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SAYÃO E VILLA-LOBOS
Juntos até o fim
IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha
Embora tenha brilhado intensamente no Metropolitan de Nova
York, a soprano carioca Bidu Sayão teve seu maior êxito fonográfico com uma melodia brasileira: a
ária das "Bachianas Brasileiras nº
5", de Villa-Lobos. Sem o segundo
movimento, a peça foi gravada em
1945, durante uma viagem do compositor aos EUA, com regência do
próprio Villa-Lobos e a participação especial de Leonard Rosa -à
época, primeiro violoncelo da Filarmônica de Nova York.
Editado pela Columbia, o disco
obteve enorme sucesso, sendo votado, em 1984, para o Grammy Hall
of Fame -uma espécie de premiação retroativa para contemplar as
melhores gravações da época em
que o principal troféu da indústria
fonográfica ainda não existia.
A relação entre a cantora e o
compositor remontava a um período no qual nenhum dos dois
ainda havia atingido fama internacional. Quando Villa-Lobos, em
1924, promoveu concertos em Paris críticos franceses e norte-americanos destacaram o talento da jovem Sayão, louvando a pureza do
timbre e a afinação.
Desde então, a soprano interpretou e gravou canções de outros
compositores brasileiros, como
Ernani Braga, e cantou ainda o papel de Ceci na ópera "Il Guarany",
de Carlos Gomes.
Mas sua predileção era mesmo
Villa-Lobos, o que acabaria por se
revelar na década de 50. A cantora
pendurou as chuteiras em 57; no
ano seguinte, mal de dinheiro e de
saúde, o compositor escreveu, para a Metro Goldwin-Mayer, a trilha
sonora do filme "A Flor Que Não
Morreu" ("Green Mansions"), de
Mel Ferrer, com Anthony Perkins
e Audrey Hepburn. Porém, o resultado levado às telas -e malhado pela crítica da época- foi uma
versão bastante modificada da
partitura de Villa-Lobos, assinada
por Bronislaw Kaper.
Irritado, o compositor resolveu
mostrar ao mundo como sua música era na realidade, transformando a trilha do filme em "Floresta do
Amazonas", poema sinfônico para
soprano, coro masculino e orquestra. Para a gravação, sob sua regência, com a Symphony of the Air Orchestra, convidou Bidu Sayão
-que, embora resolvida a não
mais soltar a voz em público, não
podia recusar o convite do amigo.
Foi o canto do cisne de ambos.
Villa-Lobos faleceu em 17 de novembro do mesmo ano, e Sayão
nunca mais teve motivos para voltar a cantar profissionalmente.
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