São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2000


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ARTES PLÁSTICAS
Presidente do Conselho da Fundação Bienal diz que não pretende travar polêmica com Carlos Bratke
Seraphico também cogita ficar na Bienal

CELSO FIORAVANTE
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Seraphico de Carvalho, presidente do Conselho da Fundação Bienal, que colocou seu cargo à disposição, não descarta sua permanência no cargo.
"Eu fui escolhido. Fui conduzido ao cargo por unanimidade em um determinando momento. Se acharem que eu devo ou não devo ficar, para mim tanto faz. Eu não sou candidato a nada, pois nunca fui. Não me acrescenta em nada ser presidente do conselho. Mas é curioso que um homem que pediu demissão três vezes em um dia, no dia seguinte vá ao jornal e diga que ele pretende voltar", disse Seraphico, referindo-se a Carlos Bratke, presidente da Bienal, que também colocou seu cargo à disposição na última segunda-feira, mas cogitou sua permanência em entrevista à Folha, publicada ontem.
"O Carlos Bratke diz que não pediu a minha demissão, mas dá a entender que ficou muito decepcionado com o fato de eu não me demitir. Ao contrário dele, eu não me demiti, mas também não vou me candidatar", disse Seraphico.
Os dois personagens monopolizaram a última reunião do conselho da instituição, na segunda-feira, ao colocarem seus cargos à disposição até o dia 7 de agosto, quando uma nova reunião do conselho decidirá por novos nomes ou mesmo por reconduzi-los ao cargo.
"A presidência do Conselho da Fundação Bienal é um cargo extremamente espinhoso, pois tenho de me envolver com situações difíceis e penosas. E o meu estilo é me envolver mesmo, mas com o objeto cultural. E, por favor, não confunda objeto cultural com Carlos Bratke, Edemar Cid Ferreira ou qualquer outra pessoa", complementou.

Ivo Mesquita
Seraphico disse ainda que apenas se manifestou na crise em resposta ao problema que envolvia o curador Ivo Mesquita, que se tornou outro pivô da crise ao se manifestar publicamente contra o adiamento da 25ª edição da Bienal de São Paulo para 2002 e ser demitido por isso.
"Eu só me manifestei quando o sr. Carlos Bratke teve um problema sério com o curador da mostra de artes plásticas, o Ivo Mesquita. Isso provocou uma manifestação com 700 assinaturas de 42 países. Acabei me colocando ao lado de um homem que eu nem conheço, que é o Ivo Mesquita, Não há jogo nenhum nisso", disse.
"No cumprimento do dever legal, eu fui e continuarei indo até onde for preciso, até o meu último dia de mandato. Eu não temo a reação de quem quer que seja sobre o que eu falar. Fiquei quieto durante muito tempo e acho que o silêncio é necessário, mas em um determinado momento achei bem o contrário", complementou.
Seraphico disse não ter nenhum problema pessoal com Carlos Bratke, mas criticou suas posturas durante a última reunião e mesmo depois dela.
"Na reunião de segunda-feira, foi assumido um compromisso de que ninguém falaria, mas, na verdade, eles não queriam que eu falasse. Mas, se eu um dia falei, não tinha em vista atingir ninguém pessoalmente. Acho necessário que o espírito crítico da Bienal seja mantido. O espaço cultural não é passarela para o sucesso de ninguém, nem meu nem de quem quer que seja", disse.

Crise
Seraphico questionou ainda o encaminhamento da crise, que tem se transformado em um jogo de prestígios e vaidades. "A figura do Carlos Bratke não interessa, nem a minha. O que importa e o que eu fiz, isso, que esse indivíduo acha ser uma campanha contra ele, foi tentar despertar o espírito crítico de São Paulo em torno de uma entidade que está sendo sacrificada, a Fundação Bienal."
"Estou interessado na preservação de um bem cultural nos níveis que pensavam Sérgio Milliet, Carlos Pinto Alves, Arnaldo Pedroso Horta, Ciccillo Matarazzo, Franco Zampari e toda uma geração capaz de criar um ressurgimento na cultura paulista. Não estavam interessados em prestígio pessoal", disse Seraphico.
A primeira crise da gestão de Carlos Bratke na Fundação Bienal aconteceu em 21 de fevereiro, quando o diretor-executivo da Bienal, Marcos Weinstock, e o diretor-superintendente, Carlos Wendel de Magalhães, pediram demissão depois de dizer que Bratke não representava a Bienal como deveria.
Em 9 de maio, o Conselho da Fundação Bienal decidiu adiar a 25ª Bienal de São Paulo de 2001 para 2002. O curador do evento, Ivo Mesquita, se manifestou contrário à decisão e foi demitido por Bratke.
A demissão provocou uma guerra de declarações e a manifestação de apoio a Mesquita de vários conselheiros. Seraphico disse na ocasião: "A Bienal se tornou um jogo de prestígios pessoais e reuniões em torno de caviar".


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