São Paulo, sexta-feira, 13 de abril de 2007

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Crítica/"Ventos da Liberdade"

Diretor repete idéias de trabalhos anteriores

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Ken Loach é o mestre de um tipo de cinema político que está completamente fora de moda, o que tem lhe rendido críticas injustas. Velho homem de esquerda, ele sempre se dedicou a denunciar os pequenos poderes que infernizam a vida da classe trabalhadora ("Ladybird, Ladybird", "Meu Nome é Joe", "Sweet Sixteen") ou a discutir, a partir de um foco humano, a tragédia da esquerda, abalada por divisões internas e pela tentação autoritária. Principalmente no contexto do cinema inglês, Loach foi e ainda é um autor de suma importância, ainda que bastante irregular.
No ano passado, com "Ventos da Liberdade", o cineasta finalmente ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes. Um prêmio merecido, sem dúvida, porém conferido mais pelo conjunto da obra do que por esse filme em particular.
Pela trajetória dos irmãos Damien (Cillian Murphy) e Teddy (Padraic Delaney), o filme acompanha a formação da resistência armada contra a dominação britânica na Irlanda no começo da década de 20. O movimento desembocará no Exército Republicano Irlandês, cujas origens históricas, segundo Loach, são constantemente jogadas para debaixo do tapete pela história oficial.
A Inglaterra é um inimigo claro e brutal, representada pelo "Black and Tans", pelotão designado a manter a ocupação da Irlanda a qualquer preço. Contra tamanho poder opressor, a única alternativa parece ser a resistência no formato de guerrilha.
No entanto, quando começam a aparecer os primeiros resultados dessa resistência e a negociação se faz necessária, o grupo que estava unido se esfacela. Loach examina criticamente as origens de décadas de uma violência alimentada tanto pela opressão como por fraquezas internas.

Filme similar
O problema de "Ventos da Liberdade" é que Loach já havia feito um filme muito parecido, de forma mais concisa e contundente. Ainda que em outro contexto, "Terra e Liberdade" (Prêmio da Crítica Internacional em Cannes 1995), que fala sobre o envolvimento de um inglês na Guerra Civil Espanhola, discute a mesma questão central (a divisão da esquerda), mas o drama humano forjado para chegar até essa questão é muito mais bem urdido.
Em certos momentos, o processo histórico que joga os dois irmãos irlandeses em campos opostos ganha o tratamento de um melodrama banal, tentando extorquir lágrimas da platéia e esvaziando o filme de sua real força política.
Não que o melodrama seja um problema em si. Loach sempre busca comunicar suas idéias associando questões políticas a um gênero popular (como o suspense em "Agenda Secreta", por exemplo, que lhe rendeu o Prêmio do Júri no festival francês).
Mas mesmo o melodrama já foi trabalhado com muito mais eficiência no próprio "Terra e Liberdade" e em "Meu Nome É Joe" (1998, pelo qual Peter Mullan levou o prêmio de ator em Cannes), para citar alguns.


VENTOS DA LIBERDADE
Produção:
Alemanha/Itália/Espanha/França/Inglaterra/Irlanda, 2006
Diretor: Ken Loach
Com: Cillian Murphy, Padraic Delaney, Liam Cunningham, Gerard Kearney, William Ruane e outros
Quando: a partir de hoje, no Espaço Unibanco, HSBC Belas Artes, Reserva Cultura e circuito
Avaliação: bom


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