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Show de Roberto Carlos termina épico e bíblico
Chuva forte quebra roteiro de apresentação clichê e dá mais emoção ao evento
Cantor vai às lágrimas com fala do amigo Erasmo Carlos e traz apenas duas músicas como novidades de seu repertório tradicional
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Era meia-noite, Roberto Carlos estava todo de branco, entoava "Jesus Cristo", chovia
muito forte, fogos saíam do topo do que já foi o maior estádio
do mundo e cobriam 68 mil
pessoas de fumaça.
Misturando fatores naturais
e tecnológicos, foi bíblico o final do show de Roberto Carlos
no Maracanã, na noite de sábado. Uma superposição de missa
campal com épico de Cecil B.
DeMille (atualizado por George Lucas).
As águas fartas que os céus
enviaram para a maior apresentação dos 50 anos de carreira do mais iluminado artista
nacional prejudicaram a festa,
a transmissão da TV Globo, o
próprio show e transformaram
os convidados VIPs em baratas
correndo desordenadas em
busca de um abrigo.
Mas, talvez até por quebrar o
script obsessivo-compulsivo do
Rei, foi um grande evento, ponto apoteótico (ou apocalíptico)
de uma trajetória em que as
"tantas emoções" já tinham virado clichê de teleprompter.
E assim, aliás, começou o
show, às 21h42. Após descer de
um calhambeque azul, ele afirmou estar sentindo a maior
emoção de sua vida, mas era
claro que dizia/lia coisas já ensaiadas, como: "Se eu estiver
sonhando, por favor não me
acordem até o final do show".
Mas a chuva, ainda fraca em
"Outra Vez", o sexto número,
desabou sem perdão em "Caminhoneiro", o 11º, quem sabe
um castigo pelo populismo de
incluir esta música e, antes,
"Mulher Pequena" -também
jogou para plateia com "Amor
Perfeito", balada profissional
(Sullivan, Massadas etc.) que
ele lançou em 1986 e hoje é sucesso axé de Claudia Leitte.
Recolheu-se, então, aos bastidores, consultou as bases (os
contratos de patrocínio certamente não previam a interrupção) e, dez minutos depois, voltou ao palco, para tristeza dos
que começavam a ir embora e
alegria dos que gritavam: "Por
que parou? Parou por quê?".
Foi profissional, mas retornou mais emotivo. A tensão
transbordou em choro no duo
com Erasmo Carlos, que lhe fez
declarações de amizade para
além desta vida, trocou abraços
e lágrimas com seu irmão camarada e cantou com ele "Sentado à Beira do Caminho", além
de "Amigo".
Novidades no repertório?
Houve a volta de "Quando"
(1967) e de "Do Fundo do Meu
Coração" (1986). Mas, neste
campo, só há uma cobrança que
ainda parece fazer sentido.
Diante da nova, definitiva e bíblica coroação do Rei do inconsciente nacional, por que
não cantar "Quero que Vá Tudo
pro Inferno"? Vai na fé, Roberto, que as águas carregam os supostos maus espíritos que uma
palavra possa evocar!
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