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ARTES PLÁSTICAS
Curador-geral do evento fala sobre mudanças para 2002
Bienal de São Paulo assume
vocação contemporânea
RODRIGO MOURA
DA REDAÇÃO
Enquanto os nomes da participação brasileira na 25ª Bienal de
São Paulo não saem, o evento
-vítima de adiamentos e polêmicas que ameaçaram poluir sua
credibilidade construída ao longo
de 50 anos- começa a mostrar
com mais nitidez o desenho conceitual que vai dar sua forma.
Entre as mudanças anunciadas
na semana passada à Folha por
seu curador-geral, o alemão Alfons Hug, está o fim dos núcleos
históricos que garantiram manchetes e filas às últimas duas edições da mostra, trazendo ao país
exposições de Picasso, Van Gogh
e Paul Klee, entre outros.
"Representar a arte contemporânea é a única vocação que uma
bienal tem", diz Hug, que embarca depois de amanhã para uma
viagem de prospecção de artistas
entre a Austrália e Ásia.
Dão lugar a esse modelo salas
dedicadas a artistas contemporâneos "consagrados" - Julião Sarmento, Sean Scully, Thomas Ruff,
Andreas Gursky e Jeff Koons.
Controversa pelo divórcio que
pode causar com o público leigo,
a extinção do módulo histórico
tem boa aceitação entre outros
críticos e curadores. Ivo Mesquita, curador do MAM-SP, concorda com a mudança. "Não faz sentido fazer salas históricas, quando
os museus devem se ocupar disso.
Sempre fui crítico dessas exposições. Viram um "pot-pourri" sem
contextualização, alimentam um
mito para o público", diz.
Mantida a proposta temática de
dividir a curadoria entre 11 metrópoles -que dão o nome de
trabalho da mostra, "Iconografias
Metropolitanas", ainda sujeito a
mudanças-, os artistas indicados pelos curadores começam a
ser conhecidos (leia quadro ao lado), dando uma visão do que o
evento vai representar em termos
de tendência.
Leia abaixo entrevista com Alfons Hug, na qual o curador comenta as novidades da próxima
edição de um dos principais eventos de arte contemporânea do
mundo, prevista para 2002.
Folha - Esta edição da Bienal vai
trabalhar com núcleos históricos?
Alfons Hug - Não está previsto.
Há algumas salas especiais, onde
estão artistas contemporâneos, e
nessa lista entram alguns artistas
brasileiros mais consagrados,
também escolhidos pelo Agnaldo
Farias [curador da representação
brasileira", de outras gerações.
Nunca fui a favor do núcleo histórico. Mesmo porque os museus
estão fazendo este trabalho: temos a mostra do Reina Sofía na
Pinacoteca, as exposições no
Masp, no MAM, na Faap. Há vários projetos históricos dos museus, e essa é a tarefa deles.
Folha - O sr. acha que a Bienal, ao
investir nesses artistas contemporâneos, volta à sua vocação?
Hug - É a única vocação que uma
bienal tem. São Paulo foi a única
Bienal do mundo que fez núcleo
histórico, com exceção de Veneza, que já fez um pouquinho. Isso
sem falar do lado financeiro. Não
sei se a Bienal teria condições financeiras, mesmo que quisesse.
Folha - O sr. acha que a Bienal pode perder visibilidade com isso?
Hug - Pode perder público, mas
não por muito tempo. É bom porque obriga o público a observar
melhor, todas as bienais fazem isso. Além disso, vamos ter alguns
monstros sagrados, como o Jeff
Koons, que não chega a ser histórico, mas é popular, consagrado.
Folha - Que tipo de critério norteou a escolha dos artistas com salas especiais?
Hug - O ineditismo é sempre critério. Nunca entendi por que o Julião Sarmento, um dos melhores
pintores europeus, nunca esteve
na Bienal. Mas, do ponto de vista
do conceito da cidade, talvez o Julião seja o que menos tem a ver. O
Sean Scully tem tudo a ver com
arquitetura. Trabalha a cidade de
maneira sutil. Prefiro isso à correria com o vídeo atrás da cidade.
Jeff Koons é conhecido como escultor, mas tem uma série recente
de pinturas grandes do ano passado. Os outros dois são fotógrafos
alemães, talvez os melhores.
Folha - Em termos de tendências
de linguagem entre as escolhas, a
pintura é uma delas?
Hug - Não. É uma preocupação
minha, mas não tem muito. Vai
ter muita instalação e objeto, e eu
vou tentar limitar os vídeos em
torno de 20%, 30%. Até porque os
vídeos trabalham um pouco contra o prédio, que recebe luz natural dos dois lados. Se você enche o
prédio de caixas pretas você trabalha contra ele. Gosto muito do
pavilhão quando ele está aberto,
você tira isso, ele vira um bunker.
Escultura no sentido tradicional
tem cada vez menos, alguma pintura e muita fotografia.
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