São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2006

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Mostra revê imagens da Cuba revolucionária

Senac expõe rica coleção da Fototeca de Havana, com a presença de nomes consagrados como Korda e Corrales

"A Épica Revolucionária Cubana" tem imagem clássica de Che Guevara, mas surpreende com fotografias menos famosas


Alberto Korda
"El Quijote de la Farola" (1959), de Korda; famoso fotógrafo retratava a moda e a publicidade


GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Alguns acontecimentos carregam consigo um registro quase mitológico. Do mesmo modo que a pintura ilustrou infinitas batalhas da Revolução Francesa, a fotografia esteve presente como forma de documentação diária e por excelência da Revolução Cubana, em 1959.
Alberto Korda, Raúl Corrales e Roberto Salas são alguns dos nomes que seguiram com a lente a investida socialista de Fidel Castro e Che Guevara num momento marcado pela polarização ideológica. A partir de hoje, a galeria Senac, em São Paulo, recebe 69 imagens pertencentes à Fototeca de Cuba e que registram os acontecimentos da década de 1960 sob o olhar de oito fotógrafos.
Co-curadora da mostra e diretora da Fototeca, Lourdes Socarrás veio ao Brasil para montar a exposição, embora organize simultaneamente, em Havana, uma mostra comemorativa dos 80 anos de Fidel Castro - já sem o glamour dos anos que se seguiram à Revolução.
"Num país em que grande parte da população era analfabeta, a fotografia foi o grande instrumento de mobilização das massas, de convocação para a luta diária", diz Socarrás sobre a importância das imagens naquele momento.

Diversidade
Além de seu caráter histórico, as fotos têm como trunfo o rigor estético. Se Oswaldo Salas (1914-1992) se dedica com mais ênfase aos retratos, as fotos de Corrales (1925-2006) primam por um olhar mais plástico, com enquadramentos audaciosos.
A carreira como fotógrafo de moda e publicidade deixou marcas no estilo de Korda (1928-2002). É justamente dele, aliás, a emblemática imagem de Che Guevara ("El Guerrillero Heroico", foto presente na exposição) hoje estampada em camisetas, biquínis, chaveiros e toda espécie de badulaque da era pós-industrial.
"Por conta do embargo, os fotógrafos cubanos tiveram de aprender a economizar fotogramas. Não dava para clicar 20 vezes a mesma cena (...) desenvolveram um perfeccionismo", teoriza a co-curadora cubana. Filho de Oswaldo, Roberto Salas é um dos poucos fotógrafos da mostra ainda vivos. Como o pai, seguiu de perto os passos dos revolucionários e contribuiu para a documentação iconográfica do período. Problemas familiares o impediram de vir ao Brasil, mas nove de suas imagens integram a exposição gratuita.

Intercâmbio
A montagem da mostra é a primeira parceria entre o Senac e a Fototeca cubana, mas a idéia de ambas instituições é implementar o intercâmbio entre a produção fotográfica dos dois países. A Fototeca prepara-se para trazer no ano que vem uma segunda mostra - de fotógrafos contemporâneos-, e o Senac ajuda a mapear nomes brasileiros para uma coletiva em Havana, marcada também para 2007.
Amanhã o Senac realiza um debate sobre fotografia épica com Socarrás e membros da instituição. O evento acontece às 15h e as inscrições podem ser feitas pelo site www.institutomidiaeartes.com.br/epicacubana.

A ÉPICA REVOLUCIONÁRIA CUBANA
Quando:
abertura hoje, às 19h30; de seg. a sex., das 9h às 21h; sáb., das 9h às 16h; até 18/8
Onde: galeria Senac Lapa Scipião (r. Scipião, 67, SP, tel. 0/xx/11/3866-2500)
Quanto: entrada franca


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