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Crítica
"Sansão e Dalila" mostra diretor de narrativa "kitsch"
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
No catolicismo, a fé passa pelas imagens. Em outras religiões não é assim. Houve o caso
do pastor evangélico que chutou uma santa para provar que
ela não passa de uma imagem.
É todo o problema do cinema
(e hoje estréia "Maria", de Abel
Ferrara, que o reivindica):
quando uma imagem vive e
quando é uma coisa inerte?
Quando "não passa de imagem"
e quando carrega uma verdade?
Será uma heresia evocar essas questões a propósito de
"Sansão e Dalila" (TC Cult,
19h40), feito por Cecil B. DeMille em 1949? Penso que não.
Para os mais antigos, os que viveram os anos 50, a fé muitas
vezes se revelava nesses filmes
bíblicos. DeMille era maroto:
sabia erotizar a fé e tirar seu
efeito por todos os lados. A um
Sansão de musculatura privilegiada -para a época (era Victor
Mature) corresponde uma Dalila belíssima -para qualquer
época (Hedy Lamarr).
A verdade de DeMille está no
fausto, no excesso, no "kitsch",
tanto quanto na narrativa bíblica: ambas foram feitas para
atrair o público.
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