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Crítica/"Sunshine - Alerta Solar"
Autor viaja com clichês em odisséia espacial
CRÍTICO DA FOLHA
"Sunshine - Alerta Solar" nada acrescenta
a uma longa e riquíssima tradição cinematográfica.
Não me refiro, simplesmente, à
ficção-científica, mas ao subgênero "homens com uma missão
no espaço sideral", cujo amplo
espectro abriga do filosófico
"2001", de Stanley Kubrick, ao
satírico "Dark Star", de John
Carpenter, passando por
"Alien", de Ridley Scott, e "Solaris", de Andrei Tarkovski.
Por mais diferentes que sejam, todos esses filmes lidam
com os temas essenciais do
subgênero: o confinamento humano, o tédio das missões siderais, a reação diante de situações-limite e a possibilidade da
perda da razão, face ao universo
infinito. Entre os exemplos citados, cada um deles soube explorar aspectos diferentes desses temas, um prato cheio para
reflexões políticas.
Danny Boyle, cineasta que já
passou dos 50 anos mas que, essencialmente, continua jovem
(quase infantil), abraça o subgênero como se estivesse em
um jogo. Não propriamente um
videogame ou um "role-playing
game". Ele mais parece seguir
algo como um teste aplicado
durante um processo de seleção, uma "dinâmica de grupo".
Parceiro de Boyle desde "A
Praia", o roteirista Alex Garland constrói a trama a partir
de perguntas pré-fabricadas, do
tipo "e se...?": "e se a Terra fosse
acabar?", "e se fosse preciso
mandar uma missão para salvá-la, quem seria escolhido?", "e se
fosse preciso sacrificar alguém?". Como um bom candidato a um emprego, Garland dá
sempre as "respostas certas", e
elas vão se acumulando simplória e aleatoriamente.
O filme até que não começa
mal. Oito astronautas viajam
em direção a um Sol moribundo. Sua missão é lançar uma
megabomba nuclear capaz de
renovar o fôlego da estrela e, assim, esticar pelo menos por alguns anos a vida sobre a Terra.
Enquanto acompanha o cotidiano algo tedioso do grupo,
Boyle se garante. A proximidade do Sol é pretexto para uma
fotografia que alterna a obscuridade do interior da espaçonave à luz "estourada", a luminosidade máxima que ocupa toda
a tela e, assim, ilumina a platéia.
Mas a coisa se complica
quando são propostas as situações-limite. É nesse momento
que esses filmes correm o risco
de se tornar reacionários -e,
aqui, não dá outra. Os autores
do filme empurram seus personagens para provar a tese de
que todo mundo tem seu limite
de humanidade. A questão é
"hiperválida", claro, mas ela
não basta por si só -é preciso
saber como respondê-la. Boyle
escolhe o caminho dos clichês,
o que fica patente conforme o
filme avança.
(PEDRO BUTCHER)
SUNSHINE - ALERTA SOLAR
Produção: Inglaterra, 2007
Diretor: Danny Boyle
Com: Rose Byrne, Chris Evans e outros
Quando: a partir de hoje, no Bristol, Kinoplex Itaim,
Iguatemi e circuito
Avaliação: regular
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