Em nova edição da revista "Solar", quadrinista retoma personagem distante do padrão norte-americano

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Na história em quadrinhos "Solar", Gabriel é diferente dos demais personagens: descobre que consegue voar. Fora das páginas, o herói criado pelo mineiro Wellington Srbek, 34, também destoa: é um super-herói nacional, criado para o público brasileiro e publicado de forma independente.
"Solar" surgiu em 1994, quando Srbek tinha 19 anos. Sua saga foi concluída após a criação de 14 histórias, publicadas nas revistas independentes "Solar" e "Caliban".
Na edição lançada agora em abril, "Renascimento", é apresentada uma nova versão do personagem, com outra origem, mas mantendo as suas características principais.
"A história anterior já havia sido concluída", diz o criador e roteirista Srbek, explicando por que optou por um recomeço. "Além disso, tinha falhas e excessos, embora também tivesse virtudes e fosse um personagem com potencial, o que me levou a querer relançá-lo."
Apesar das semelhanças com as histórias de super-heróis, Srbek diz que Solar é um personagem atípico. "Ele nasceu nesse gênero, mas é descolado dos principais elementos", afirma. "Não tem uniforme colorido nem briga com supervilões. É um herói solar, mito que aparece em todas as culturas, como os gregos Apolo e Aquiles."
A partir da criação de Solar, período que inclui o desenvolvimento de teses de mestrado e doutorado em educação, com viés para a seara dos quadrinhos, Srbek já transitou por outros gêneros em seus roteiros. Ao lado de Flavio Colin (1930-2002), por exemplo, criou "Estórias Gerais" (que ele define como sendo um épico regionalista) e "Fantasmagoriana" (de terror), ambas laureadas no HQ Mix e no Ângelo Agostini, prêmios nacionais voltados para as HQs.
E, agora, Srbek volta aos super-heróis: uma nova edição estrelada por Solar, chamada "Solo Sagrado", está programada para o segundo semestre. "Acho que as editoras nacionais deveriam explorar mais esse gênero", afirma Srbek. "Já tivemos boas experiências, como Capitão 7, Raio Negro e Quebra-Queixo, mas hoje vejo dois problemas."
O primeiro motivo apontado por Srbek para a ausência de super-heróis nacionais é a falta de investimento dos editores. O segundo remete aos próprios autores: "Em geral, a inspiração vem muito dos heróis norte-americanos. Aí o leitor tem que se decidir: compra a cópia brasileira ou o original?".