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Não sou santa, diz Sandy
Com novo disco e uma canção-desabafo, dupla tenta enterrar rótulo de brega infantil e mostrar face menos careta
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
É tarde de segunda-feira e estamos em um prédio comercial no
Jardim Guarani, próximo ao estádio do Guarani, em Campinas.
Dos sete andares do edifício, o
quarto e o quinto pertencem à
S&J Management, o escritório de
Sandy & Júnior. Sandy está um
pouco atrasada, mas, quando ela
entra na sala de reuniões do escritório, percebe-se que algo mudou
bastante. Os cabelos estão diferentes. E aquele decote...
Sandy, 23, está ruiva, e veste
uma blusinha verde com os botões estrategicamente abertos. As
unhas bem vermelhas, o braço coberto por pulseiras e os dedos
destacam alguns anéis. O rosto,
muito maquiado, e o corpo pequeno faz pensar que estamos
diante de uma boneca de porcelana, uma princesinha intocável.
Mas não é bem assim.
Ao lado do irmão, ela lança no
mês que vem novo disco (o 15º da
carreira) homônimo. A Folha teve acesso a cinco das canções
-quatro delas ouvidas no mini
iPod de Sandy, pois a cantora,
perfeccionista, achou o aparelho
de som da sala "não muito bom".
Depois, em entrevista separada,
Júnior mostraria "Nas Mãos da
Sorte", que tem a participação do
americano Black Eyed Peas e de
Milton Nascimento recitando um
rap de Gabriel, o Pensador.
Diferentemente da irmã, Júnior,
um ano mais novo, aparece de visual "desleixado": com uma camiseta com a estampa "Bahia de
Todos os Santos", calça jeans rasgada, tênis sujos e barbicha. Suas
frases normalmente terminam
com um "tá ligado?" e não se acanha em distribuir "porras" e
"merdas" no meio das frases. Parece muito mais "real", menos
inatingível do que a parceira.
Uma das canções é "Discutível
Perfeição", escrita por Sandy e pela amiga Tatiana Parra, que já
cantou com o duo. Entre outras
coisas, ela diz que "não é madre
Tereza", que "também ouve não"
e que "de boba não tem nada".
"Estou assumindo algumas coisas e metendo o pau em outras",
diz Sandy. "Me irrita a pegação no
pé por parte da imprensa, que inventa muito e fala sempre a mesma coisa. Que eu sou santinha do
pau oco, que sou criancinha. Foi
um desabafo, uma maneira de escancarar o negócio. De dizer chega, não estou nem aí para isso."
A princesa também ouve não?
Quando? "Vixe, ouço não pra caramba na vida. Aqui no escritório,
por exemplo, se dou alguma idéia,
falam: "Não, não gosto". Meu irmão fala não para mim. Amigos,
namorado. Eu costumo dar vários nãos também. Mas sempre
quero saber "por que não"."
Sandy (homenagem à personagem de Olivia Newton-John em
"Grease - Nos Tempos da Brilhantina") Leah (à princesa de
"Guerra nas Estrelas") Lima e
Durval Lima Júnior estão nesse
negócio desde que ela tinha seis e
ele cinco anos. A primeira aparição profissional foi no programa
de TV "Som Brasil". "Eu via uma
galera na frente e achava divertido", diz Júnior, sobre como encarava os primeiros shows.
Desde pequenos, a imagem da
dupla é planejada cuidadosamente -a de Sandy como "princesa
intocável" e a de Júnior, como
menino bonzinho e modelo de
comportamento. A imagem ficou, continua sendo martelada
pela mídia e, agora, eles querem
virar o jogo. "Ficou forte essa imagem, mas não dei motivos para
pensarem isso, a não ser quando
era criança, ou pré-adolescente,
novinha", diz ela. "Me perguntavam: "Você já beijou?". "Não, nunca beijei." "Você tem namorado?"
"Não, não tenho." As coisa acontecem na hora que têm de acontecer, não existe uma regra que diz
que com 13 anos eu já tenha que
ter beijado, ou que com 15 eu tenha que ter namorado."
Sempre visto com mulheres
(como a irmã, está namorando),
Júnior se incomoda com o que falam dele. "Quando eu era moleque, diziam que eu era a sombra
da minha irmã, mas eu tinha
consciência de que era a segunda
voz, enfim, dane-se, não estou
nem aí, foda-se. E chegaram a falar da minha sexualidade..." Isso
seria uma pergunta: o que acha
quando dizem que você é gay?
"Quando falam que sou gay, eu
dou risada. Deixa falar, enquanto
isso eu estou curtindo a vida. Teve
uma vez que foi engraçada. Estava
num show, na época namorava
uma menina e estava abraçado
com ela. E um grupinho de uns
dez gritando: "Veadinho, veadinho". Os caras sozinhos, tá ligado?
Um monte de homens suados,
colados um ao lado do outro... Eu
com a mina cheirosinha e os caras
falando de mim? Eu era o veado?"
Tatuagem
Nos últimos meses, muito se
tem falado sobre uma suposta separação da dupla. Eles negam. Em
parte, o rumor foi alimentado por
eles próprios, com seus projetos
paralelos -Júnior com a banda
Soul Funk, e Sandy com sua face
jazzística; ela cantou standards no
Bourbon Street, em 2005. Ali, finalmente a cantora ganhou respeito da crítica. Quanto a Júnior, é
um músico esforçado. É co-produtor do álbum e toca vários instrumentos em todas as canções.
Com o preconceito de lado, vê-se que Sandy e Júnior são menos
afetados e mais talentosos do que
muita gente do pop e do rock feitos no Brasil. Mas ainda há quem
ache que façam música infantil,
brega.... "É verdade que fazemos
música infantil? Não. É verdade
que fazemos música sertaneja?
Não. Brega? Aí, já é uma coisa relativa, de gosto pessoal. Eu não
acho brega, senão não faria. Tem
gente que acha... Agora, duvido
muito que alguém possa ouvir este CD e falar que é brega... Agora
vai ficar difícil", cutuca Sandy. No
começo do ano, ela fez uma tatuagem na nuca, que não diz o que é
("É uma frase em latim, que tem
um significado para mim").
Os dois já receberam alguns
prêmios e, até por isso, são vítimas de escárnio -do tipo "Por
que a Sandy e não outra?"
"Existem ótimas cantoras no
Brasil, mas algumas não são tão
boas assim..." Quem? "Não vou
falar... E quando encontrar essas
pessoas? Vão falar: "Você me acha
ruim? Por que disse isso publicamente?". Cada um tem o seu momento. Se as outras cantoras não
ganharam [prêmios], elas ainda
podem ganhar. Se forem realmente boas, podem ganhar. Trabalho para ser a melhor, mas sei
que não sou a melhor do país."
Júnior diz que este novo álbum,
gravado nos EUA e no Brasil, com
direção artística do argentino Sebastian Krys, é o primeiro "autoral" da dupla. "Este é nosso, fizemos tudo, corremos atrás de detalhes." "Replay", primeiro single,
começou a ser tocado ontem.
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