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ARTES PLÁSTICAS
Escultor ganha retrospectiva de 50 anos de carreira em Madri; mostra terá versão brasileira este ano
Espanhol Chillida elimina os excessos
CELSO FIORAVANTE
enviado especial a Madri
O artista plástico espanhol (do
País Basco) Eduardo Chillida é conhecido especialmente por sua
tendência à gigantomaquia (criação de obras em grande escala para
espaço públicos). Realiza esculturas que ultrapassam o peso de cinco toneladas e que estão muito
bem fixadas em seus lugares de
destino.
Isso, porém, não impossibilita
que o Brasil venha a ver, nos
MAMs do Rio e de São Paulo, no final deste ano e início do próximo,
se o "Patrocinador" quiser, uma
retrospectiva abrangente do mais
importante escultor espanhol vivo.
Trata-se de uma versão reduzida
da megaretrospectiva que o Centro de Arte Reina Sofia, em Madri,
exibe atualmente.
Tratar Chillida como grandioso
vem a ser pleonasmo, seja pela escala de seus trabalhos, seja pelo
conceito primordial de sua produção: estabelecer uma nova relação
entre o homem e seu meio.
Energia do vazio
A produção de Chillida é baseada
na eliminação do que é excessivo e
na captação da energia do vazio.
Essa proposta -trabalhada principalmente em suas grandes obras
públicas, como no "Monumento à
Tolerância" (Sevilha), "Elogio do
Horizonte" (Girona, Espanha) e
"Portas da Liberdade" (Münster,
Alemanha)- parte do conceito de
"Temenos", palavra grega que designa o local escolhido para honrar
o rei e seus melhores guerreiros.
Assim, da mesma forma que para
os gregos existem espaços reservado à divindade, para Chillida, o espaço da escultura deve se impor
por seu silêncio carregado de significados para assim se configurar
em um espaço místico e poético.
Para ele, além do espaço, o escultor trabalha também com o vazio,
da mesma forma que a música só
se realiza a partir da conjunção de
som e silêncio.
"A concepção espacial da escultura de Chillida designa uma brecha e marca uma ponte entre a experiência existencial que temos do
espaço e o conhecimento científico
do mesmo", escreveu o crítico
Kosme de Barañano em um dos
textos do catálogo da mostra no
Reina Sofia. "É a representação de
uma concepção irrepresentável, é
uma estética de uma nova projeção
cognoscitiva que tenta dar um novo sentido ao lugar, ao espaço",
complementou.
Chillida começou sua carreira artística em 1947, depois de abandonar outras duas carreiras: a de arquiteto e a de jogador de futebol
(era um goleiro em ascensão no
Real Sociedad, mas uma lesão no
joelho o tirou de campo para sempre).
Figuração e geometria
Nos primeiros anos, chegou a
produzir esculturas figurativas em
gesso, como "Torso" (1948) e "Yacente" (1949), ambas no Reina Sofia, em Madri.
A figuração, porém, logo deu lugar aos planos e formas geométricos moldados em ferro, mas também em madeira, granito, alabastro, aço e terracota.
Em alguns poucos trabalhos,
Eduardo Chillida chega a trabalhar
com mais de um material, como na
escultura "Yunque de Sueños"
(1962), que pertence ao acervo da
Telefónica (empresa que possui
grande coleção de arte contemporânea em seu país de origem e que
se instalou recentemente no Brasil
para explorar a telefonia).
Chillida cria obras silenciosas,
em que vazios e saliências se conformam em total harmonia, embora sem qualquer lógica possível,
demonstrando uma certa indecisão entre as curvas e os ângulos, algo que rende à produção do artista
uma sedutora organicidade, como
se a racionalidade fosse tomada de
improviso pela invenção.
Mas, em 50 anos de carreira e 75
de vida, Chillida não realizou apenas esculturas. Também produziu
uma extensa obra gráfica e milhares de desenhos (grande parte autônomos e não projetos de esculturas). Tamanha quantidade se deve
também a outra característica do
artista: a serialização do trabalho.
Isso, porém, não quer dizer que
Chillida produza trabalhos em série, como múltiplos e gravuras de
grande tiragem. A serialização significa a dedicação durante anos ou
mesmo décadas a uma fórmula,
material ou problemática desenvolvidos por ele.
Hibridismo
A série "Gravitações", por exemplo, é composta por obras em papel produzidas desde 1987. São folhas de papel superpostas, que recebem intervenções de desenho ou
pintura e que são expostas penduradas por fios. Elas podem ser definidas como desenhos, colagens,
gravuras, relevos ou mesmo móbiles, já que são suspensas no ar.
Mesmo nesses trabalhos, o que
prevalece são questões gerais da
obra do artista, como gravidade e
espaço. As "gravitações" parecem
folhas de papel acomodadas, mas
estão em constante tensão com o
espaço circundante.
A complexidade e invenção da
obra do artista espanhol fez com
que ela fugisse do domínio do artístico e interessasse, além de críticos e artistas, também filósofos
(Gaston Bachelard, Martin Heidegger), arquitetos (I.M. Pei, Juan
Daniel Fullaondo), poetas (Octavio Paz) e outros.
A versão sul-americana da mostra de Eduardo Chillida contará
com 137 obras, divididas em esculturas em ferro, granito e alabastro,
desenhos, "Lurras" e "Gravitações" (veja quadro abaixo).
Sua primeira escala é no Museu
de Belas Artes de Buenos Aires, em
agosto. Em novembro, a mostra
chega ao MAM-Rio. O MAM-SP
recebe o evento entre fevereiro e
março de 2000.
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