São Paulo, sexta-feira, 13 de março de 2009

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Padecer no paraíso

Com quatro filhos pequenos, Cássia Kiss interpreta mães em conflito em "Paraíso", nova novela da Globo, no cinema e no teatro

Frederico Rozário/TV Globo
MÃE NA TV
A atriz é Mariana, que tenta transformar em santa a filha, mocinha da novela da Globo

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Cássia Kiss pede "um minutinho" na entrevista: "Não, filho, sorvete só amanhã. Hoje você pode comer açaí". De novo, "só um segundinho". "Acabou a lição? Você não vai colorir? Quer que a mamãe veja?".
Pouco antes, a atriz, 51, que tem quatro filhos pequenos -o caçula, de quase cinco anos, ainda mama no peito-, falava à Folha sobre o fato de viver neste momento, além da vida real, o papel de outras três mães.
Na TV, será Mariana, que tenta transformar em santa a filha, mocinha da novela "Paraíso", de Benedito Ruy Barbosa, no ar a partir de segunda na Globo. No cinema, em "A Festa da Menina Morta", de Matheus Nachtergaele, com estreia prevista para junho, é mãe de Santinho (Daniel de Oliveira), para quem aparece anos após se matar. No teatro, faz Amanda, que lida com a timidez patológica da filha, em "Zoológico de Vidro" (texto de Tennessee Williams), cuja turnê pelo país se inicia neste mês, após temporada de sucesso em São Paulo.
São três mães em conflito. "Maternidade é conflito. É uma encrenca. Maravilhosa, mas encrenca, o maior problema que se pode encontrar na vida. Para quem gosta de crise -e vamos combinar que a gente não vive sem isso-, um problema de verdade é filho", diz Cássia.
Ela é figura frequente de reportagens no Dia das Mães, porque tem quatro filhos, porque teve dois após os 40 anos, porque defende a amamentação ("Meu caçula, que vai fazer cinco, uma vez por semana diz "Quero peitinho". Mama dez segundos e sai. É puro afeto"). Já declarou ter se curado de uma bulimia com o nascimento de seu primeiro filho, hoje com 12 anos. "Precisava de um problema desse tamanho para viver bem", comenta ela, que já teve transtorno bipolar.
"Hoje tenho sete problemas. Além dos meus quatro, tem os dois filhos adultos do meu marido, que são maravilhosos, e a filha da minha cozinheira."
Para a atriz, "deveria ser proibido ter um filho só". "A partir do segundo você foca o que interessa. Quando nasceu meu quarto, não tinha nem enxoval. Falei: "Enrola em um lençol e acabou". É simples."
Ela é casada com um psicanalista, João Baptista Magro, 57. "É ótimo. De madrugada, digo que estou sem sono, e ele fala: "Então vamos conversar"."

"Barriga de Aluguel"
Não é de hoje que Cássia experimenta papéis marcados pela maternidade. "Tive vontade de ser mãe quando fiz [Maria Marruá em] "Pantanal" [Benedito Ruy Barbosa, 1990]. Na cena antológica em que ela paria no rio Negro, dentro de uma canoa, pensei: "Caramba, preciso ter filho". Fiquei alucinada. Em seguida, fiz [a protagonista de] "Barriga de Aluguel" [Glória Perez, 1990/91] e fiquei catando um homem que quisesse ter filho comigo. Não procurava nem um grande amor."
Além das mães, tem encarado o drama em outros papéis, como a juíza do filme "Meu Nome Não É Johnny" (2007) e a frequentadora do baile da terceira idade trocada por uma garota em "Chega de Saudade" (2008). "A vida é um drama. Se me disser que é comédia, vou dizer que não sabe nada da vida. Você pode dar muita risada, mas a vida é um dramalhaço."
Um bom exemplo, diz, é sua própria história. "Minha vida é um grande drama. Já fiquei sem ter onde dormir e o que comer. Dormi debaixo de um banco porque estava chovendo e fiquei 50 dias comendo só arroz integral, que era o que podia comprar. O motorista do ônibus me deixava entrar pela porta da frente para não pagar. Tem um lado dramático, mas tem uma experiência maravilhosa de levar uma vida austera. Quero cada vez mais ter uma vida espartana, em que minha casa só tenha coisas úteis."
Rebelde na adolescência, ouviu da mãe, aos 16, "vai cuidar da sua vida, vai passear". Ela foi, e passou por dificuldades até se profissionalizar no teatro e entrar na Globo, na década de 80.
Hoje, além de ter vontade de escrever um livro sobre maternidade, 31 anos após iniciar a carreira sonha fazer Hamlet, o próprio príncipe. "Só temo estar muito velha para o papel."


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