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Cinema/Estréias
Filme exibe "turnê" da vida de Tom Zé
Altos e baixos, sucesso e conflitos do cantor com companheiros de geração são tema de documentário que estréia hoje
"Fabricando Tom Zé" segue giro pela Europa e traz depoimentos de Caetano e Gil sobre o período de "esquecimento" do cantor
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
O mais paulista e ao mesmo
tempo mais nordestino dos tropicalistas baianos, segundo a
boa definição de Arnaldo Antunes, chega hoje a 12 salas de cinema no país.
Ele é cheio de arestas, diz Arnaldo no filme. "Um contraponto constante; ele sempre
quer fazer um contraponto a
tudo", afirma Decio Matos Jr.,
diretor de "Fabricando Tom
Zé". Seu documentário segue o
cantor e compositor por uma
turnê na Europa em 2005, enquanto entrevistados vão tentando esclarecer o "biografado"
para a platéia. Tudo vai bem,
formal e ortodoxo até que a
banda chega ao festival de
Montreux.
Passagem de som, uma tentativa de ensaio, e Tom Zé e os
músicos não estão satisfeitos
com a equalização. Ele tenta se
fazer entender. Os técnicos locais parecem resistir a aceitar
qualquer pedido de mudança
feito pelo brasileiro. Um deles
sobe ao palco e age de forma
frontalmente arrogante.
Após um chilique (justíssimo) de fazer inveja a Caetano
Veloso, Tom Zé quase sai no
braço com o rapaz. Adiante no
filme, ele e platéia vão se desentender, receberá vaias, para só
no fim, já em Paris, reencontrar
as graças do público.
Paralelos
O que é narrado paralelamente a isso não é uma história
muito diferente: a da carreira
de Tom Zé, seu sucesso inicial
com o tropicalismo, o esquecimento pelas gravadoras simultâneo ao sucesso pop de Gilberto Gil e Caetano, seu ressentimento, a redenção final pelas
mãos de David Byrne, que o redescobriu para o mundo e para
o Brasil.
Matos Jr. diz que o efeito é
deliberado. "A linha da turnê
corre de forma linear. Fui filmando. Quando voltei e me dei
conta, achei perfeito. Aparece
em paralelo a linha narrativa do
filme e a da vida dele."
O ponto crucial aí é a antiga
história das responsabilidades
sobre o "esquecimento" de
Tom Zé, de seus discos, de sua
magra recepção popular quando radicaliza sua pesquisa na
música brasileira.
Para Gil, no filme, o afastamento de seus antigos companheiros se deu em grande medida por um retraimento de
Tom Zé no momento da volta
do hoje ministro e de Caetano
de Londres. Esse, por sua vez,
se pergunta: "Por que ninguém
disse nada? Por quê?". "É evidente que todo mundo tem sua
dose de egoísmo. Às vezes podia ser mais fácil não ter esse
complicador que era o Tom Zé,
entendeu? Há algo de mesquinho, talvez inconscientemente,
na atitude nossa."
A participação da dupla baiana foi motivo de briga entre o
diretor e seu personagem. Tom
Zé diz que não queria que fossem ouvi-los sobre o velho assunto. "Fiquei muito aborrecido quando ele disse que ia entrevistá-los. Tinha pedido para
não incomodá-los. Todo mundo que vem me ver me usa como passo para chegar a eles."
Estremeceu-se ali uma relação que começara bem. Esse é o
primeiro longa de Matos Jr., 27,
que estudou cinema na Universidade de Nova York. Procurou
Tom Zé, que disse ter achado
interessante aquele grupo de
jovens "de classe média provida" dispostos a trabalhar "em
vez de ficarem estragando o dinheiro do pai". Ele assistiu depois ao filme pronto e, como
público e cantor, os dois fizeram enfim as pazes.
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