São Paulo, domingo, 13 de maio de 2007

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Crítica/televisão

Série mostra viagem dos videogames pelo tempo

"A Era dos Videogames" vai do Atari aos RPGs on-line em cinco episódios

THÉO AZEVEDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Eu lancei a maldição dos videogames sobre o mundo", brinca Steve Russell no primeiro dos cinco episódios de "A Era do Videogame", série que começa a ser exibida na quarta-feira pelo Discovery Channel.
O responsável pelo primeiro jogo para computador, "Spacewar!", criado em 1961, é um dos entrevistados da produção, que explica, pixel a pixel, como a "brincadeira séria" dos jogos eletrônicos se transformou em uma indústria bilionária.
Em vez de manter as abordagens usuais, comparando os games com a indústria de Hollywood -ou, pior, associando-os ao terrorismo e à violência-, o documentário os coloca onde devem estar, ou seja, como uma manifestação cultural importante, levando o telespectador a pensar sobre os jogos eletrônicos como reflexos do tempo.
É uma história rica, que começa na década de 50, época em que "pressionar o botão" poderia significar o fim do mundo, imagem mudada pelo predecessor de "Pong", "Tennis for Two", criado por um cientista que ficaria mais conhecido por ter participado do projeto da bomba atômica. Anos mais tarde, quando a TV funcionava como uma máquina de más notícias, graças à Guerra do Vietnã, o Atari levou os games para a sala de estar.
A série é recheada de entrevistas, uma oportunidade e tanto para conhecer figuras como Nolan Bushnell e Alexey Pajitnov, criadores do Atari e Tetris, respectivamente, e Shigeru Miyamoto, ícone da indústria e responsável por "Super Mario Bros.", que salvou os games da falência em época carente de personagens e heróis.

Diversão de gente grande
"A Era..." passeia por diferentes épocas sem seguir necessariamente uma ordem cronológica, o que dá dinamismo à produção, entremeada por trechos de jogos, desde os clássicos até os recém-chegados. Por isso, em questão de segundos, os games vão da pureza e inocência do bigode de Mario aos crimes do controverso Grand Theft Auto (ou simplesmente GTA).
Tanta agilidade faz o programa valer a pena até para os que não jogam mais, enquanto os "gamemaníacos", que costumam se preocupar com a sua paixão sendo distorcida por produções da grande mídia, devem ir ao êxtase ao ver tantos estudiosos, jornalistas e membros do setor juntos. É claro que os mais perfeccionistas verão uma ou outra pequena incoerência, como imagens de Tomb Raider quando o assunto são jogos on-line, mas nada que vá agitar os fóruns na web.
Do meio para o fim da minissérie entram em cena algumas tendências, como o uso da realidade virtual para recrutamento militar, que tem como símbolo máximo "America's Army", produzido pelo exército dos EUA. Mas faltou aprofundar o tema -a tecnologia dos jogos também tem sido usada em aplicações médicas, educacionais, cidadãs etc.
O último episódio é sobre internet e games on-line, como os RPGs "World of WarCraft" e "EverQuest", que reúnem milhares de pessoas em mundos de fantasia. Porém, surpreende o excessivo enfoque em "Second Life" que, embora tenha sua parcela de importância no mundo virtual, não é um jogo propriamente dito, mas uma ferramenta de socialização.
Temas como, por exemplo, as novas profissões que os games criaram ficaram de fora. Mas, em geral, "A Era do Videogame" se sai muito bem ao desvelar a "maldição" de Russell por vários ângulos, da simples diversão à manifestação cultural, como parte integrante da sociedade moderna. Durante as próximas semanas, às 21h, dê um "pause" e vá assistir.


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