São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 2005

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Site de relacionamentos sociais é adotado por nomes consagrados e bandas independentes

Casa dos artistas

Associated Press/2.jun.2001
Rivers Cuomo, líder da banda Weezer, que mantém uma página pessoal no MySpace.com


DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

A banda Coldplay tem 30.479 amigos, o Queens of the Stone Age, 31.574, cerca de 10 mil a menos que o ex-vocalista do Smashing Pumpkins, Billy Corgan. Os indies do Jupiter Sunrise têm apenas 12.331, mas, a julgar pela lista de amigos do Pixies, com seus apenas 6.338 agregados, pode-se imaginar que a bandinha formada há três anos nos arredores de Nova York anda mais bem cotada do que o veterano quarteto de Frank Black e Kim Deal.
Assim é o mundo do MySpace.com, espécie de "Orkut dos artistas" criado em setembro de 2003 e atualmente um dos mais populares do ramo de sites de relacionamento social entre os jovens americanos e, principalmente, os grupos de pop rock independentes e/ou consagrados.
Com 14 milhões de visitantes únicos ao mês, segundo dados do instituto americano de pesquisa do consumidor comScore, o site tocado por Chris DeWolfe e Tom Anderson, um músico ele próprio, supera em popularidade o Friendster, serviço de relacionamentos pioneiro nos EUA com atuais 1 milhão de visitas ao mês.
Os artistas agradecem. Com permissão para disponibilizar até quatro faixas em seus perfis pessoais, manter uma agenda de shows atualizada e também um blog com notícias e comentários genéricos, cerca de 300 mil bandas já utilizam o serviço como uma alternativa de divulgação.
"O MySpace é onde a cultura pop começa, onde as pessoas descobrem novas músicas. Sempre que aparece uma nova música boa, ela se espalha muito rapidamente pelo boca-a-boca entre amigos. É algo viral", disse à Folha por telefone Chris DeWolfe, CEO da companhia.
A estratégia não interessa apenas aos iniciantes. "Há muitas coisas acontencendo, e a indústria do disco não tem mais o mesmo dinheiro para promover suas bandas. A economia mudou, e agora tanto as bandas quanto os empresários têm que assumir mais responsabilidades e fazer sua própria divulgação", avalia DeWolfe. "São 18 milhões de fãs potenciais que podem descobrir suas músicas."
De olho no filão, algumas "majors" fecharam parcerias com o site para, a cada semana, antecipar o lançamento de discos na íntegra para audição em "streamming" -ao contrário do download, as faixas não ficam armazenadas no computador do usuário.
"With Teeth", quarto álbum de estúdio do Nine Inch Nails, por exemplo, teve mais de meio milhão de acessos na semana em que foi colocado na seção "The Booth" (cabine ou trocadilho com debut). Outros lançamentos, como os últimos álbuns de Weezer, Black Eyed Peas, Audioslave, Beck e Foo Fighters, bola da vez desta semana, também tiveram pré-estréia exclusiva no MySpace (Para encontrar o endereço da página de uma banda basta efetuar uma busca no site ou, ainda, arriscar a fórmula www.myspace.com/nome da banda.)

Doutor Billy
Além dos perfis de sua, digamos, pessoa jurídica, muitos artistas do pop mantêm páginas pessoais no serviço. O vocalista do Weezer, Rivers Cuomo, é um deles. Usuário ativo do site, Cuomo se mostra tão impopular -ou seletivo?- no mundo virtual quanto no real. Tem apenas 550 amigos, contra 831 do líder do Deftones, Chino Moreno, por exemplo, ou os mais de 11 mil do RHCP John Frusciante.
Em meio aos artistas que mais atualizam seus blogs, com confissões que jornalista nenhum conseguiria arrancar, está a nova queridinha dos Dresden Dolls Amanda Palmer, que, entre outras coisas, revela sua admiração e até uma pontinha de inveja das cantoras Tori Amos e Avril Lavigne.
Enquanto isso, o careca Billy Corgan, cuja página pessoal traz uma faixa de seu aguardado projeto solo, conta histórias ainda mais particulares, como os detalhes trágicos do dia de seu casamento, as surras de cinta que levava do pai ou mesmo da primeira vez em que brincou de médico com a vizinha quando criança.
"O modo como o site funciona cria uma relação pessoal do fã com a banda", afirma DeWolfe. "Eles podem comentar como foi o show, publicar as letras. Há um senso de pertencimento, uma relação direta com o artista que não existia antes em nenhum lugar."
Com crescimento de 2,5 milhões de usuários ao mês, o desafio para artistas e fãs agora é evitar que as páginas se tornem meros escaninhos para declarações de amor à banda, do tipo "vocês são os melhores do mundo", ou, no pior dos cenários, território livre para os incansáveis vendedores de métodos contra disfunção erétil e outras "oportunidades imperdíveis" de negócios na rede.


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