São Paulo, domingo, 13 de julho de 2008

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Televisão/Crítica

"Crime Delicado" é inusitado e inquietante

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O crítico busca a perfeição. Não todos, talvez, mas com certeza Antônio Martins (Marco Ricca), o implacável crítico teatral de "Crime Delicado" (Cinemax, 0h; 14 anos), que é um filme muito estranho.
Estranho no melhor sentido, entenda-se: de algo inusitado e de certa forma inquietante. Para Martins, é como se a arte, em vez de nos aproximar das coisas, permitisse a ele continuar longe e fora delas. A crítica é, nesse sentido, um exercício de poder, mas sua função é ser securizante: fixar as relações do crítico com o mundo.
O seu encontro com Inês (Lilian Taublib) vai transtorná-lo de maneira profunda. Ele se dá num bar. No teatro, o olhar tem apenas uma direção: o espectador vê o espetáculo. Num bar, ao contrário, ele vê e é visto. É assim que encontra Inês: sendo examinado.
O que poderia pensar de Inês? Falta-lhe uma perna. O que pensam os críticos de pessoas a quem falta uma perna? Merecem uma estrela a menos? Nesse caso, como julgar as estátuas gregas, sempre mutiladas? Ainda assim, elas são nosso critério de perfeição.
É entre a contemplação e o juízo crítico que se instala Inês na vida de Martins: é como a obra inovadora, que transtorna maneiras habituais de olhar. Com a diferença de que Inês não é uma obra de arte. Ou é? Por que devemos sempre achar que obras de arte são coisas mortas? É discutindo essas coisas que Brant faz esse que é talvez seu filme mais maduro.


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