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ANÁLISE
Médico da série "Carandiru" é herói iluminista
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Dificilmente a série "Carandiru - Outras Histórias",
inspirada no filme "Carandiru",
com direção de Hector Babenco,
baterá os altos índices de audiência obtidos pela exibição televisiva
do filme há uma semana. Mas o
interesse da série, que estreou na
última sexta-feira, é inegável. Especialmente no que dialoga com
as críticas feitas ao filme.
O seriado se beneficia da estrutura fragmentada do filme, que
abre a possibilidade de inúmeras
histórias paralelas. Há personagens que permanecem. Há novas
figuras, como Sonia, protagonista
do primeiro episódio, vivida por
Xuxa Lopes.
"Julgamento" foi dirigido por
Walter Carvalho, que deixa sua
marca na fotografia enevoada do
ambiente principal. A estrutura
narrativa é pontuada por flashbacks, como no filme. Mas, no
primeiro episódio, a ação se concentra nessas incursões ao passado "extra cadeia". A narrativa
principal fica presa a uma estrutura convencional de tribunal, que
beira o didatismo.
É na figura do médico que se
concentram as mudanças. O primeiro episódio apresenta um médico que intervém criticamente
no universo dos detentos.
No filme o médico não apita. Na
TV ele arbitra. Na série o personagem do médico, representado,
com energia, pelo mesmo Luiz
Carlos Vasconcelos supera a postura de observador privilegiado
que o caracteriza no filme.
A chave do "aqui dentro ninguém é culpado" que caracteriza
o filme, está ausente da TV. O médico mobiliza a confiança dos
presos para desenvolver uma espécie de poder moderador. Defende valores humanistas, se contrapõe a práticas bárbaras. Usa o
poder da argumentação e propõe
negociações.
Estamos próximos do outro extremo. O médico da série é quase
um herói iluminista. O "happy
end", com direito a cadeia-parque
de diversões, animada por um palhaço, destoa. Vejamos os próximos episódios.
Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
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