São Paulo, sábado, 13 de junho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Profissão: Repórter

Um dos principais convidados da Festa Literária Internacional de Paraty, o historiador britânico Simon Schama mistura jornalismo e análise em livro sobre os Estados Unidos

Eduardo Lima - 11.nov.08/Folha Imagem
O historiador Simon Schama durante palestra realizada em Porto alegre

SYLVIA COLOMBO
EDITORA DA ILUSTRADA

Nas mãos, um bloquinho de jornalista. No olhar, um brilho que demonstra o interesse vivo de um historiador que já investigou a Revolução Francesa ("Cidadãos"), a história da arte e a da Inglaterra, mas que, nos dias de hoje, anda tão vidrado no noticiário quanto esteve, em tempos mais remotos, em documentos mais tradicionais.
E é assim, compenetrado e curioso, que o britânico Simon Schama, 64, aparece no princípio do documentário televisivo "O Futuro da América", também transformado em livro, este publicado agora no Brasil pela Companhia das Letras.
A razão do ar interessado? No momento citado, Schama observa o discurso do pré-candidato Barack Obama, no "caucus" de Iowa, em janeiro de 2008, considerado pontapé oficial da campanha. E comenta: "Essa eleição americana não será como as outras".
Filme e livro têm como objetivo retratar a transformação pela qual os EUA passam. O historiador britânico viajou pelo país acompanhando candidatos e visitando sítios históricos -o cemitério de Arlington, em Washington; Gettysburg, onde Abraham Lincoln fez seu mais famoso discurso; e outros. O resultado foi uma mistura de jornalismo com reflexão acadêmica. Ou, como definiu o pesquisador, em entrevista à Folha, por telefone, "uma tentativa perigosa de juntar reportagem contemporânea com análise histórica".
O pesquisador é um dos principais convidados da 7ª Festa Literária Internacional de Paraty, de 1º a 5 de julho, e será sabatinado pela Folha logo depois, no dia 6.
Famoso por estrelar séries de documentários para televisão (uma busca no YouTube resulta em vários exemplos) e por transformar palestras que poderiam ser sisudas em descontraídas performances, Schama também recebe críticas de quem o considera vaidoso demais para um acadêmico. "Mas eu adoro fazer esse tipo de programa, tentar transformar o produto final de uma reflexão mais profunda em algo acessível ao público", diz.
A ideia de analisar os EUA a partir do que já lera e estudara sobre o país surgiu quando sentiu, entre a população, "uma espécie de sentimento de abandono". Em viagens pelo interior, conversou com famílias de perfil conservador que demostravam ter perdido as esperanças no governo Bush.
"A tragédia causada pelo Katrina, em 2005, foi determinante. Os republicanos não perceberam a raiva contra eles que começava a crescer então. Os norte-americanos passaram a querer provocar mudanças com mais intensidade a partir daquele momento."

Relação com a história
Uma das questões mais interessantes que Schama propõe-se a discutir é a relação entre a sociedade dos EUA e sua própria história. "Ela e suas figuras épicas são tratadas como uma coisa viva e que respira", admira-se, enquanto recolhe exemplos de discursos de presidentes e outras figuras políticas, cheios de referências aos chamados "pais fundadores" e ao que são considerados valores essencialmente americanos.
"É só reparar no modo como reverenciam-se a Constituição e os valores republicanos. É como se John Adams, Benjamin Franklin, todos, estivessem observando tudo", afirma.
Um dos temas em que essa relação peculiar se manifesta é o da guerra. Schama toma as diferentes visões sobre o assunto no passado e mostra que certas dicotomias e contradições ainda existem.
Por exemplo, explica que, para Thomas Jefferson, a existência de um Exército a postos podia ser uma ameaça para a República, enquanto para Alexander Hamilton, o mesmo seria um componente essencial de uma nação forte. Expõe, ainda, o legado da mítica coragem de Theodore Roosevelt, que ainda inspira políticos.
Schama considera o debate proposto por essas figuras muito aceso. "Está por trás tanto das decisões de Bush como das de Obama. O atual presidente distingue guerras de necessidade -Afeganistão- e de opção -Iraque. Tais conclusões não seriam possíveis se ele não tivesse pensado sobre essas ideias que estavam lá atrás."


O FUTURO DA AMÉRICA
Autor: Simon Schama
Tradução: Carlos Eduardo Lins da Silva, Donaldson M. Garschagen e Rosaura Eichenberg
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 54 (441 págs.)




Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.