São Paulo, domingo, 13 de junho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA DVD

Em "Galo de Briga", Monte Hellman extrai beleza de ambiente deprimente

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Pouco se sabe de Monte Hellman, 77, no Brasil. Que isso não seja motivo de complexo. Também nos EUA, sua pátria, ele não é conhecido, embora há pouco tempo "Corrida sem Fim" (1971), seu filme mais estranho e possivelmente sua obra-prima, tenha saído em DVD.
"Galo de Briga" (1974) não fica atrás, embora seja bem outro o universo: não mais o de caras que vivem na estrada sem quê nem porquê, ou antes, sem outra razão exceto ficar apostando corridas que não levam a nada.
"Galo de Briga" tem alguns aspectos em comum com "Corrida...". Warren Oates, para começar: o ator faz aqui o criador de galos de briga que acaba perdendo mais ou menos tudo, exceto a vontade de ser um vencedor.
Isso o leva a passar nos cobres, na hora da dificuldade, a casa da família. Mas o que lhe importa é criar galos capazes de derrotar adversários e mostrar-se digno de casar com sua prometida. Digno do sonho americano, enfim.
Hellman não tratará essa instituição com grande delicadeza. Primeiro, ele será ambientado no universo deprimente (em tudo e por tudo) das brigas de galo.
Segundo, o filme reserva um final bastante fora do convencional. Mesmo o desenvolvimento, aliás, é marcado pela opção do protagonista pelo silêncio.

CELEBRIDADES
Exemplo notável de produção Roger Corman nos anos 1970, o filme conta com alguns coadjuvantes célebres (Harry Dean Stanton, Millie Perkins, Troy Donahue), alguns dos quais parecem estar lá mais por amizade do que por outra coisa (Perkins e Donahue quase não aparecem).
A fotografia é de Nestor Almendros, o chefe operador de Eric Rohmer e François Truffaut: limpa, seca, precisa. A montagem é de Lewis Teague, na época editor dos filmes de Corman.
Belo filme e bela ocasião para conhecer a obra de Hellman, que foi lembrado em "Filme Demência" (1986), de Carlos Reichenbach: o nome dos cigarros Monte Hellman, ali mencionados como um estoura-peito, é uma homenagem a ele. Hellman é de fato um estoura-peito, embora não nesse sentido.


GALO DE BRIGA

DIREÇÃO Monte Hellman
DISTRIBUIÇÃO Platina Filmes (R$ 20, em média)
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO ótimo


JOSÉ SIMÃO
O colunista é publicado no caderno Copa 2010.



Texto Anterior: Novelas da semana
Próximo Texto: Ferreira Gullar: Mudanças na rua Duvivier
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.