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CRÍTICA DVD
Em "Galo de Briga", Monte Hellman extrai beleza de ambiente deprimente
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Pouco se sabe de Monte
Hellman, 77, no Brasil. Que
isso não seja motivo de complexo. Também nos EUA, sua
pátria, ele não é conhecido,
embora há pouco tempo
"Corrida sem Fim" (1971),
seu filme mais estranho e
possivelmente sua obra-prima, tenha saído em DVD.
"Galo de Briga" (1974) não
fica atrás, embora seja bem
outro o universo: não mais o
de caras que vivem na estrada sem quê nem porquê, ou
antes, sem outra razão exceto ficar apostando corridas
que não levam a nada.
"Galo de Briga" tem alguns aspectos em comum
com "Corrida...". Warren Oates, para começar: o ator faz
aqui o criador de galos de briga que acaba perdendo mais
ou menos tudo, exceto a vontade de ser um vencedor.
Isso o leva a passar nos cobres, na hora da dificuldade,
a casa da família. Mas o que
lhe importa é criar galos capazes de derrotar adversários
e mostrar-se digno de casar
com sua prometida. Digno do
sonho americano, enfim.
Hellman não tratará essa
instituição com grande delicadeza. Primeiro, ele será
ambientado no universo deprimente (em tudo e por tudo) das brigas de galo.
Segundo, o filme reserva
um final bastante fora do
convencional. Mesmo o desenvolvimento, aliás, é marcado pela opção do protagonista pelo silêncio.
CELEBRIDADES
Exemplo notável de produção Roger Corman nos
anos 1970, o filme conta com
alguns coadjuvantes célebres (Harry Dean Stanton,
Millie Perkins, Troy Donahue), alguns dos quais parecem estar lá mais por amizade do que por outra coisa
(Perkins e Donahue quase
não aparecem).
A fotografia é de Nestor Almendros, o chefe operador
de Eric Rohmer e François
Truffaut: limpa, seca, precisa. A montagem é de Lewis
Teague, na época editor dos
filmes de Corman.
Belo filme e bela ocasião
para conhecer a obra de Hellman, que foi lembrado em
"Filme Demência" (1986), de
Carlos Reichenbach: o nome
dos cigarros Monte Hellman,
ali mencionados como um
estoura-peito, é uma homenagem a ele. Hellman é de fato um estoura-peito, embora
não nesse sentido.
GALO DE BRIGA
DIREÇÃO Monte Hellman
DISTRIBUIÇÃO Platina Filmes (R$
20, em média)
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO ótimo
JOSÉ SIMÃO
O colunista é publicado no
caderno Copa 2010.
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