São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2008

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"Buscamos captar a atmosfera do lugar"

Em entrevista à Folha, Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa comentam a importância da transparência na arquitetura

Famosos arquitetos japoneses, autores do New Museum, em Nova York, e de filial do Louvre em Lens ganham exposição em SP


Divulgação
Museu de Arte Contemporânea do Século 21, de autoria dos arquitetos do Sanaa, em Kanazawa (centro do Japão)

MARIO GIOIA
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO

Em uma arquitetura pontuada por estrelas globais como o holandês Rem Koolhaas e o francês Jean Nouvel, os japoneses Kazuyo Sejima, 52, e Ryue Nishizawa, 42, sócios que comandam o escritório Sanaa, parecem ser os mais novos membros desses profissionais requisitados que assinam projetos mundo afora.
O prestígio veio depois de realizarem prédios de grande impacto na arquitetura contemporânea, como o New Museum, em Nova York, ou por projetos que são muito promissores, como a filial do museu do Louvre, em Lens, interior da França, chamando a atenção da crítica especializada.
No entanto, o público comum também parece aprovar sem cerimônia os espaços transparentes projetados pelo Sanaa, como os moradores da pacata Kanazawa, no interior do Japão, que enchem os corredores do Museu de Arte Contemporânea do Século 21, ou as "fashion victims" de Tóquio, que, carregando sacolas de grifes caras, visitam o prédio da Christian Dior em Omotesando, uma das avenidas mais badaladas da capital japonesa.
A partir de amanhã, os paulistanos poderão conhecer com mais profundidade os trabalhos do escritório japonês, quando será aberta para convidados, no Instituto Tomie Ohtake, a exposição "Sejima + Nishizawa/Sanaa: Flexibilidade, Transparência, Amplitude".
Com croquis, desenhos, fotografias e vídeos, a mostra terá como "estrela" uma maquete de grandes dimensões -6 m x 8 m- que representa a nova Escola Politécnica de Lausanne, na Suíça. O público deverá se sentar no chão para poder ver detalhes do modelo.
"Basicamente, temos as mesmas idéias nos projetos. Propomos criar ambientes contínuos, onde os limites entre exterior e interior sejam tênues, e isso pode ser obtido por meio de diferentes transparências", afirma à Folha Nishizawa, em um dos seus raros intervalos de trabalho em seu escritório (bastante bagunçado) em Tóquio. "É difícil explicar, mas sempre buscamos captar a atmosfera do lugar, entendida de uma forma bem ampla."
As idéias de Nishizawa dialogam com a teoria do veterano arquiteto Toyo Ito, que, em um de seus livros, "Arquitetura de Limites Difusos" (publicado na Espanha pela Gustavo Gili), defendeu a integração com o entorno (em especial, o da natureza), uma transformação do programa no espaço e a procura da transparência e da homogeneidade.
Sejima trabalhou no escritório de Ito em seus primeiros anos de profissão. Seria, então, uma seguidora de seu estilo no Sanaa? "Trabalhei lá em começo de carreira. Mas faz mais de 20 anos. É lógico que ele me influenciou, mas não sei exatamente como", diz ela.
Nishizawa busca dar exemplos práticos dos conceitos usados pelo Sanaa, como no museu em Kanazawa e no Pavilhão de Vidro, em Toledo, no Estado norte-americano de Ohio. "Em Kanazawa, fizemos uma forma especial, circular, para que se pudesse entrar no prédio de diferentes direções.
Há claras relações entre a arquitetura e o local onde o museu fica, criamos algo muito aberto e transparente", diz ele.
"O programa do museu era claro, haveria uma circulação pública, com café, livraria, auditório, e uma mais restrita, com as galerias. Mas não queríamos fazer algo duro, fixo, e as duas funções se misturam", conta Sejima. "Já em Toledo, a comunidade era bem menor, o projeto é mais intimista. Mas são similares", diz Nishizawa.

Arquitetura brasileira
Ao mesmo tempo em que se dizem "muito influenciados" pelo modernismo, deixam de lado uma de suas vertentes, o brutalismo e sua idéia de expor as estruturas dos prédios.
"Não nos preocupamos em esconder as estruturas, mas sempre queremos que elas sejam as mais finas possíveis, testamos seus limites. Por isso, trabalhamos duro com os engenheiros", afirma Nishizawa, fã de Oscar Niemeyer ("um dos mais importantes arquitetos para nós"), de Paulo Mendes da Rocha ("a Pinacoteca do Estado é muito interessante") e, em especial, da Casa de Vidro, de Lina Bo Bardi ("uma das mais bonitas casas que já vi").
A integração com o lugar da construção não impede que o Sanaa não procure criar marcos, mesmo em cidades já repletas deles, como no projeto do New Museum. "Tentamos criar algo novo em Manhattan, junto do que a cidade tem, até suas contradições", conta Nishizawa. "Em um terreno pequeno, fizemos um prédio bem vertical, que consegue criar relações com o que está em volta, mas que consegue dialogar com a grande paisagem horizontal da cidade", completa Sejima.


O jornalista MARIO GIOIA viajou a convite da organização da mostra


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