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Photo España-06 desbrava a natureza
Nona edição do evento, que acontece em Madri, mostra a tênue barreira entre documental e o artístico
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MADRI
Natureza é o tema da nona
edição do Photo España, evento anual que acontece em Madri e arredores, até o próximo
dia 23. Mas é a natureza da fotografia documental que parece estar em xeque nas 62 exposições de fotógrafos de 33 países espalhadas pela cidade.
Assim como nos dois últimos
anos, a curadoria-geral de Horacio Fernández se pautou pela
fotografia estritamente documental, em detrimento de
abordagens mais experimentais. Estranha a opção, já que
hoje o limite entre documento
e arte está cada vez mais tênue.
Karl Blossfeldt (1865-1932),
no Centro Cultural Conde Duque, é o contraponto histórico
mais importante a contemporâneos como o dinamarquês
Olafur Eliasson, o canadense
Edward Burtynsky e a japonesa
Rinko Kawauchi, entre outros.
O brasileiro Caio Reisewitz é o
único latino-americano selecionado pelo curador para a seção oficial do evento, restrita a
25 mostras.
Blossfeldt fotografou no início do século passado detalhes
de flores, folhas e frutos para
exemplificar as relações simétricas e matemáticas contidas
na natureza. O olhar, objetivo e
científico, revelou-se depois,
em notáveis composições de
formas, linhas e volumes que
tendem a uma quase abstração.
Impossível classificar
Documental ou artístico? Na
verdade ambos e nenhum. Tentar enquadrar a fotografia, sobretudo a contemporânea, em
classificações totalizantes não
é mais possível. O documental
tende cada vez mais ao subjetivo e a fotografia "artística" vale-se mais do documental, haja
vista a produção de Reisewitz,
representante do Brasil nas últimas Bienais de Veneza, São
Paulo e Buenos Aires.
Fortemente inspirada na
produção contemporânea alemã, Reisewitz ocupa dois andares da Casa de América com a
mostra "Reforma Agrária". A
luz bem estudada e a composição clássica e sintética permitem ao espectador uma observação bastante detalhada.
Na série "Aquidauana", o
brasileiro fotografa barracos de
sem-terra assentados sobre a
terra vermelha pós-desmatamento. O barraco é construído
com pedaços de plástico, metais e lona, estruturado por ripas de madeira. Ou seja, a madeira que da terra brotou a ela
retorna após seguidas intervenções do homem. A árvore
derrubada ressurge em pedaços que expõem a fratura do
contexto sócio-político e econômico do país. A necessidade
de expansão do homem implica
necessariamente num atentado contra o ambiente.
Na mesma linha seguem as
três mostras abrigadas sob o título "Madre Tierra", no Centro
Cultural de la Villa, de Burtynski e Kawauchi além do britânico John Davies, que segundo o
curador, formam o eixo conceitual do evento. As imagens de
Burtynski flagram a ação do homem transformando e degradando a natureza, em grandes
obras de engenharia civil. Frases e legendas simplistas sobre
a preservação do planeta, porém, tornam seu discurso monótono, "ecochato". Davies vai
na mesma linha fotografando
num preto-e-branco formal e
tecnicamente impecável a paisagem britânica na era pós-industrial.
Para além da denúncia, gênese da fotografia documental, há
a possibilidade de se enveredar
pela relação do homem com os
ciclos da natureza. A poesia
também pode ser um pungente
gesto político.
O jornalista EDER CHIODETTO viajou a Madri a
convite da Galeria Brito Cimino
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