São Paulo, Sábado, 13 de Março de 1999
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Globo Filmes começa bem, mas desiste de sua distribuidora


Lançadas no verão, fitas de Renato Aragão e Angélica atingem 2,4 milhões de espectadores


NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

Os primeiros passos da Globo Filmes, subsidiária da Rede Globo para o cinema, foram bem-sucedidos, nos números. Os filmes "Simão, o Fantasma Trapalhão", com Renato Aragão, e "Zoando na TV", com Angélica, obtiveram bilheterias elevadas desde os lançamentos, respectivamente, no Natal e em 15 de janeiro.
Foram 1,59 milhão de espectadores para "Simão" e 866 mil para "Zoando na TV", até o último dia 4, no levantamento mais recente da Filme B, empresa de consultoria que acompanha o mercado de cinema no país. As bilheterias já estão em queda e não devem passar muito desses números.
Diante de concorrentes diretos e bem divulgados como "Vida de Inseto", da Disney, que alcançou até agora 2,18 milhões de espectadores no país, e "O Príncipe do Egito", da Dreamworks de Steven Spielberg, que alcançou 1,1 milhão, são resultados competitivos para a estreante Globo Filmes.
Os mais de 2,4 milhões de espectadores somados permitiram ao empreendimento, segundo Luiz Gleiser, diretor da Globo Filmes, sair desde já do vermelho.

Distribuição
Mas não foi o bastante para a Globo se arriscar na distribuição. Há cerca de um mês, saiu da Globo Filmes o diretor de projetos de cinema, Marco Aurélio Marcondes, levando o projeto frustrado da distribuidora de filmes, que competiria com os grupos estrangeiros estabelecidos no país.
Os dois primeiros filmes foram distribuídos pela Columbia. O próximo, "Orfeu", que estréia dia 16 de abril, sai pela Warner. "A Globo optou por esse caminho", diz Marcondes. "No momento em que se verificou que o desejo da companhia era ficar cuidando da produção, neste momento, nós chegamos à conclusão de que não tinha sentido eu ficar ali."
Luiz Gleiser, questionado sobre a desistência de montar a distribuidora, disse apenas, repetidamente: "Nós somos produtores de conteúdo. É a nossa prioridade".
O cineasta Paulo Thiago, que vem alertando para os riscos envolvidos na Globo Filmes, vê de outra maneira o episódio: "Falavam: "A Globo vai entrar e vai resolver o problema do cinema brasileiro". A Globo é poderosa na TV. No cinema, teve que ser distribuída pela Columbia. Não conseguiu montar uma distribuidora".
Para ele, o problema é que as três grandes distribuidoras (agrupando Sony/Columbia TriStar/ Disney, UIP e Fox/Warner) lotearam o mercado e, além da ampla oferta de filmes, chegam a gastar mais de US$ 1 milhão nos lançamentos. "Não tem para a Globo. Não tem para ninguém."
Marcondes, que foi para a nascente Globo Filmes dois anos atrás para montar a distribuidora, concorda: "Para você ter uma distribuidora, você tem que ter escala. Pode produzir ou adquirir filmes, mas tem que ter escala. Para distribuir seis filmes por ano, a melhor opção é mesmo alugar a distribuidora de alguém".
Paulo Sérgio Almeida, diretor da Filme B, que monitora o mercado de cinema, fala em frustração: "Havia uma grande expectativa, mas a Globo não estaria disposta a fazer grandes investimentos. Quer trabalhar com quatro a seis filmes por ano. Não precisa de uma distribuidora, que custa no mínimo US$ 2 milhões por ano".

Vídeo
Os objetivos de Luiz Gleiser na Globo Filmes em 99 incluem produções que "ampliem o espectro", atingindo "públicos mais restritos", e a entrada em vídeo. Em maio sai "Zoando na TV", depois "Simão". "Esperamos igual sucesso com os vídeos", diz.
Entre os filmes a serem produzidos, estão "Senhorita Simpson", de Bruno Barreto, os novos veículos de Renato Aragão e Xuxa e a adaptação para cinema da peça "A Partilha", de Miguel Falabella.


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