu público é um pouco mais
feminino, mas fico orgulhoso
quando um barbudo vem me
dizer "parabéns!'", desconversa.
"Tenho sorte de não sentir os
efeitos da palavra assédio, que
considero algo agressivo. As
pessoas se aproximam de mim
com uma intimidade carinhosa, como se eu fosse "de casa"."
Essa proximidade foi cultivada na TV desde 1996, em passagens por Globo, GNT e Record.
Da última, saiu em 2007, por
não ser "ladrão de tempo". "Eu
não estava à vontade, não consigo ser uma coisa ali só para
passar o tempo. Mas eu vou voltar, voltar na Record", garante.
E se a fome já batia em quem
acompanhava as receitas do
chef pela televisão, ao vivo a experiência chega às raias da tortura. Aos desafortunados que
não fizerem companhia a Anquier no palco quando ele soltar seus "Et voilà!" (senha que
anuncia a finalização do prato),
restará o consolo de um kit de
"primeiros socorros" dado na
entrada: pão e queijo.
OLIVIER, FUSCA E FOGÃO
Quando: estréia 16/3; temporada
sex. e sáb., às 21h; dom., às 18h; de
16/3 a 1º/6
Onde: teatro Aliança Francesa (r.
General Jardim, 182, Vila Buarque,
tel. 0/xx/11/3188-4141)
Quanto: R$ 60
assista a trecho do espetáculo
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