São Paulo, sexta-feira, 13 de abril de 2007

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Crítica/"Sunshine - Alerta Solar"

Autor viaja com clichês em odisséia espacial

CRÍTICO DA FOLHA

"Sunshine - Alerta Solar" nada acrescenta a uma longa e riquíssima tradição cinematográfica.
Não me refiro, simplesmente, à ficção-científica, mas ao subgênero "homens com uma missão no espaço sideral", cujo amplo espectro abriga do filosófico "2001", de Stanley Kubrick, ao satírico "Dark Star", de John Carpenter, passando por "Alien", de Ridley Scott, e "Solaris", de Andrei Tarkovski.
Por mais diferentes que sejam, todos esses filmes lidam com os temas essenciais do subgênero: o confinamento humano, o tédio das missões siderais, a reação diante de situações-limite e a possibilidade da perda da razão, face ao universo infinito. Entre os exemplos citados, cada um deles soube explorar aspectos diferentes desses temas, um prato cheio para reflexões políticas.
Danny Boyle, cineasta que já passou dos 50 anos mas que, essencialmente, continua jovem (quase infantil), abraça o subgênero como se estivesse em um jogo. Não propriamente um videogame ou um "role-playing game". Ele mais parece seguir algo como um teste aplicado durante um processo de seleção, uma "dinâmica de grupo".
Parceiro de Boyle desde "A Praia", o roteirista Alex Garland constrói a trama a partir de perguntas pré-fabricadas, do tipo "e se...?": "e se a Terra fosse acabar?", "e se fosse preciso mandar uma missão para salvá-la, quem seria escolhido?", "e se fosse preciso sacrificar alguém?". Como um bom candidato a um emprego, Garland dá sempre as "respostas certas", e elas vão se acumulando simplória e aleatoriamente.
O filme até que não começa mal. Oito astronautas viajam em direção a um Sol moribundo. Sua missão é lançar uma megabomba nuclear capaz de renovar o fôlego da estrela e, assim, esticar pelo menos por alguns anos a vida sobre a Terra.
Enquanto acompanha o cotidiano algo tedioso do grupo, Boyle se garante. A proximidade do Sol é pretexto para uma fotografia que alterna a obscuridade do interior da espaçonave à luz "estourada", a luminosidade máxima que ocupa toda a tela e, assim, ilumina a platéia.
Mas a coisa se complica quando são propostas as situações-limite. É nesse momento que esses filmes correm o risco de se tornar reacionários -e, aqui, não dá outra. Os autores do filme empurram seus personagens para provar a tese de que todo mundo tem seu limite de humanidade. A questão é "hiperválida", claro, mas ela não basta por si só -é preciso saber como respondê-la. Boyle escolhe o caminho dos clichês, o que fica patente conforme o filme avança. (PEDRO BUTCHER)

SUNSHINE - ALERTA SOLAR
Produção:
Inglaterra, 2007
Diretor: Danny Boyle
Com: Rose Byrne, Chris Evans e outros
Quando: a partir de hoje, no Bristol, Kinoplex Itaim, Iguatemi e circuito
Avaliação: regular


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