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Crítica/"Ventos da Liberdade"
Diretor repete idéias de trabalhos anteriores
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Ken Loach é o mestre de
um tipo de cinema político que está completamente fora de moda, o que
tem lhe rendido críticas injustas. Velho homem de esquerda,
ele sempre se dedicou a denunciar os pequenos poderes que
infernizam a vida da classe trabalhadora ("Ladybird, Ladybird", "Meu Nome é Joe",
"Sweet Sixteen") ou a discutir,
a partir de um foco humano, a
tragédia da esquerda, abalada
por divisões internas e pela
tentação autoritária. Principalmente no contexto do cinema
inglês, Loach foi e ainda é um
autor de suma importância,
ainda que bastante irregular.
No ano passado, com "Ventos da Liberdade", o cineasta finalmente ganhou a Palma de
Ouro do Festival de Cannes.
Um prêmio merecido, sem dúvida, porém conferido mais pelo conjunto da obra do que por
esse filme em particular.
Pela trajetória dos irmãos
Damien (Cillian Murphy) e
Teddy (Padraic Delaney), o filme acompanha a formação da
resistência armada contra a dominação britânica na Irlanda
no começo da década de 20. O
movimento desembocará no
Exército Republicano Irlandês,
cujas origens históricas, segundo Loach, são constantemente
jogadas para debaixo do tapete
pela história oficial.
A Inglaterra é um inimigo
claro e brutal, representada pelo "Black and Tans", pelotão
designado a manter a ocupação
da Irlanda a qualquer preço.
Contra tamanho poder opressor, a única alternativa parece
ser a resistência no formato de
guerrilha.
No entanto, quando começam a aparecer os primeiros resultados dessa resistência e a
negociação se faz necessária, o
grupo que estava unido se esfacela. Loach examina criticamente as origens de décadas de
uma violência alimentada tanto pela opressão como por fraquezas internas.
Filme similar
O problema de "Ventos da Liberdade" é que Loach já havia
feito um filme muito parecido,
de forma mais concisa e contundente. Ainda que em outro
contexto, "Terra e Liberdade"
(Prêmio da Crítica Internacional em Cannes 1995), que fala
sobre o envolvimento de um inglês na Guerra Civil Espanhola,
discute a mesma questão central (a divisão da esquerda),
mas o drama humano forjado
para chegar até essa questão é
muito mais bem urdido.
Em certos momentos, o processo histórico que joga os dois
irmãos irlandeses em campos
opostos ganha o tratamento de
um melodrama banal, tentando extorquir lágrimas da platéia e esvaziando o filme de sua
real força política.
Não que o melodrama seja
um problema em si. Loach
sempre busca comunicar suas
idéias associando questões políticas a um gênero popular (como o suspense em "Agenda Secreta", por exemplo, que lhe
rendeu o Prêmio do Júri no festival francês).
Mas mesmo o melodrama já
foi trabalhado com muito mais
eficiência no próprio "Terra e
Liberdade" e em "Meu Nome É
Joe" (1998, pelo qual Peter Mullan levou o prêmio de ator em
Cannes), para citar alguns.
VENTOS DA LIBERDADE
Produção: Alemanha/Itália/Espanha/França/Inglaterra/Irlanda,
2006
Diretor: Ken Loach
Com: Cillian Murphy, Padraic Delaney, Liam Cunningham, Gerard
Kearney, William Ruane e outros
Quando: a partir de hoje, no Espaço
Unibanco, HSBC Belas Artes, Reserva Cultura e circuito
Avaliação: bom
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