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São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2003

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MÚSICA

Cantor e compositor paulista sofria de complicações decorrentes de um câncer intestinal desde setembro de 2000

Itamar Assumpção morre em casa, aos 53

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

O cantor e compositor paulista Itamar Assumpção morreu na noite de ontem, aos 53, em sua casa, de complicações decorrentes de um câncer intestinal, contra o qual ele lutava desde 2000.
Descoberta em setembro daquele ano, a doença obrigou Itamar a uma série de cirurgias no Hospital das Clínicas e no Hospital do Câncer desde então. Nos últimos seis meses, a doença reincidiu na região pélvica. O enterro estava previsto para acontecer hoje, em São Bernardo do Campo.
Mesmo doente, Itamar manteve a rotina de shows nos intervalos das internações. Nesse período também gravou um disco em parceria com o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos, que acabou cancelado, e num segundo volume de "Preto Brás" (98), que ele pretendia que fosse uma trilogia de discos.
Nascido em Tietê, em 1949, Itamar morou em Arapongas (PR) antes de se mudar para São Paulo e participar, a partir do final dos anos 70, da cena conhecida como "vanguarda paulistana". Ao lado do paranaense Arrigo Barnabé, organizou um circuito alternativo de música pop, tomando influências da tropicália, poesia concreta e música erudita.
Sua primeira composição de impacto foi "Nego Dito", que apareceu em 79 num festival musical do bairro paulistano Vila Madalena. E o primeiro disco foi "Beleléu Leléu Eu" (80), gravado em companhia da banda Isca de Polícia e lançado pelo selo independente Lira Paulistana, uma extensão da casa de shows de mesmo nome, que então abrigava a cena underground de São Paulo.
A fórmula musical, desde o início, misturava soul, funk, MPB e reggae. Após o sucesso de crítica de "Beleléu", os dois discos seguintes, lançados pelo selo independente Baratos Afins, começaram a forjar para ele uma imagem de maldito e de artista que não se rendia aos ditames comerciais.
Em 88, assinou pela primeira vez contrato com uma grande gravadora, a Continental, pela qual lançou o irônico "Intercontinental! Quem Diria! Era Só o Que Faltava!!!". O disco, como os anteriores, não foi sucesso de público.
Seria sua única experiência numa gravadora de porte. Mesmo alijado da indústria, a partir de 93 ele iniciou um período de grande produtividade com "Bicho de Sete Cabeças". Ali, Itamar formou uma banda de oito mulheres, As Orquídeas do Brasil, com as quais transformou "Bicho de Sete Cabeças" numa trilogia de LPs lançados entre 93 e 94.
Para esses discos, Itamar chamou músicos com quem se identificava: da amiga tropicalista Rita Lee aos também rotulados "malditos" Jards Macalé e Tom Zé. Intensificou também parceria com a poeta Alice Ruiz, ex-mulher do paranaense Paulo Leminski.
O passo seguinte foi um disco inteiro dedicado à obra do compositor negro mineiro Ataulfo Alves (1909-69). "Ataulfo Alves por Itamar Assumpção pra Sempre Agora" (95) saiu pela independente Paradoxx, incluindo versões tipo soul-funk para temas populares de Ataulfo como "Ai, Que Saudades da Amélia", "Na Cadência do Samba", "Mulata Assanhada", "Atire a Primeira Pedra", "Leva Meu Samba" e outras.
Como último disco, ficou "Preto Brás", que saiu pela pequena Atração, onde trabalhava Wilson Souto, entusiasta de Itamar desde os tempos de Lira Paulistana.
Nos anos 90, produziu discos de parceiras como Denise Assunção (sua irmã) e Alzira Espíndola. Teve canções gravadas por Cássia Eller, Zélia Duncan, Chico César, Ney Matogrosso e outros.


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