São Paulo, sábado, 13 de junho de 1998

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Morre Jorge Zahar, aos 78 anos, no Rio

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
A mulher do editor Jorge Zahar e Luís Schwarcz no velório, no Rio


da Sucursal do Rio

O editor Jorge Zahar, 78, morreu anteontem no Rio, por volta das 23h40, durante uma cirurgia no coração. Ele era considerado um dos mais importantes editores do país. Antes da cirurgia, Zahar ficou internado por duas semanas no hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo (zona sul do Rio), por causa de uma endocardite coronariana (inflamação da membrana que reveste internamente o coração). O corpo do editor foi velado por parentes e amigos durante todo o dia de ontem no cemitério São João Batista, em Botafogo, e deve ser cremado hoje, às 9h. Zahar começou sua carreira como editor em 1956, quando fundou a Zahar Editores, que manteve em associação com seus irmãos, Ernesto e Lucien, até 1984. Em 1985, constituiu uma nova editora, Jorge Zahar Editor, com seus filhos, Jorge Júnior e Ana Cristina. Ao longo de 41 anos, Zahar editou cerca de 2.000 títulos brasileiros e estrangeiros, a maioria deles dedicados a temas das ciências sociais.
"Manual de Sociologia"

O primeiro, uma tradução do "Manual de Sociologia" de Rumney e Meier, em 1957.
"Ele tinha uma grande preocupação social. Mais que um empresário do mercado editorial, era um humanista e idealista", disse o antropólogo Gilberto Velho, que teve vários títulos seus editados pela editora de Zahar.
Para Sérgio Machado, da editora Record, Zahar era conselheiro e mentor da atual geração de editores do país.
"A opinião dele era sempre fundamental. Ele deixa como legado a preocupação que tinha em produzir livros permanentes e não que tivessem sucesso imediato", disse Machado.
Para o editor Paulo Rocco, a principal característica era "ser amigo de todos".
"A palavra dele tinha grande peso em qualquer decisão tomada no mercado editorial brasileiro. Como editor, ele escreveu uma das páginas mais importantes da literatura brasileira", disse Paulo Rocco.
Luís Schwarcz, da editora Companhia das Letras, conhecia o editor há 15 anos e o considerava "como um segundo pai".
"Tínhamos uma relação de pai e filho. Foi ele que me orientou na formação da Companhia."
Segundo Schwarcz, a morte de Zahar encerra uma geração pioneira de editores brasileiros, na qual estavam incluídos, Ênio Silveira, Alfredo Machado e José Olympio.
"Todos eles foram pioneiros, mas Zahar, além disso, foi também idealista. Nunca fez concessões aos interesses comerciais do mercado", disse o editor Luís Schwarcz.
Para o fundador da editora Perspectiva Jacó Guinsburg, o principal mérito do trabalho de Zahar foi a "qualidade das edições e das obras escolhidas" por ele.
"Seu papel foi revolucionário, redefinindo o processo editorial", completou Guinsburg.



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