São Paulo, terça-feira, 13 de julho de 2010

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Suíça rejeita extraditar Polanski e liberta o cineasta após seis meses

Sem acesso a todo o processo, ministra alega problema técnico em pedido feito pelos EUA

Em 1977, juiz havia decidido que, se diretor confessasse os crimes, tempo em manicômio bastariam como pena

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

A Justiça suíça decidiu não extraditar o cineasta Roman Polanski para os Estados Unidos e libertou o franco-polonês, preso no país desde setembro do ano passado.
Polanski, 76, fugiu dos EUA em 1978 após ser acusado de drogar e estuprar uma menina de 13 anos na casa do ator Jack Nicholson.
Desde então, vivia na França, até que em setembro de 2009 foi a Zurique receber um prêmio num festival de cinema local. Acabou preso ao chegar ao aeroporto.
O cineasta, vencedor do Oscar de melhor diretor por "O Pianista", ficou encarcerado até 4 de dezembro, quando pagou fiança de cerca de R$ 7,5 milhões e passou para prisão domiciliar em seu chalé nos Alpes.
Até ontem, era monitorado por meio de uma tornozeleira eletrônica.
A Justiça suíça não entrou no mérito se Polanski é ou não culpado. A decisão foi técnica e deve provocar reclamação dos americanos.
Em entrevista ontem, a ministra da Justiça suíça, Eveline Widmer-Schlumpf, disse que não era "possível excluir uma possibilidade de falha no pedido feito pelos EUA".

SEM ACESSO
Na verdade, a Suíça solicitou aos EUA em março deste ano todos os papéis do processo contra Polanski, iniciado há 33 anos. As autoridades do país europeu queriam confirmar uma alegação dos advogados do cineasta.
Segundo eles, ainda em 1977, o juiz que cuidava do caso havia decidido que, se Polanski confessasse os crimes, os 42 dias que havia passado em um manicômio judicial já bastariam como cumprimento da pena.
Em maio, os EUA se recusaram a mandar os arquivos. Alegaram que precisam ser mantidos em sigilo.
Para Widmer-Schlumpf, se houve aquela decisão prévia do juiz, a Suíça incorreria em erro ao extraditar uma pessoa que já cumpriu pena.
A prisão de Polanski reacendeu a discussão sobre a influência que a vida privada de um artista tem sobre o julgamento de suas obras.
Muitos chegaram a defender que o talento inegável do diretor (que dirigiu "O Bebê de Rosemary" e "Chinatown", entre outros) deveria ser desprezado, e seus filmes, boicotados devido a sua conduta em 1977.
A vítima de Polanski, Samantha Geimer, era na época uma aspirante a atriz. Hoje, ela vive no Havaí com o marido e seus três filhos.

RUÍNA PELA MÍDIA
No ano passado, ela fez um pedido formal à Justiça de Los Angeles para que fossem retiradas as acusações.
"Toda vez que esse caso volta à tona, um grande foco se volta para mim, minha família e outros. Essa atenção não é nada agradável", disse.
Em uma entrevista dada em 1997, Samantha contou que naquele dia Polanski a fez beber champanhe e tomar parte de um sedativo após uma sessão de fotos dela seminua numa banheira.
Depois, afirmou, ele a deitou numa cama e fez sexo com ela. Samantha afirma que não resistiu por medo.
Após tantos anos, disse que não ter raiva do diretor. "Ele fez uma coisa horrível para mim, mas foi a mídia que arruinou a minha vida."


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