São Paulo, quinta-feira, 13 de agosto de 2009

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"Tenho vergonha de dizer que escrevo", diz atriz

Fernanda Torres estreia como autora de teatro no Rio e diz que seu conhecimento "é um queijo suíço, amplo e falho"

Texto da peça "Deus é Química" lembra "viagem" provocada por alguma droga para contar o que há "por trás de um baseado"

Rafael Andrade/Folha Imagem
Fernanda Torres, que diz ter aprendido a escrever trocando
e-mails com João Ubaldo Ribeiro


AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO

"Eu sei o horror que é uma atriz que escreve", disse Fernanda Torres a João Ubaldo Ribeiro quando consultou o escritor sobre lançar um livro de crônicas. Ouviu dele um "veja bem, minha querida, uma vez conheci uma menina. Ela cantava direitinho e quis gravar um disco. Foi uma tragédia".
A atriz ainda não lançou o livro, mas escreveu sua primeira peça -que, espera, João Ubaldo "não vai nem ficar sabendo". "Tenho vergonha de dizer que escrevo. Quem escreve é Shakespeare, Tchecov, eu não", diz Fernanda, 43, que estreia como autora de teatro com "Deus É Química", a partir de hoje no teatro dos Quatro, no Rio.
O texto levou três anos e "50 mil versões" até contar o que ela queria, ou seja, "o que existe por trás de um baseado". Fernanda escreveu a peça, que lembra uma "viagem" provocada por alguma droga, sem usar tarja preta ou maconha. "Quanto mais fui escrevendo, mais fui virando Jesus [risos]. Eu estou tão limpa na minha vida que agora eu posso fazer essa peça."
O ofício de escrever tem sido mais próximo da vida da atriz há pelo menos um ano, quando passou a assinar uma coluna de crônicas na revista "Veja Rio". Ela ainda faz parte do conselho editorial e escreve para a "Piauí" -o primeiro ato de "Deus É Química" está na edição de agosto. Fernanda também já escreveu um roteiro, de "Redentor" (2004), dirigido por seu irmão, Cláudio Torres.
Desde criança, conta, a estante de livros dos pais, Fernanda Montenegro e Fernando Torres, e os ensaios de espetáculos na mesa de jantar da casa a deixavam curiosa. "Meus pais nunca disseram nada, eles não eram de mandar fazer isso ou aquilo. Era por osmose", diz.
"Mamãe sempre escreveu muito bem. Meu pai gostava de falar, discursar. Esse ambiente da palavra me criou." Em 2008, quando o pai morreu, ela deixou o enterro, foi para casa e escreveu uma crônica.
A atriz, que "não leu os [escritores] cascas grossas" e que começou a visitar a literatura aos 22, com Flaubert, passou a escrever aos 28, quando comprou um computador em Nova York, "uma cidade que te estimula a escrever". "Como eu nunca fiz faculdade, sempre me achei meio ignorante. Meu conhecimento é um queijo suíço, amplo e falho, cheio de buracos", diz.
Num dos recentes e-mails que trocou com Ubaldo Ribeiro, autor de "A Casa dos Budas Ditosos", encenado por ela, os dois conversavam "sobre a vida e essas coisas", e o escritor terminou sua resposta com uma espécie de elogio: "Você melhorou muito. Quando nós nos conhecemos, você não escrevia".


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