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MÚSICA
Cantor e compositor paulista sofria de complicações decorrentes de um câncer intestinal desde setembro de 2000
Itamar Assumpção morre em casa, aos 53
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
O cantor e compositor paulista
Itamar Assumpção morreu na
noite de ontem, aos 53, em sua casa, de complicações decorrentes
de um câncer intestinal, contra o
qual ele lutava desde 2000.
Descoberta em setembro daquele ano, a doença obrigou Itamar a uma série de cirurgias no
Hospital das Clínicas e no Hospital do Câncer desde então. Nos últimos seis meses, a doença reincidiu na região pélvica. O enterro
estava previsto para acontecer hoje, em São Bernardo do Campo.
Mesmo doente, Itamar manteve
a rotina de shows nos intervalos
das internações. Nesse período
também gravou um disco em parceria com o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos,
que acabou cancelado, e num segundo volume de "Preto Brás"
(98), que ele pretendia que fosse
uma trilogia de discos.
Nascido em Tietê, em 1949, Itamar morou em Arapongas (PR)
antes de se mudar para São Paulo
e participar, a partir do final dos
anos 70, da cena conhecida como
"vanguarda paulistana". Ao lado
do paranaense Arrigo Barnabé,
organizou um circuito alternativo
de música pop, tomando influências da tropicália, poesia concreta
e música erudita.
Sua primeira composição de
impacto foi "Nego Dito", que apareceu em 79 num festival musical
do bairro paulistano Vila Madalena. E o primeiro disco foi "Beleléu
Leléu Eu" (80), gravado em companhia da banda Isca de Polícia e
lançado pelo selo independente
Lira Paulistana, uma extensão da
casa de shows de mesmo nome,
que então abrigava a cena underground de São Paulo.
A fórmula musical, desde o início, misturava soul, funk, MPB e
reggae. Após o sucesso de crítica
de "Beleléu", os dois discos seguintes, lançados pelo selo independente Baratos Afins, começaram a forjar para ele uma imagem
de maldito e de artista que não se
rendia aos ditames comerciais.
Em 88, assinou pela primeira
vez contrato com uma grande
gravadora, a Continental, pela
qual lançou o irônico "Intercontinental! Quem Diria! Era Só o Que
Faltava!!!". O disco, como os anteriores, não foi sucesso de público.
Seria sua única experiência numa gravadora de porte. Mesmo
alijado da indústria, a partir de 93
ele iniciou um período de grande
produtividade com "Bicho de Sete Cabeças". Ali, Itamar formou
uma banda de oito mulheres, As
Orquídeas do Brasil, com as quais
transformou "Bicho de Sete Cabeças" numa trilogia de LPs lançados entre 93 e 94.
Para esses discos, Itamar chamou músicos com quem se identificava: da amiga tropicalista Rita
Lee aos também rotulados "malditos" Jards Macalé e Tom Zé. Intensificou também parceria com a
poeta Alice Ruiz, ex-mulher do
paranaense Paulo Leminski.
O passo seguinte foi um disco
inteiro dedicado à obra do compositor negro mineiro Ataulfo Alves (1909-69). "Ataulfo Alves por
Itamar Assumpção pra Sempre
Agora" (95) saiu pela independente Paradoxx, incluindo versões tipo soul-funk para temas
populares de Ataulfo como "Ai,
Que Saudades da Amélia", "Na
Cadência do Samba", "Mulata
Assanhada", "Atire a Primeira Pedra", "Leva Meu Samba" e outras.
Como último disco, ficou "Preto Brás", que saiu pela pequena
Atração, onde trabalhava Wilson
Souto, entusiasta de Itamar desde
os tempos de Lira Paulistana.
Nos anos 90, produziu discos de
parceiras como Denise Assunção
(sua irmã) e Alzira Espíndola. Teve canções gravadas por Cássia
Eller, Zélia Duncan, Chico César,
Ney Matogrosso e outros.
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