São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 2009

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Show de Roberto Carlos termina épico e bíblico

Chuva forte quebra roteiro de apresentação clichê e dá mais emoção ao evento

Cantor vai às lágrimas com fala do amigo Erasmo Carlos e traz apenas duas músicas como novidades de seu repertório tradicional

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Era meia-noite, Roberto Carlos estava todo de branco, entoava "Jesus Cristo", chovia muito forte, fogos saíam do topo do que já foi o maior estádio do mundo e cobriam 68 mil pessoas de fumaça.
Misturando fatores naturais e tecnológicos, foi bíblico o final do show de Roberto Carlos no Maracanã, na noite de sábado. Uma superposição de missa campal com épico de Cecil B. DeMille (atualizado por George Lucas).
As águas fartas que os céus enviaram para a maior apresentação dos 50 anos de carreira do mais iluminado artista nacional prejudicaram a festa, a transmissão da TV Globo, o próprio show e transformaram os convidados VIPs em baratas correndo desordenadas em busca de um abrigo.
Mas, talvez até por quebrar o script obsessivo-compulsivo do Rei, foi um grande evento, ponto apoteótico (ou apocalíptico) de uma trajetória em que as "tantas emoções" já tinham virado clichê de teleprompter.
E assim, aliás, começou o show, às 21h42. Após descer de um calhambeque azul, ele afirmou estar sentindo a maior emoção de sua vida, mas era claro que dizia/lia coisas já ensaiadas, como: "Se eu estiver sonhando, por favor não me acordem até o final do show".
Mas a chuva, ainda fraca em "Outra Vez", o sexto número, desabou sem perdão em "Caminhoneiro", o 11º, quem sabe um castigo pelo populismo de incluir esta música e, antes, "Mulher Pequena" -também jogou para plateia com "Amor Perfeito", balada profissional (Sullivan, Massadas etc.) que ele lançou em 1986 e hoje é sucesso axé de Claudia Leitte.
Recolheu-se, então, aos bastidores, consultou as bases (os contratos de patrocínio certamente não previam a interrupção) e, dez minutos depois, voltou ao palco, para tristeza dos que começavam a ir embora e alegria dos que gritavam: "Por que parou? Parou por quê?".
Foi profissional, mas retornou mais emotivo. A tensão transbordou em choro no duo com Erasmo Carlos, que lhe fez declarações de amizade para além desta vida, trocou abraços e lágrimas com seu irmão camarada e cantou com ele "Sentado à Beira do Caminho", além de "Amigo".
Novidades no repertório? Houve a volta de "Quando" (1967) e de "Do Fundo do Meu Coração" (1986). Mas, neste campo, só há uma cobrança que ainda parece fazer sentido. Diante da nova, definitiva e bíblica coroação do Rei do inconsciente nacional, por que não cantar "Quero que Vá Tudo pro Inferno"? Vai na fé, Roberto, que as águas carregam os supostos maus espíritos que uma palavra possa evocar!


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