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CRÌTICA
Um "atroz encanto" já não tão distante
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
É impossível não se sentir
atraído por um título como
"O Atroz Encanto de Ser..." (o
complemento nem importa, mas,
no caso, é "Argentino").
Como é possível haver atrocidade no encanto? A resposta é simples, possivelmente única e está
inteira no livro de Marcos Aguinis: sendo argentino ou tentando
entender os argentinos.
Convivo com argentinos, cordial e até afetuosamente, faz uns
30 anos. Sempre senti que havia
alguma coisa indecifrável na maneira de ser da maioria deles. Foi
preciso esperar o livro de Aguinis
para entender: "Sermos argentinos nos emociona e também sofremos por isso", explica esse formidável escafandrista da alma argentina.
Mas, atenção, por abissal que
seja a diferença entre a formação
do Brasil e da Argentina, o subdesenvolvimento está aproximando
ambas as sociedades.
Um micro-exemplo: Aguinis,
entre as mil citações de estrangeiros sobre a Argentina, em geral
impiedosas, pinça uma do jornalista e político Georges Clemenceau, que dizia que "a Argentina
cresce graças ao que os seus políticos e governantes deixam de roubar enquanto dormem".
Quantas vezes você já disse ou
pensou algo parecido sobre o Brasil?
Aguinis, na introdução para a
edição brasileira de seu livro, trata
da diferença entre brasileiros e argentinos: "Poderíamos dizer que
os primeiros se divertem ao ritmo
do samba e, os segundos, choram
ao ritmo do tango".
No caso dos argentinos, é fácil
de entender e está no livro: "Vimos sofrendo desde que começou
a segunda metade do século 20: já
vamos para a terceira geração de
desgraçados".
Os brasileiros sofrem há mais
tempo, mas, talvez por nunca terem tido a opulência dos argentinos da primeira metade do século
passado, não se sentem desgraçados.
Mas talvez seja mais correto dizer que não se sentiam. O humor
do brasileiro nos anos mais recentes está mudando, está transitando do samba para o tango.
Até por isso, é pedagógico ler o
livro de Aguinis.
O Atroz Encanto de Ser
Argentino
El Atroz Encanto de Ser Argentinos
Autor: Marcos Aguinis
Editora: Bei
Quanto: R$ 32 (236 págs.)
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