São Paulo, domingo, 13 de julho de 2008 |
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O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo. Mônica Bergamo bergamo@folhasp.com.br
Corra, Glória, corra
De férias há sete meses, Glória Maria adota rotina intensa de exercícios, quer lançar livros e CDs e diz não sentir falta do "Fantástico", pois não gostava mais de "fazer aquilo"
Uma vez por semana, Glória, que já rodou o mundo, faz aulas de inglês para se manter afiada na língua. Jogada no sofá da sala de seu apartamento, no Leblon, ela pergunta à professora: "Como se diz "muito mais bonito que ...'?". Glória quer contar à "teacher" detalhes sobre o ator americano Todd Rotondi, com quem teve um rápido affair em junho. "É "better good-looking guy'", responde a professora. Depois que deixou a televisão, Glória encheu seu dia de exercícios físicos. Todas as manhãs, ela caminha na orla. Três vezes por semana, tem aula de ioga. Nas outras duas, faz pilates. Todas as tardes -inclusive aos sábados -, recebe a visita de um personal trainer. "Quando você tem 24 horas à disposição, acaba achando que tem 72", diz ela no café da manhã de uma sexta-feira, devorando omelete de clara de ovos com tomate, salsinha e peito de peru - sem sal, porque "infiltra líquido nas células". Toma "mais de cem pílulas por dia" e faz até sopa com ninho de passarinho trazido da Tailândia para rejuvenescer. Consome só 80 gramas de carboidratos por dia -liberados pelo professor de ginástica. No almoço, ela comeu alface, inhame cozido, tiras de frango, brócolis e espinafre. No percurso até Ipanema, onde visitará a sobrinha, Glória tenta resumir os últimos 30 anos de Rede Globo em um título de reportagem. Silêncio. Cinco longos minutos depois, com lágrimas nos olhos ela declara: "O caminho da glória". E a nova fase? "Brincando de viver. Mesmo. Estou, tipo, na hora do recreio. E pedindo a Deus para que a sineta que chama de volta à sala de aula demore muito para soar. Levei um susto enorme quando vi que já se passaram mais de seis meses [desde o início dos dois anos sabáticos que acertou com a emissora]. Estou até pensando em pedir mais férias." Glória interrompe a conversa para telefonar para Julia. "A madrinha tá chegando". "Não tive filhos pra me dedicar à carreira. Sem reclamações. Não mudaria uma vírgula na minha história. Imagina, minha perspectiva era ser professora primária. E olha aonde cheguei." A sobrinha, para ela, acabou se transformando "na minha filha de verdade. O sentimento que existe entre nós não tem igual". Ela visita Julia todas as tardes para dar a ela aulas de francês. A garota abre a porta de pés descalços e com a língua azul por causa do chiclete. "Ela quer herdar tudo o que é meu", diz Glória, abraçando a menina. "Não. Só quero os óculos, os sapatos Prada e os vestidos", diz Julia. Glória Maria ajudou a escolher o colégio em que a menina foi matriculada, é consultada pela família na hora de aprovar viagens e chega a mandar vigiá-la no shopping quando sai com as amigas. Tenta se meter também com o visual da afilhada. "Você viu? Ela está com as unhas dos pés pintadas de vermelho. Quase enfartei!" Julia afirma que não sente falta da madrinha no "Fantástico". "Eu nem via. É chato." Glória também não tem passado por perto do aparelho. "Imagina que eu vou sentar no domingo para ver "Fantástico'! Espero que a Patrícia [Poeta] faça bem [o programa] a vida toda. Ela é competente. Eu é que não gostava mais de fazer aquilo. Minha vida estava triste. E uma coisa é deixar, outra é ser deixada. Fizeram de tudo pra eu não sair. Por eles, voltava amanhã." A própria Glória admite que "é difícil acreditar" nos fatos que ela narra. "Mas é verdade. É que as pessoas falam o que querem. É como no caso do Ronaldo ou da Isabella [Nardoni]." E finaliza: "O problema de a audiência estar baixa, eles lá sabem o que é. Não era eu. Tanto que está baixa até hoje". "Não tenho idéia do que quero fazer quando voltar a trabalhar. Vou partir do zero. Não quero recomeçar nada que já tenha feito. Eu não ando para trás. Vamos ver o que a vida vai trazer pra mim." Até o fim do dia, Glória ainda tem um encontro com a cônsul da França, em Ipanema, outro com representantes de uma editora que quer publicar seus livros e uma conversa com uma estudante de jornalismo de Florianópolis que a escolheu como tema central de sua monografia. A apresentadora conta que começava a trabalhar como telefonista na Embratel quando conseguiu um estágio na TV Globo. Ainda estava no ginásio. Já jornalista consagrada, sofreu com o racismo. "O presidente [João] Figueiredo só me chamava de "aquela neguinha"." E "como é que a Glória Maria Matta da Silva virou a Glória Maria?", pergunta a estudante. "Eu tive que me inventar." Reportagem JULIANA BIANCHI Texto Anterior: Horário nobre na TV aberta Próximo Texto: Frases Índice |
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