São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2006

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NINA HORTA

O livro de cozinha preferido

Todo mundo tem o seu, o que abriu o interesse, ou o que o acompanhou nos primeiros passos do fogão

POR VOCÊS , leitores, eu ficaria escrevendo sobre comida de trens o resto da vida, mas não dá. Hoje o assunto são os livros ainda não traduzidos no Brasil.
A "Book Review" do "New York Times" dedicou o suplemento inteiro a livros de cozinha recém-publicados, "The Food Issue", mas reserva uma reportagem para "Qual é o seu livro de cozinha, esgotado e preferido?". Pergunta feita a chefs e "foodies", gente que gosta do assunto. E todo mundo tem um livro preferido, geralmente o que te abriu o interesse para o assunto, ou o que te acompanhou nos primeiros passos do fogão. Qual é o seu?
Não se esqueceram de um cantinho para a nutrição e um livro pelo menos para aberrações alimentares, como no caso de pessoas que ganham a vida, e muito bem, tomando parte em concursos de quem come mais e mais depressa. Pizzas, hot dogs, tudo vale.
Vamos aos recém-lançados: "Two for the Road" é escrito por marido e mulher, Jane e Michael Stern, um casal que apareceu nos anos 70 com um plano na cabeça que lhes pareceu fácil. Escrever sobre absolutamente todos os restaurantes de estrada americanos. Estenderam um mapa na mesa da cozinha, entraram no carro e começaram a saga de tortas, pizzas e comida regional que andava esquecida na época.
Para quem viaja pelos EUA, nada melhor do que os livros exaustivos deles, com descrições detalhadas e bem escritas dos diners. Eles também têm uma página na internet: www.roadfood.com.
O livro tem um pouco de memória, receituário, guia e muito bom humor. "Há uma relação direta entre a excelência da comida e o número de ilustrações de Jesus na parede." Sabem tudo sobre Jello, frango frito, cheesecake, macarrão com queijo, hambúrgueres e todo o resto.
E "My Life in France", que era esperado há muito tempo, é a vida de Julia Child, a cozinheira-ícone que ensinou os americanos a cozinhar comida francesa. É uma biografia escrita em primeira pessoa, mas por um sobrinho-neto, uma agradável história de amor pela França, sua comida e, principalmente, uma elegia à própria vida.
Gael Greene era crítica de restaurantes e está lançando "Insatiable". Geralmente não gosto de livros que misturam a sensualidade da comida e da cama, mas Gael adora as duas coisas. Além de criticar os restaurantes, era repórter e dormiu com Elvis Presley, que depois de estar com ela no motel pediu à cozinha um sanduíche de ovo frito.
Quando criticou o Le Cirque nova-iorquino, teve um caso com o chef Jean Louis. Adorou o restaurante Le Bernardin e louva a habilidade com que o chef Gilbert LeCoze desabotoou seu sutiã. Não poupa elogios ao francês Jean Troisgros nas suas aulas de culinária no Vale de Napa e na cama. Nada como a idade avançada.
Hoje, depois de ter deixado a crítica, toma parte num projeto que ajudou a criar que fornece 2 milhões de refeições grátis por ano na cidade de Nova York. Anthony Bourdain, o chef-rebelde, escreve bem, é engraçado e irreverente. Agora, com seu programa de TV, tem muito sobre o que falar. Esse livro é principalmente sobre miúdos, sobre partes menos nobres dos animais, "The Nasty Bits", e um ou outro escorpião comido nos países por onde viaja.
É aquela velha história das horas difíceis de um restaurante e como são resolvidas as questões mais espinhosas. Gostaria de ter estes vídeos de viagem e queria muito ver o episódio brasileiro, mas não chegaram ao Brasil, que eu saiba. Bom, os livros das nutricionistas e os livros velhos, esgotados, preferidos por cozinheiros, ficam para outra vez. Ou entrem em crítica de livros, desde 1981, no site www.nytimes.com/books.


ninahorta@uol.com.br

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